Uma mala cheia de roupas era tudo que a ginasta cubana Odalis Valerino tinha quando desembarcou no Brasil com o marido, há 30 anos. Ex-atleta da seleção de seu País, de 1978 a 1984, ela chegou para ensinar às crianças aquilo que sabia fazer de melhor.
Hoje, aos 52 anos, e trabalhando em uma escola particular há três, Odalis não esconde o amor que sente pelo Brasil. Sentimento que a fez correr atrás de documentos e registrar sua dupla cidadania. “Quando cheguei fui muito bem acolhida. A escola me deu total abertura, tanto que estou aqui até hoje. Quando vou de férias à Cuba, conto os dias para voltar”, diz a professora.
Para dar as aulas de ginástica rítmica, não é necessário muita estrutura. Um local coberto, chão liso, um tapete, aparelhos do próprio esporte (arco, fita, bola e maças) e as alunas. Tudo muito simples, porém difícil de manter.
Com o baixo investimento de patrocinadores, pela pouca visibilidade que o esporte tem, as atletas precisam, literalmente, se esticar para conseguir viajar e competir.
Na próxima semana, por exemplo, 15 competidoras irão a São Luís (MA) para o Torneio Nacional da modalidade. O programa Compete Brasília é o único recurso disponível apenas para as passagens – hospedagem, alimentação e gastos adicionais ficam de fora. E esta não é uma situação vivida apenas por suas alunas. Outras escolas, como a do Cassab – atuais campeãs do torneio regional –, vivem situação semelhante.
“Paitrocínio”
“O nosso plano B são os pais. Se eles não ajudarem, a gente não viaja. Além dos gastos da competição, eles devem arcar com as roupas e equipamentos importados que o próprio esporte exige”, calcula Odalis.
O collant glamuroso e cheio de brilhos usado pelas competidoras custa, em média, R$ 600 para cada atleta.
Para ajudar os pais, a pequena Eloisa Rodrigues, de 10 anos, economiza na mesada. Ela e as demais ainda vendem rifas de R$ 2. “A gente tem que se virar nos 30 e arranjar dinheiro do jeito que dá. A melhor maneira que eu posso recompensar meus pais é dando o meu melhor nas competições”, disse.
Saiba Mais
Pela primeira vez em sua história, o Maranhão vai sediar o Torneio Nacional de Ginástica Rítmica, a 18ª edição.
De acordo com Odalis, o público presente em competições do tipo é composto apenas pelos familiares e amigos mais próximos das atletas.
Esse é um dos fatores que dificulta o olhar investidor dos patrocinadores, principalmente por não ter visibilidade tão grande quanto outros esportes coletivos – futebol, vôlei e basquete.
Por serem, na maioria, menores de idade, grande parte das competidoras viajam com as mães.