O país do futebol, único pentacampeão, tremeu ao organizar a Copa do Mundo dentro de casa. A campanha decepcionante da Seleção comandada pelo técnico Luiz Felipe Scolari no recente torneio, marcada pela choradeira de seus astros dentro de campo, aumenta a pressão sobre os atletas de diferentes modalidades para os Jogos Olímpicos de 2016, a serem realizados na cidade do Rio de Janeiro.
A despeito da experiência, estrelas como o goleiro Júlio César, 34 anos, em sua terceira Copa do Mundo, e o capitão Thiago Silva, 29, demonstraram instabilidade emocional. Diante de milhares de torcedores, o lacrimejante time brasileiro chorou em momentos de tristeza, nervosismo e alegria, da execução do hino nacional aos instantes que antecederam as cobranças de pênalti contra o Chile, nas oitavas de final. Os primeiros gols da Alemanha na semi desmontaram psicologicamente a equipe, ainda abalada na decisão do terceiro lugar diante da Holanda.
O ginasta Arthur Zanetti precisa de ombros fortes para suportar a pressão durante os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, potencializada pelo fiasco futebolístico. O competidor de apenas 24 anos, especialista nas argolas, conquistou a inédita medalha de ouro em Londres-2012 e, no ano seguinte, repetiu o feito no Mundial da Antuérpia. Ele vem mantendo o alto nível durante o ciclo e certamente será uma das principais esperanças de pódio no evento de 2016.
“A cobrança por medalhas e a comparação com a Seleção de futebol já começaram. Já ouvi algumas vezes: ‘Olha, a gente confia em você, tem que trazer medalha, não vá fazer como o futebol’. Isso será um peso para os atletas, mas eu, pessoalmente, vou trabalhar para estar preparado e fazer a minha parte o melhor possível. Se a medalha vier como consequência, melhor”, declarou Arthur Zanetti em entrevista à Gazeta Esportiva.
O atleta lembra que na ginástica artística o Mundial de 2015 será classificatório para as Olimpíadas de 2016, mas já pensa em maneiras de evitar a catástrofe emocional que acometeu o time de Luiz Felipe Scolari. “Vamos repetir o trabalho psicológico que fizemos para Londres, tomando ainda mais cuidado, porque em casa a pressão vai ser maior, para que não aconteça o que aconteceu com a Seleção de futebol. É fundamental não deixar a pressão interferir no momento da apresentação, porque ela vai existir”, declarou.
Conhecido pela capacidade de mexer com o lado emocional de seus atletas para motivar o elenco antes das partidas decisivas ao longo da carreira, Luiz Felipe Scolari viu a estratégia fracassar na Copa do Mundo do Brasil. Ele chegou a colocar a psicóloga Regina Brandão em contato com o grupo antes e durante o torneio, mas foi criticado por especialistas na área por não oferecer autonomia à profissional.
Entre os atletas olímpicos, é comum encontrar adeptos do acompanhamento psicológico constante. Assim como Arthur Zanetti, o nadador Thiago Pereira será amplamente cobrado nos Jogos Olímpicos de 2016, já que ganhou a medalha de prata em Londres-2012 (400m medley) e faturou dois bronzes no Mundial de Barcelona-2013 (200 e 400m medley). Semanalmente, o atleta de 28 anos realiza sessões de orientação psicológica.
“É um detalhe que já venho trabalhando dentro da minha rotina de treinamento. O atleta não deve estar bem preparado apenas tecnicamente para a competição, mas também mentalmente. Dependendo da cobrança (em 2016), pode ser que atrapalhe um pouco. Porém, é algo com o que precisamos aprender a lidar. Nós temos que tentar fazer o máximo para que as coisas fora d’água não nos atrapalhem. Devemos também evitar ler noticias e comentários na Internet e em redes sociais”, disse Pereira.