Mas muito além dos poderes políticos e ser a capital da República, Brasília abriga uma legião de fãs e adeptos do skate. Seja na modalidade street (skate de rua) ou longboard (com os shapes maiores, mais semelhante ao surf), atletas amadores e profissionais de todas as idades se dividem em inúmeros “picos” – locais para a prática – pela cidade.
Um dos idealizadores do Longbrothers, uma enorme “família” de skatistas que se reúne aos domingos no final do Eixão Norte, o atleta Eduardo Aprá, o Dudão, se enche de orgulho em ver a turma se multiplicar tão rápido.
“Começamos no Parque da Cidade e o longboard era mais raro, então quando a gente via alguém de longboard a gente chamava para andar junto. A intenção era formar uma turma”, relembra. A ida para o Eixão foi uma saída para adequar a turma que não parava de crescer e que competia por espaço com pedestres e ciclistas.
“Eu me sinto orgulhoso porque a gente criou um movimento. Se cada um fizer um pouquinho a sua parte, melhor para a cena local. O skate é uma família mesmo, embora exista uma intriguinha aqui, outra ali, todo o mundo quer estar junto”, explica Dudão, que é também atleta e integra a Federação de Skate da Capital.
Saiba mais
O Dia Mundial do Skate é comemorado desde 2004. A data foi promovida inicialmente pela International Association of Skateboard Companies (Iasc) e é celebrada em mais de 32 países no mundo.
Em Brasília, a data é comemorada no Museu da República, na área central da cidade, desde 2009.
O evento reúne inúmeras atividades ao ar livre. Muita música, artes visuais, fotografia e um tradicional rolê pela Esplanada dos Ministérios fazem parte da grande festa, que começa às 14h. O evento é gratuito.
Tem mulher na ladeira
A skatista Thais Yeleni Ferreira é atleta do longboard classic e compete com homens. “Como é uma categoria nova, não há divisão de gênero. “Isso é ainda mais desafiador”, declara a atleta, que ficou em segundo lugar na última Copa Centro Oeste de Skate.
Ela encara as ladeiras da Ermida Dom Bosco pelo menos duas vezes na semana. E quem a vê com tanta desenvoltura “surfando no asfalto”, não imagina que ela começou na modalidade aos 31 anos. “O que me levou a interessar pelo skate foi o pranchão, que é mais parecido ao surfe, sempre quis surfar”, recorda.
Pioneira do esporte na cidade, a educadora física e empresária Larissa Sampaio foi uma das primeiras a construir um bowl de skate na própria casa, no Lago Sul. Atleta com vários títulos, ela hoje tem a companhia da filha, Luiza Sampaio (19 anos), nos rolés de skate. “Antes eu tinha medo, mas minha mãe me incentivou e hoje é um momento mãe e filha”, diz Luiza. “O skate é a minha filosofia de vida. É prazer, amor, é liberação de toda a energia boa ou ruim. É uma terapia”, descreve Larissa.
Problemas nas pistas públicas
Nem só de flores é o caminho dos skatistas de Brasília. Existem hoje cerca de dez pistas públicas nas regiões administrativas do DF. Algumas foram desativadas, derrubadas. Outras precisaram de um apoio dos próprios skatistas para serem corrigidas e melhoradas.
Quem utiliza os espaços reclama que o governo não dá a importância devida ao esporte, que poderia ser uma alternativa de diversão sadia aos jovens. Por isso, a comunidade do skate ficou absolutamente desamparada com a desativação da tradicional pista de skate da Praça do DI, em Taguatinga.
Hoje, o local, que já foi palco de várias competições, é a casa de moradores de rua. “Já vivo aqui há dois anos”, diz o reciclador Marcelo Ramos de Oliveira, 33 anos. Ele e os amigos se embebedam na praça e até se recordam da pista que havia no local. “Aqui era muito tradicional do skate. Agora os jovens foram andar lá no P Sul”, conta um dos moradores de rua. “Disseram que seria uma praça para os casais. Mas que casais você vê aqui?”, debocha.
Morador da região, skatista e vendedor de uma loja tradicional de skate, na Praça do DI, João Victor, 19 anos, se surpreendeu com a derrubada do lugar. “Vieram aqui e destruíram tudo de manhã cedinho, era umas sete horas da manhã”, recorda, sobre a ação da Administração local no ano passado.
Um dos argumentos foi o de que o local não era utilizado. “A pista sempre teve gente, mas é claro, não havia ninguém às sete da manhã. Disseram que era para afastar os usuários de drogas. E hoje o local virou uma cracolândia”, lamenta o jovem. Ele pretende fazer um campeonato no local, utilizando uma pista removível de madeira.
Derrubada
O Skate Parque, foi derrubado há quase um ano, no dia 6 de agosto de 2014. O pista tinha um valor avaliado em R$ 400 mil e era o principal motivo de movimentação da praça da cidade. Segundo a gestão da época da Administração de Taguatinga, o pedido da derrubada partiu dos moradores da região.
Sem limites para a prática do esporte
Foi ainda no ano de 1983 que Renildo Lopes, o Certinho, começou a andar de skate. “Quando eu comecei, tudo era mais difícil. Encontrar peças, acessórios. Isso sem falar na discriminação do esporte”, recorda.
Com tanto tempo de skate longboard, ele desenvolveu um jeito peculiar de andar, e é considerado um dos skatistas de rolé mais estiloso. “Estilo é uma coisa bem pessoal que a gente vai adquirindo com a prática. Mas uma das dicas é andar com mais tranquilidade, suavidade, deixar se levar”, ensina.
E completa: “O skate dá aquela sensação de liberdade. Então é só você colocar as mãos para cima e deixar só o corpo trabalhar”, diz o veterano, que costuma descer ladeiras inteiras plantando bananeira, de cabeça para baixo.
Para ele, mais do que uma diversão, o skate pode ser uma excelente ferramenta social. “O skate me ajudou muito, se não fosse ele, eu não seria eu. Posso dizer que esse esporte me tranformou em um cidadão”, avalia.
Um dos organizadores da Copa Centro Oeste de Skate, na Ermida Dom Bosco, ele vê com alegria a disseminação do esporte.
“Hoje o skate cresceu muito, não só em Brasília, mas no Brasil. E aqui na cidade a evolução do esporte foi um fato ainda melhor porque conseguimos implantar em vários lugares as pistas de skate. Agora é desenvolver mais projetos para tirar as crianças da ruas por meio desse esporte”.