A vitória da queniana Maurine Kipchumba, contratada pelo Cruzeiro especialmente para a Corrida Internacional de São Silvestre, foi suficiente para mudar as convicções de Alexandre Minardi. Satisfeito com o triunfo, o diretor técnico de atletismo do clube mineiro pensa em fazer uma parceria permanente com a equipe Luasa.
Atraídos pelo calendário movimentado, pelos prêmios em dinheiro e pelo baixo nível técnico de algumas provas, os africanos passaram a dominar as corridas de rua no Brasil. Minardi combatia abertamente a presença dos estrangeiros, a ponto de sugerir à Confederação Brasileira de Atletismo (Cbat) um máximo de três representantes da África por evento.
Diante da reclamação dos atletas e técnicos nacionais, a Cbat resolveu limitar o número de estrangeiros por corrida no começo de 2009. Em provas da chamada Classe A-1, são permitidos no máximo três atletas por país, mas a entidade pode rever o limite a seu critério em eventos deste nível.
Para finalmente ganhar a São Silvestre depois de quase três décadas de tentativas infrutíferas, Minardi resolveu se render aos africanos e contratou dois atletas quenianos especialmente para a corrida junto à Luasa. Enquanto Maurine Kipchumba levou o Cruzeiro ao lugar mais alto do pódio, Joseph Aperumoi ficou em segundo.
A Luasa, dirigida pelo ex-maratonista olímpico Luiz Antônio dos Santos, bronze no Mundial de Gotemburgo-1995, trabalha com atletas de países como Quênia, Tanzânia e Etiópia em Taubaté. Após os resultados da São Silvestre, Minardi quer ampliar a parceria com a equipe.
“O excesso de africanos não é legal para os brasileiros, mas vamos ter que conviver com isso. Então, eu entrei na deles e vou fazer de tudo para formar uma parceria forte com a Luasa. Se depender de mim, o acordo já está feito. Vamos incrementar essa parceria do Cruzeiro com alguns quenianos estrelados”, disse.
A postura de combater a presença dos africanos rendeu alguns desentendimentos para Minardi ao longo dos últimos anos. Após ver os quenianos levarem a bandeira do Cruzeiro ao pódio, no entanto, o diretor técnico se diz interessado até em visitar o país.
“Valeu a pena investir nos africanos. Eu ainda não conheço o Quênia e também quero levar alguns atletas do Brasil ao país”, disse Minardi, antes de reiterar seu interesse. “Se depender de mim, a Kipchumba e o Aperumoi serão atletas do Cruzeiro em 2013”, declarou.
Luiz Antônio dos Santos também ficou satisfeito com a performance de seus pupilos pelo Cruzeiro e está interessado em ampliar a parceria com o clube mineiro. Contudo, ele condiciona um eventual acordo a uma negociação detalhada com Alexandre Minardi.
“Da minha parte, também há interesse (na parceria). Tenho consideração pelo Minardi, mas pensamos de maneira diferente. Para mim, ninguém vive só de vitórias. Ele tem patrocínio e bons atletas nas mãos, mas acaba perdendo alguns pela forma de conduzir. Estou disposto a fazer a parceria, mas temos que conversar muito”, disse.
A contratação dos africanos pelo Cruzeiro para disputar a São Silvestre, porém, não teria sido bem recebida dentro da própria equipe de atletismo do clube. Segundo Minardi, Ivanildo Pereira dos Anjos, o Gomes, torceu o nariz para os quenianos.
“Antes da largada, chamei o Gomes para tirar uma foto com a Kipchumba e o Aperumoi, mas ele recusou. Isso não pode, é ignorância! Ele disse: ‘você era contra os africanos e agora fica contratando eles’. E se eu não contratasse? O Cruzeiro perderia a vitória”, declarou Minardi.