Faça chuva ou faça sol o supervisor João Neto vai calçar o seu tênis e vestir uma roupa para malhar. Diferentemente dos demais “marombeiros”, ele prefere exercitar-se ao ar livre e com aparelhos inusitados, feitos de concreto, numa academia improvisada no Setor O.
Presente na QNM 10 há 14 anos, a academia Na Barra atrai mais de 200 adeptos que vêm das mais variadas cidades satélites do DF. O motivo de tamanho sucesso é explicado pelo próprio João.
“Aqui é ao ar livre e a gente conversa e interage com todo mundo. Como não é pago, aqui não tem gente metida como tem nas academias”, compara. Ele malha no local há dois anos e afirma que nunca sofreu qualquer tipo de lesão por causa dos aparelhos diferenciados.
No local tem de tudo. Desde pesos olímpicos a instrumentos mais elaborados que lembram muito os de academia. Todos criados pelo vigilante Ronaldo Lopes, o irmão Ricardo e mais um amigo. São eles quem monitoram o local todos os dias e pedem uma contribuição de R$ 5 aos frequentadores, num período de três em três meses, para manter o local.
“Com o dinheiro compro o óleo, tinta, correntes, faço a manutenção dos aparelhos e compro outros. Todos os dias trago água e uma vez por mês trago vitamina também”, conta Ronaldo.
Mais do que concreto
Além dos aparelhos fixos e da “gaiola”, o local tem outros pesos comprados com o dinheiro das contribuições.
Eles ficam disponíveis para o uso das 18h às 22h e depois são guardados no vestiário da administração da Ceilândia.
“Se eu deixar aqui as pessoas robam”, acrescenta Ronaldo. Ele conta que já teve aparelhos de concreto levados e, por isto, os prende com correntes ao chão.
Saiba mais
Além da Na Barra, outra “academia” parecida foi encontrada pela reportagem logo na entrada da expansão do Setor O.
O local tinha um peso olímpico feito de concreto e um puxador vertical feito de madeiras e rolamentos.
A “gaiola” da Na Barra foi doada e, no decorrer do tempo, foi aprimorada com instrumentos de malhação dos mais diversos tipos.
Ronaldo afirma que é muito comum ver policiais e bombeiros exercitando-se no local.
Treino sob sol ou sob chuva
O local é demasiado pequeno para comportar mais de 60 pessoas que passam por ali a cada turno. Não possui qualquer estrutura coberta e não oferece estacionamento ou bicicletário aos marombeiros que vêm de longe.
Há mais de dois anos Ricardo Lopes luta para conseguir apoio do governo ou administração do local em busca de melhorias pequenas que ajudariam os frequentadores.
“Eles (administração) fizeram um campo sintético aqui do lado, mas sequer mexeram na nossa área. É ruim porque o atleta vem e tem de enfrentar o sol forte ou chuva. Após as 22h eles cortam a iluminação, e essa hora, é quando tem mais gente aqui”, esclarece o vigilante.
Ele ainda afirma que a procura pela Na Barra é tão grande que pessoas saem das academias para conviver em grupo na pequena pracinha no Setor O.