Não é de hoje que a mulher lida com preconceito dentro do esporte. Da proibição a assistir um evento esportivo até o mais tolo convencionalismo em torno da “masculinização do corpo”, ela sofre resistência diariamente.
No último dia 1º, a brasiliense Letícia Farias foi eleita a musa do Taekwondo, em votação divulgada pela Confederação Brasileira da modalidade. Para ela – número 4 do ranking nacional –, vencer foi motivo de orgulho.
“Foi a primeira vez que ganhei. Acho legal para o crescimento do esporte, é uma forma de divulgação, e toda divulgação é válida”, disse a atleta que, assim como as outras 15 candidatas, enviou fotos à CBTKD e recebeu 40,6 % dos votos, com mais de sete mil acessos à página de votação.
Letícia admite gostar de tirar fotos e não nota empecilho em concursos como esse. A opinião dela, porém, é confrontada. Praticante do taekwondo há 15 anos e dona de um cartel títulos expressivos, como seis Campeonatos Brasilienses e vice nos Brasileiros de 2008 e 2009, Fabiana Oliveira entende não haver benesse esportiva neste tipo de ação.
“Não valoriza o taekwondo, valoriza a pessoa que ganhou. O esporte aparece, mas o foco maior é a beleza da participante”, opina Fabiana. “Nada contra a Lelê. É uma menina linda, treinei com ela durante um tempo na academia Awa. Sei que além de linda, é uma pessoa maravilhosa por dentro e uma ótima atleta.”
Há 10 anos no esporte, Karina Sampaio enumera os prós e contras. “Participa quem quer, então não vejo problema. Acho que existe isso por pura vaidade. Quem tem que aparecer nesse esporte é quem luta mais. Pode ser feia ou bonita. Mas ao mesmo tempo (o concurso) mostra que têm mulheres femininas e bonitas. Que não é só um esporte masculino ou ‘masculinizado’. Mulheres também lutam”, brada.
A polêmica não se prende ao taewkondo. Integrante da seleção brasileira de vôlei, Mari Paraíba – que já chegou a ser capa da Revista Playboy –, expôs ontem o machismo que ronda o esporte.
“A mulher no esporte primeiro é musa e depois atleta. Você tem que mostrar muito para ser respeitada”, disse, ao site globoesporte.com.
Vítima no Pan
Único esporte coletivo fora do Pan-Americano de Toronto, o hóquei sobre a grama feminino é outra vítima. Quarenta e seis atletas emitiram uma carta à Confederação Brasileira de Hóquei sobre a Grama (CBHG) reclamando de sexismo e preconceito.
“A preferência pela equipe masculina é vista há muito tempo. O gênero masculino sempre foi tratado como uma equipe, e nós como um ‘bando’. Expressões sobre nossos corpos e discriminação sobre diferenças físicas eram sempre ouvidas”, protestaram as atletas.
Versão Oficial
Veja a explicação da Confederação Brasileira de Taekwondo, enviada ao Jornal de Brasília. O texto é assinado pelo presidente Carlos Fernandes.
”A finalidade (do concurso) é mostrar para a sociedade em geral que o Taekwondo nunca foi um esporte machista ou que tirasse o lado feminino das mulheres. Mostrar que o Taekwondo é muito saudável para as mulheres, alem de ser um esporte o qual acrescenta às mulheres nesse mundo violento, um meio e um caminho para elas se defenderem quando necessário. Além disso mostrar também, claro, que esse esporte treina belas mulheres sem mesmo atrapalhar sua beleza e vaidade pessoal. Nenhuma resistência (das atletas participantes), salvo aquelas que estão disputando o ciclo olímpico e por desejo próprio não queriam perder o foco dos treinos. Marketing é caro, nosso esporte não tem dinheiro para essas ações, então temos que usar nossa imaginação.”