Enquanto parte da mídia se preparava para explorar as nuances do drama hospitalar de Jair Bolsonaro, outro personagem entrou em cena e reescreveu o protagonismo do noticiário. No lugar da esperada mini série estrelada pelo cirurgião, boletins médicos e pela ex-primeira dama nos algoritmos da internet, a audiência nas redes sociais e imprensa foram arrebatadas pela aventura de Silvinei Vasques, ex-diretor-geral da PRF, que repetiu o modus operandi da pataquada de Bolsonaro que enfiou o ferro de solda na tornozeleira eletrônica.
Recentemente condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a mais de duas décadas de prisão por sua atuação no núcleo golpista, Vasques saiu do fim da fila do interesse nacional para mobilizar as atenções do Brasil. Reinando absoluto no noticiário, o ex-chefe da PRF achatou a exposição das imagens de Bolsonaro no hospital, numa época em que a tradição é o plantão das redações sem notícias relevantes.
Até porque, o drama da saúde Bolsonaro jamais seria páreo para uma história em que o primeiro capítulo trouxe uma fuga frustrada com direito a passaporte paraguaio falso, simulação de debilidade mental, rompimento de tornozeleira eletrônica e algemas no aeroporto de Assunção do paraguai.
Passando longe do interesse verificado nas internações anteriores desde o episódio da facada, essas novas cirurgias do ex-presidente quase caíram no esquecimento.
Sobretudo depois da madrugada em que a polícia do paraguai encontrou a tornozeleira eletrônica de Vasques, numa rodoviária de ciudad Del Leste. Resultado: a nova intervenção foi para o pé da página e o soluço do ex-presidente não foi embora, segundo um dos filhos de Bolsonaro, depois da cirurgia para o bloqueio do nervo frênico .
O mais novo capítulo das trapalhadas do ex-PRF fujão mobilizou atenções novamente, com a profusão de versões e narrativas sobre a tornozeleira de Vasques, deixada no banheiro de uma empresa de ônibus paraguaia. Segundo uma fonte do PL, a versão dominante indica que o fugitivo se libertou da tornozeleira em Santa Catarina, quando ainda não tinha certeza sobre a operação de fuga. Razão que, inclusive, fez com que o ex-chefe da PRF levasse a tornozeleira na mochila até o Paraguai, para o caso de uma decisão de desistência. Neste caso, o plano B de Vasques incluiria a volta para Santa Catarina, portando a tornozeleira com suposto defeito, para sustentação de uma narrativa que fosse menos gravosa que o flagrante de fuga.
Em poucas horas, mais uma vez, a foto de Michelle Bolsonaro acompanhando o marido no hospital foi substituída. Dessa vez pela imagem da tornozeleira de Vasques, nas principais capas e timelines.
Em outro efeito colateral, a trapalhada de Vasquez enfraquece a carta manuscrita de Bolsonaro, que pretendia anabolizar a candidatura presidencial do filho Flávio, entre os sinos de natal e o foguetório do ano novo. No lugar disso, o período de festas acabou trazendo de volta o fantasma das fugas dos chamados golpistas de ocasião. Assim, as trapalhadas de Vasques não nos deixou esquecer a conduta de figuras como Ramagem e Zambelli que, protagonizando fugas solertes, passaram a justificar toda e qualquer medida preventiva dirigidas ao ex-presidente Jair Bolsonaro e os demais condenados pela trama golpista.
O fato é que a narrativa estava pronta para desaguar numa torrente de comoção, no melhor apelo de solidariedade cristã. Mas até o destino do pit bull de Vasques foi mais interessante que as imagens de Bolsonaro no hospital, desde a madrugada do dia 26, quando o ex-chefe da PRF rompeu a tornozeleira eletrônica que monitorava sua prisão domiciliar em Santa Catarina.
No fim das contas, virou fumaça chance de restabelecer uma onda de comoção para descolar Bolsonaro de uma pauta negativa que, aliás, parece não ter mais fim. Mas amanhã é um novo ano. Como sempre, as esperanças se renovam, até para Bolsonaro.
Feliz 2026, pra todos! Entrando com pé direito, ou não.