Piloto com mais GPs na história da Fórmula 1, Rubens Barrichello quase trocou o volante pelo taco de golfe no final da última temporada. Depois de perder a Honda, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) tomou medidas para conter os efeitos da crise econômica global e planejou ações que ameaçam inviabilizar a próxima temporada. As consequências do período delicado são latentes na categoria chefiada por Bernie Ecclestone, mas afetam os pilotos brasileiros no mundo inteiro.
Na Ásia, João Paulo de Oliveira é o líder do Campeonato Japonês de Super Turismo, categoria que cortou os treinos das sextas-feiras e estabeleceu um máximo de 12 dias para testes durante o ano. O número de pneus de cada final de semana também foi reduzido. Para completar, os motores devem durar três corridas, uma a mais que no ano passado. Diante da crise, o brasileiro foi obrigado a rever seu contrato com a Nissan e sofreu uma redução de 20% em seus vencimentos.
“A montadora tomou a decisão de renegociar e quem não quisesse, tinha que se virar. Na verdade, não foi uma renegociação, mas sim uma redução de acordo com a situação. Não teve muita negociação”, explicou o piloto de 27 anos, conhecido no Oriente como JP. No entanto, ele garante que não chegou a cogitar a possibilidade de deixar a categoria. “Tenho uma imagem boa e uma carreira construída aqui. Para eu sair, teria que ser algo muito bom”, explicou.
Na Fórmula 3 Sul-Americana, que já abrigou nomes como Rubens Barrichello, Hélio Castroneves e Nelsinho Piquet, as equipes e pilotos também precisaram se adaptar. Por se tratar de uma categoria de aprendizado, a restrição de treinos é inviável. No entanto, as próprias equipes passaram a compartilhar horários nas pistas para baratear os testes. Já os promotores da modalidade agruparam as etapas internacionais na Argentina e no Uruguai logo após a prova em Santa Cruz do Sul para facilitar o deslocamento.
“Sentimos um clima de compasso de espera por parte das empresas, especialmente no início de 2009”, conta Dílson Motta, sócio-diretor da 63MKT, empresa promotora da Fórmula 3 Sul-Americana. “Nos períodos de crise, que comprovadamente são cíclicos, não nos resta alternativa senão arregaçar as mangas, usar a inteligência e maneiras criativas de se fazer mais com o mesmo, ou até com menos”, completou. Por outro lado, ele citou um recente acordo com a Red Bull, o possível aumento de carros no grid e o investimento para trazer os novos chassis Dallara como sinais de força.
No contexto da crise econômica, os jovens que fazem suas primeiras curvas no automobilismo internacional são alguns dos principais afetados. Victor Corrêa, de 19 anos, disputa sua temporada inicial na classe National da Fórmula 3 Inglesa. Os pilotos da categoria europeia que já foi frequentada por Jackie Stewart, Emerson Fittipaldi e Ayrton Senna viram alguns investidores desaparecerem. Já as equipes precisaram diminuir o valor do patrocínio exigido dos competidores.
“Para mim, as coisas mudaram bastante nesse ano e foi difícil arranjar patrocínio”, explicou o piloto da Litespeed. Ele conseguiu apenas 60% da verba que esperava para a temporada e precisou renegociar sua entrada na categoria. Victor Corrêa ainda conta com o apoio da Unifenas, presente desde o início de sua carreira. “Com o passar dos anos, eles foram aumentando esse apoio. Nesse ano, não foi conforme as nossas expectativas em função da crise. Como o preço das inscrições para os campeonatos não muda, a FIA não é tão afetada. As partes pequenas sofrem mais”, declarou.
Na América do Norte, Rodrigo Barbosa é o piloto da ELFF Racing, estreante e única equipe brasileira na Indy Lights. Assim como seu time, ele disputa a primeira temporada na categoria. Em função da inexperiência dos dois lados, o jovem de 20 anos enfrenta mais dificuldades do que previa. Pensando em atrair novos patrocinadores, ele esperava fazer uma boa performance na preliminar das 500 Milhas de Indianápolis, mas não conseguiu completar a prova.
“Estamos com um novo carro, um novo piloto, uma nova equipe. A falta de experiência é a nossa maior dificuldade”, explicou o brasileiro, que foi ainda mais prejudicado pela situação econômica. “Sem a crise, o investimento teria sido bem maior do que é hoje, principalmente na parte de engenharia, que é o que está complicando a gente”, disse. “Eu também escuto muita gente falando de desemprego”, acrescentou o morador da Carolina do Norte.
Atual líder da Stock Car na equipe Eurofarma/RC, o experiente Max Wilson deixou o País em 1996 para correr na Fórmula 3 Alemã e passou 12 temporadas no exterior, as últimas seis na V8 Supercars. Com 36 anos, o piloto, que já testou por Williams e Jaguar na Fórmula 1, retornou ao Brasil em 2009 após competir na principal categoria do automobilismo australiano, que também sente os efeitos da crise econômica global.
“Ainda tenho contato com várias pessoas na Austrália e sei que a situação está difícil, está naquela fase de adaptação. Eles têm falado que, para conseguir o mesmo valor de antes, estão enfrentando muito mais dificuldade em função da crise”, contou o piloto. Ele chegou a comparar a categoria australiana com a Stock Car. “Como aqui sempre existiu uma característica de controlar os custos, talvez o impacto não tenha sido tão grande como na V8 australiana”, disse.