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Dinheiro, cultura e sucesso: os brasileiros no mundo "soviético"

Arquivo Geral

04/01/2011 14h39

Os craques do futsal brasileiro não têm a mesma pompa das estrelas do futebol, porém estão servindo como base na evolução do esporte nas antigas repúblicas soviéticas – como já ocorreu na Itália e Espanha. Mas o sacrifício é revertido em uma troca. Mesmo em locais com costumes desconhecidos, os representantes do país hexacampeão mundial gozam de benefícios importantes, tanto na questão financeira como na evolução profissional e até pessoal.

Durante o Desafio das Estrelas, que reuniu grandes craques brasileiros pouco antes da virada de ano, a reportagem da GE.Net conversou com três jogadores que aceitaram o desafio de atuar em países da antiga União Soviética. O goleiro Rogério, o ala Pula e o pivô Anderson são representantes da primeira linha do futsal e não se arrependem da experiência.

O caso mais emblemático é o de Pula. Aos 30 anos, o paulista começou a jogar futsal no Corinthians e chegou a migrar para o Sul do Brasil. Quando defendia o Carlos Barbosa, chamou a atenção de olheiros russos. O resultado: aceitou o convite para defender o Dínamo de Moscou.

Como não era reconhecido no país de origem, Pula observou a chance de realizar o sonho de atuar em uma Copa do Mundo. Assim, naturalizou-se russo e jogou o torneio de 2008 – foi o artilheiro do campeonato, com 16 gols, marcando inclusive contra a sua própria pátria. Em um nível competitivo, a Rússia caiu apenas na semifinal, justamente contra o Brasil.

“Eu não faço planos, Deus preparou bons momentos fora do meu país. Estou feliz, aprendi muito e devo bastante ao povo russo por ter firmado o meu nome no mundo futsal”, afirma o atleta, que está no leste europeu desde 2004 e já renovou o contrato por mais duas temporadas.

Pula está totalmente adaptado aos costumes locais ao lado de sua família: não reclama de frio, solidão ou de dificuldades na alimentação. Além disso, é enfático ao falar sobre o obstáculo da língua. “Falo bem o russo, já me viro legal, se não falasse depois de todo esse tempo seria ruim, não é?”, sorri o ala.

Campeão dos Jogos Pan-americanos-2007 e da Copa do Mundo-2008 com a seleção brasileira, o goleiro Rogério utilizou o futsal do Azerbaijão para se manter em atividade, já que vinha de um problema disciplinar no Brasíl. Aos 37 anos, ele assinou contrato com Neftci até maio de 2011 e atualmente vive em Baku, cidade portuária localizada às margens do Mar Cáspio e que, durante o mês de janeiro, apresenta temperaturas que variam entre dois e seis graus.

“O treinador dessa equipe é sergipano e perguntou se eu tinha interesse em atuar lá. Para a minha surpresa, é um lugar maravilhoso de se morar. A capital é boa, fui bem recebido e ficarei lá até maio. O nível do campeonato é muito abaixo do Brasil, mas você precisa estar feliz. O dinheiro também é considerável, dá para você balançar, sim”, revela o arqueiro, natural de Simão Dias (SE).

No Azerbaijão, Rogério diz que a presença de outros brasileiros – são seis companheiros de time – ajuda no combate à solidão. Agora, seu principal objetivo é retomar o espaço na seleção brasileira. Durante o Desafio das Estrelas, a reportagem flagrou o goleiro em uma conversa reservada com Marcos Sorato, o Pipoca, atual treinador do Brasil.

“A gente é amigo faz tempo, desde a trajetória do Mundial de 2004. Nós conversamos sim, até brinquei com ele que continuo por aí, não estou morto. Ele queria ver como eu estava. Estou em boa forma. O sonho não acabou”, exalta.

Outro que resolveu explorar um centro ainda em desenvolvimento do futsal é o pivô Anderson, que joga ao lado de nove brasileiros pelo Kairat Almaty, do Cazaquistão. Aos 34 anos, ele carrega no currículo a participação na Copa do Mundo de 2000, quando fez oito gols no vice-campeonato brasileiro.

“Eu falo que o futsal deste país está começando. A minha equipe é a maior potência do Cazaquistão, uma das melhores estruturas do mundo, tem até uma cozinha internacional com comida brasileira, mas a liga é fraca”, constata o atleta, que conta com um tradutor 24 horas por dia no clube.

Experiente, Anderson define o mundo do futsal como “ilusório”. Em busca de melhores salários, ele abriu mão, inclusive, de seu futuro na seleção brasileira. Por outro lado, o pivô justifica que conseguiu bagagem, ao lado de sua esposa, para apostar em outras atividades profissionais depois da carreira no esporte.

“A garotada que está começando pode achar que todos vão ficar ricos, mas são poucos que alcançam a independência financeira no futsal. O jovem precisa estudar, aproveitar as chances quando vai para fora, principalmente em países de primeiro mundo. Eu falo espanhol, um pouco de russo, inglês e italiano. Minha esposa é formada em design de moda, montou até uma grife. Ela ainda pode ensinar espanhol e fez administração em uma faculdade em Barcelona”, revela o jogador, que defendeu no Brasil times como Jaraguá do Sul, Vasco e Carlos Barbosa.

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