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Julio Jardim

Brasília e elas em cena

Arquivo Geral

27/03/2017 11h29

Atualizada 10/04/2017 9h39

Espetáculo De Salto Alto, Céu e Concreto estreia no CCBB no mês de aniversário da capital

 

“A mulher tem o peso de viver e ser uma projeção de padrões. No entanto, está sempre tentando se encontrar. Brasília… Brasília nasceu de um projeto, mas há muito já se perdeu”. Este texto é debatido em um diálogo entre Brasília e Ella. Aliás, elas: a capital federal e as mulheres. A discussão vem à tona na véspera do aniversário da jovem cidade que, em seus quase 57 anos completados dia 21 de abril, vive uma crise imobiliária, uma crise de suas ruas e tesourinhas que já se tornaram apertadas para tantos moradores não previstos em sua fundação. Em paralelo, a personagem Ella (em alusão a todas as mulheres) entra em confronto com o que deveria ser, o que agradaria aos seus pais e, ao mesmo tempo, o que de fato gostaria de ser.

A perfeição idealizada (de Brasília e das mulheres), o debate e a fuga do pré-estabelecido conceito de felicidade ganharam vida e cores no espetáculo De Salto Alto, Céu e Concreto. O monólogo inédito, escrito e encenado pela atriz brasiliense Hanna Reitsch, estreará nos dias 13 (quinta-feira), 15 (sábado) e 16 (domingo) de abril e será reprisado no dia da capital, 21 (sexta-feira), 22 (sábado) e 23 (domingo) sempre às 20h, no Teatro I do Centro Cultural Banco do Brasil – CCBB (SCES Trecho 2).  Nos dias 28, 29 e 30 de abril e 5, 6 e 7 de maio a peça estará no Espaço Pé Direito – Vila Telebrasília (L4 Sul). Sempre às 20h e, aos sábados, sessão dupla às 17h e às 20h.

No mês do seu aniversário, Brasília será homenageada em cena neste espetáculo que tem à frente a sua própria dramaturga. Brasiliense e encantada por sua cidade, Hanna, 39 anos, identificou-se com o tema por ser ainda arquiteta e admirar a arquitetura das terrinhas candangas.

Para falar das mulheres, a inspiração veio lá de trás. Em 1990, ela criou a personagem Ella. A Ella surgiu como um conceito de uma sereia que trocou sua voz para ter pés para ir atrás de um homem e ser plenamente feliz.  Aliás, os pés são exaltados neste espetáculo, que usa e abusa de sapatos e patins para representar as ruas da capital do País e também para falar das prisões e amarras internas. Aquele sapato, que já não nos cabe mais mas insistimos em calçar. “Eu sempre tive uma fixação por pés, já tive pelo menos uns cem pares de meia e dois pares de patins de gelo. Fiz então uma associação com paidi e pódi, palavras gregas que significam criança e pé. O pé estaria então associado à criança interior, no sentido da nossa essência pura”, explica a atriz.

Conceito estabelecido, foi um pulo para ela fazer um paralelo com Brasília, um dos seus grandes amores. A atriz defende a cidade e se entristece quando falam que por aqui não existe convivência, já que a capital federal foi teoricamente pensada como uma cidade feita só para carros. “Isso não é verdade. O projeto de Brasília contempla uma incrível socialização, só que ele não foi completamente implementado. Inclusive o tema da minha monografia de pós-graduação em gestão urbana foi exatamente um questionamento: Mobilidade Urbana no Plano Piloto de Brasília, uma questão de projeto ou gestão?”, ressalta.

O espetáculo De Salto Alto, Céu e Concreto é uma realização da Secretaria de Cultura do Distrito Federal com patrocínio do FAC – Fundo de Apoio à Cultura e Secretaria de Cultura do Distrito Federal.

A cidade e elas

Imagine uma cidade perfeita e a mulher perfeita. Mas o que elas gostariam de ser, você teria coragem de perguntar? E se você fosse a mulher perfeita e simplesmente descobrisse que isso não diz nada sobre você? Teria coragem de largar tudo para recomeçar? De Salto Alto, Céu e Concreto foi inspirado nestes motes, nesta dualidade de uma (ou toda?) mulher e também de uma cidade que pulsa.

É assim que a peça dá voz a mulher ideal, aquela que será “feliz para sempre”, mas que se questiona sobre o conceito de felicidade. Ao mesmo tempo, Brasília, a capital que nasceu sobre o agouro de ser a terra prometida e tornou-se um Patrimônio Cultural da Humanidade. “Às vezes a gente gasta a vida procurando ser ‘feliz para sempre’ e esquece de ser feliz agora. Não existe fórmula pronta para ninguém, nem mesmo para Brasília. A felicidade é algo pessoal, não algo que alguém diz para você como tem que ser. Ela é uma conquista sobre nós mesmos”, destaca Hanna.

Na direção, Juana Miranda dá o tom. “Buscamos tocar o público feminino, sobre a importância da escolha, estar bem e lutar pelo o que gostariam de ser. Com certeza, falamos de empoderamento”, explica Juana, que também é atriz e bailarina. Esta parceria entre Hanna, Juana e Luciana começou em 2009, época que as três escreveram o espetáculo A Despedida, que estreou em 2010 e esteve no Festival Cena Contemporânea, em 2011.

 

 

Cenário em concreto

Já que é para falar de Brasília, outro destaque do espetáculo é o cenário assinado por Guto Viscardi e Marley Oliveira. Paredes brancas, tonalidades que variam do branco ao cinza e cubos em diferentes formatos dão esta sensação de profundidade e da cidade projetada e concretada.

A trilha sonora de Diogo Cerrado também compõe a magia com remixes de músicas de Raul Seixas, Caetano Veloso e violão ao vivo. A atriz Hanna Reitsch também cantará ao vivo.

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