Haland Guilarde
Especial para o Jornal de Brasília
De passagem pelo Distrito Federal após a prova de Interlagos, em São Paulo, e de olho na etapa final da Fórmula 1 deste ano, em Abu Dabi, Felipe Nasr tem curtido a cidade e feito agenda com patrocinadores. O brasiliense conversou com o Jornal de Brasília sobre a carreira, diz que pretende estar em uma equipe maior em 2017, falou sobre como os atentados em Paris devem afetar a rotina dos pilotos da Fórmula 1, o que gosta de fazer no tempo livre em Brasília e também de sua amizade com os pilotos.
Estreante na Fórmula 1 como piloto de provas, Nasr tem mais um ano de contrato com a escuderia suíça. No entanto, o brasileiro deixou claro que espera buscar o máximo de aprendizado na categoria para em 2017 alçar voos maiores.
Em sua temporada de estreia, já marcou 27 pontos. Quais são suas pretensões para o ano que vem?
Esse ano tem sido muito positivo. Estamos chegando para a última prova em Abu Dabi e olhando para trás vejo uma temporada de muito aprendizado e experiência adquirida. Me familiarizei com alguns circuitos que não conhecia. Ainda estou me acostumando no meio, melhorando relacionamento interno com a equipe e isso tem um valor muito grande. No geral foi um ano acima da expectativa, tanto minha quanto da equipe. Antes de começar a temporada já sabíamos das dificuldades que passaríamos. Sacrificamos muito o desenvolvimento do carro já pensando no ano que vem. O conceito do carro para 2016 é muito diferente, principalmente na pressão aerodinâmica, que precisa melhorar muito. Da minha parte vou usar a experiência, a maturidade e a parte técnica.
Dá para dobrar a pontuação em 2016?
Não dá porque só temos noção de que o carro vai ser bom ou não a partir do momento que a gente o coloca na pista. Podemos especular, mas na minha experiência adquirida, claro que penso em ter melhores resultados ano que vem, só não posso medir o quanto ainda. O objetivo continua sendo estar o máximo na zona de pontuação. Acho difícil brigarmos por vitória ou pódio, essa mudança de uma temporada para outra é complicada. Mas o carro vai dar um passo a frente sim.
Onde você se vê em 2017?
Meu contrato é até o final de 2016. Mas é lógico, quero um dia estar em uma equipe mais competitiva, brigando por vitórias, campeonatos, sem dúvidas.
Houve sondagens para sair?
Sim, houve, mas nada oficial. Mas é necessário cumprir o contrato. Depois de encerrado verei o que fazer.
O Lewis Hamilton é o piloto mais “midiático” da F-1. Gosta e pretende adotar o mesmo estilo?
Sempre fui um cara mais reservado. Mas acho que tem hora para tudo. As pessoas querem realmente saber quem é o piloto fora da pista, o que ele faz, a sua vida pessoal, os seus hobbies. Talvez o que o Hamilton faz seja bom até para a confiança dele. Isso é muito particular. Mas dentro da equipe, com patrocinadores, fazemos muitas brincadeiras para a divulgação das marcas. Por exemplo, gosto de pescar, jogar tênis e, às vezes, fazemos vídeos. Não necessariamente preciso fazer o que o Lewis Hamilton faz.
Como é a amizade com os pilotos? Com quem tem mais afinidade?
Amizade existe até um certo ponto. Tenho mais afinidade com alguns. O Massa me recebeu super bem na F-1, o Bottas pela amizade que fiz no tempo da Williams, o Button é um cara super simpático. Todos conversamos ali dentro, mas são poucos os momentos que a gente se encontra fora da pista. Lá dentro é todo mundo querendo chegar na frente e o espírito de competitividade é muito grande. Às vezes até rola, um jantar, algum evento, mas é difícil cultivar a amizade, até pela falta de tempo.
O que você costuma fazer quando está em Brasília?
Cheguei na segunda e fico até domingo, depois pego o voo para Abu Dabi. Costumamos chegar antes até para acostumar com o fuso horário. Mas aqui procuro manter a parte física. Fora isso vivo normalmente, pratico outros esportes, como o tênis, pesco. Fui ao show do Pearl Jam, sempre gostei das músicas deles e deu certo de eu estar aqui. Não sei se vai dar tempo, mas gosto de andar de kart quando venho.
Com a entrada na F-1 deu para manter a privacidade?
Deu sim, de certa forma. Mas aumentou muita coisa. Na F-1 aumenta tudo: cobrança, a responsabilidade, o assédio e a mídia. Acho bacana esse reconhecimento. Interlagos foi super bacana ver a torcida dando o apoio. Foi uma experiência única. A aproximação com os fãs foi excepcional.
O Autódromo Nelson Piquet ainda está parado. O quanto isso prejudica os pilotos daqui?
Ocasiona uma falta de oportunidade para a categoria, não apenas de Brasília, mas nacionalmente. Todos que estão ligados ao automobilismo ficam diretamente prejudicados. Comecei minha carreira aqui e até hoje considero um dos mais completos no sentido do aprendizado. O traçado ajuda demais, curvas de raio longo, médio, baixa velocidade. Isso foi fundamental para a minha base e poderia ser para outros novos pilotos. Espero que se resolva logo.
Os atentados em Paris afetaram muito a rotina na F-1?
Temos muitos franceses trabalhando na F-1 e todos sentiram muito. Mas é um momento delicado e de segurança. Todos saem perdendo com isso espero que haja um consenso para que mais pessoas não possam sofrer com essa onda de atentados. O mundo está em alerta, por isso acho que não chegará a nos atingir. Já até entreguei o apartamento que moro em Londres porque a temporada europeia acabou. Não estou pensando nisso no momento, embora seja solidário com as pessoas de lá.
Sua família é de origem libanesa, país vizinho da Síria. Tem acompanhado o noticiário político-social?
Estou por fora de toda essa questão política. E toda minha família já veio para cá.
O que o torcedor pode esperar do Felipe Nasr em 2016?
Um Felipe mais completo, mais experiente. É claro que preciso do fator carro também para me ajudar a buscar os resultados.