Mais novo servidor a assumir o cargo de procurador-geral da Assembleia Legislativa do Estado de Goiás (Alego) – à época aos 38 anos – e atual presidente regional do partido Cidadania, Iure Castro foi o convidado desta edição do JBr Entrevista, do Jornal de Brasília. Ao programa o advogado contou parte de sua trajetória e de sua pré-candidatura ao Senado Federal em 2026.
Entre os assuntos abordados, Castro falou sobre a segurança pública, das pretensões do partido no âmbito local e federal, das dificuldades apresentadas pela política brasileira, em especial decisões da Câmara e do Senado, além de suas percepções sobre a eleição para a presidência da República.
O senhor foi o procurador-geral mais jovem da história da Assembleia Legislativa de Goiás. Como foi essa trajetória?
A carreira de procurador é de estado. Somos 23 procuradores e, nesta legislatura, eu tive a honra de ser o procurador-geral da Casa, sendo o mais novo da história. Hoje, ocupo o cargo de subprocurador-geral, que antes não existia. Deixei o cargo, uma vez que a posição não permite advogar e como sub, não tem impedimento. Nessa função, eu cuido do relacionamento com os próprios deputados. Eu brinco que cuido do PT ao PL. Também do relacionamento governamental da Assembleia com os demais poderes, respondendo a todas as demandas, especialmente ao Ministério Público [de Goiás], que exerce a função de controle do nosso estado.
O senhor conta que teve uma origem humilde. Como foi?
Brasília e Goiás são cidades irmãs e nasceram uma da outra. Minha família veio de Pernambuco e encontrou em Goiás nosso refúgio. É uma família que veio do analfabetismo, que era muito comum. Graças a Deus, eu fui o primeiro a romper o ciclo do ensino fundamental e do médio e ter feito uma faculdade. Ter concluído o curso de direito, ter prestado um concurso e hoje ser procurador do estado de Goiás. Hoje temos alguns primos que cursaram o nível superior. Três apenas, mas é muito para uma família 99% analfabeta. Digo que sou filho do Bolsa Família, do Renda Cidadã e de outras políticas públicas que ajudaram a elevar o Brasil, como o Universidade para Todos.
“Fui o primeiro a romper o ciclo do ensino fundamental e do médio e ter feito uma faculdade. Ter concluído o curso de direito, ter prestado um concurso e hoje ser procurador do estado de Goiás”
O senhor assumiu, recentemente, o Cidadania. Como o você prepara o partido para as eleições do ano que vem?
Eu recebi a missão de reconstruir o Cidadania no estado de Goiás. Estamos rodando todos os municípios, tendo eu passado por 117 deles, para mostrar que somos um partido neutro, que tem como característica o bom debate, a inclusão do goiano, do brasileiro como pauta principal, sem essa ideologia que não coloca comida na mesa. A mesma que não gera emprego, oportunidade e somente divide o Brasil. Então, o Cidadania vem com o projeto de ter chapa para deputado estadual, para federal, iremos apoiar algum projeto para o governo do Goiás e me colocando aí como pretenso a disputar o cargo de senador por Goiás.
Como o você está articulando sua candidatura ao Senado?
Estamos conversando com todos os partidos. Não temos nenhuma restrição. Na Assembleia, eu cuido de todos os partidos, mostrando que o bom caminho é o diálogo. Estou aplicando isso na política. Nunca disputei eleição, mas por uma necessidade, observando que estamos realmente carentes de boas soluções, bons personagens é que me coloquei à disposição do estado de Goiás para tentar elevar o nível do Senado Federal e colocá-lo no patamar que a sociedade merece. Sem desmerecer nenhuma pessoa, precisamos colocar alguém que, de fato, conheça o poder legislativo.
Como avalia a conduta do Congresso Nacional?
Ontem (quinta-feira, 6) mesmo a Câmara dos Deputados deu, mais uma vez, um tapa na cara da sociedade e dos mais vulneráveis. Ao invés de proteger crianças e adolescentes vítimas de estupro, o que a Câmara fez foi derrubar a resolução. Ou seja, elas que são vítimas de estupro a cada hora no Brasil, com uma média de 144 por dia, continuarão peregrinando em busca de um atendimento médico adequado mais digno. Isso, se acontece com as filhas deles, têm acolhimento, hospital particular. O filho do pobre não, pois vai para uma clínica clandestina de aborto, onde, muitas vezes, a menina morre. Dependendo da cultura do vulnerável, além de ser vítima do estupro, ela ainda apanha. Essa dissociação da camada mais pobre, a qual eu pertenço, da qual eu nasci que me provoca a andar pelo estado de Goiás demonstrando que o bom político não é aquele que tem um bom discurso, mas que defende a pauta social, a do povo e da sociedade.
“Isso, se acontece com as filhas deles, têm acolhimento, hospital particular. O filho do pobre não, pois vai para uma clínica clandestina de aborto, onde, muitas vezes, a menina morre.”
Como o senhor avalia a situação política do Congresso?
O Senado é a casa da experiência, do bom diálogo, do olhar mais público das pautas que são colocadas ali. É efetivamente o órgão revisor das pautas. O Senado caminhou muito bem em relação a PEC da Blindagem, pois parlamentar que defende a blindagem é aquele que defende a própria impunidade. A maioria dos deputados que votaram a favor, do que eu chamo de PEC da Bandidagem, respondem a processo por suspeita de corrupção, peculato, rachadinha, desvio por meio de emendas parlamentares. Não são deputados que estão preocupados com a institucionalidade do cargo, mas com o próprio crime que eventualmente tenham praticado. O Senado, ainda bem, chamou a responsabilidade ainda na CCJ – Comissão de Constituição e Justiça – e enterrou o projeto que, além de inconstitucional, era flagrantemente imoral, antiético e um desrespeito com o povo, que paga um Congresso que custa R$ 90 bilhões por ano. Fora as emendas parlamentares que nos custaram mais de R$ 200 bilhões em quatro anos. Esse custo daria para zerar o déficit habitacional.
O que você proporia, incialmente, se eleito?
Somos um dos países do mundo com o maior número de leis. Eu defendo um projeto, caso o povo goiano me dê essa oportunidade, não de legislar, mas “deslegislar”. Criar uma comissão para revisar todas as normas que o Brasil tem e começar a revogar muita coisa que não tem efeito nenhum na prática. Todas as vezes que nós observamos uma crise de emergência sanitária, seja de segurança pública, de imagem qual é a solução: uma nova lei. Muitas vezes sem observar qual será o efeito concreto, qual o efeito na prática. Temos por hábito ficar aumentando as penas, mas não tiramos da lei a progressão de regime, os indultos, as saidinhas de fim de ano que, em regra, representam fugas, porque alguns presos não retornam para o presídio, mas volta a cometer crimes e delitos. Eu brinco que meu maior projeto é pensar no Brasil e colocá-lo em pauta sem essa ideologia e conservadorismo hipócrita.
“Eu defendo um projeto, caso o povo goiano me dê essa oportunidade, não de legislar, mas “deslegislar”. Criar uma comissão para revisar todas as normas que o Brasil tem e começar a revogar muita coisa que não tem efeito nenhum na prática.”
De que forma seria isso?
Em Goiás temos um deputado da bancada conservadora. Não vou falar o nome em respeito aos parlamentares que não fazem parte desse tipo de lixo político. Ele está sendo acusado de pedofilia não contra meninas, mas com jovens garotos, e diz ser conservador. Então, você observa um ponto de hipocrisia. Ele é cristão, segundo ele, mas comete pedofilia com crianças, jovens garotos e, ontem, foi um dos parlamentares que votaram contra o aborto legal, que protege quem pratica a pedofilia, e estupra crianças. Olha o nível que estamos chegando na política, onde o pedófilo vota de forma escancarada contra o projeto que visa proteger as vítimas. Ele ainda foi um dos deputados que votaram a favor da PEC da Bandidagem. Precisamos romper, limpar e somente conseguiremos quando a sociedade perceber que a ideologia serve apenas para o eleitor, mas não para o político.
O que quer dizer com essa afirmação?
Agora, estamos vendo, no Ceará, o PL apoiando o Ciro Gomes, que era de esquerda e o outro de direita. Assim como no Rio de Janeiro, o Eduardo Paes indo para o PL. Partido Político, infelizmente, tornou-se time de futebol. Ali nós temos a militância que são os torcedores, o dinheiro do fundo eleitoral, temos a mídia, a publicidade e o elemento emotivo que nos afasta da razão, que é torcer para um lado ou para o outro.
O senhor acredita que essa é a causa da polarização?
Tudo é o efeito cognitivo. A partir do momento que eu falo que o time do Goiás é pior do que o Vila Nova – e eu torço para o Vila Nova – não consigo ver virtude no Goiás. Mas eu ando com meus amigos que torcem para o Goiás e assistimos jogos juntos. O Vila Nova é melhor do que o Goiás no meu coração, mas não na história, nos resultados e temos que saber reconhecer isso. Há virtudes dos dois lados: no lado Esmeraldino e no Vilanovense. No irracional, o Vila Nova é melhor, mas nós nunca disputamos a primeira divisão, nem grandes campeonatos, incluindo a nível internacional. Precisamos ser racionais e a política exige isso: racionalidade.
Como o Cidadania se prepara para as eleições de 2026?
A partir de um ponto de vista pessoal, de apoio ao candidato A ou B, vai depender muito de um alinhamento com a Executiva Nacional. Mas eu, Iure, gostaria de caminhar com o nosso ex-governador Marconi Perillo (PSDB). Ele foi um dos maiores gestores públicos que Goiás já teve e é o responsável pelo efetivo progresso do estado. Ele abriu ruas, levou infraestrutura, melhorou a saúde, melhorou a segurança pública, o desenvolvimento econômico do estado. Eu acompanhei isso.
E qual a projeção do Cidadania em Goiás?
O projeto é ter, no mínimo, dois deputados estaduais, dois federais e, se Deus quiser, um senador, no caso eu.
Por que essa preferência?
Eu tenho uma afinidade: minha família se alimentava pegando cestas básicas no Estádio Serra Dourada. Eram quatro a cinco horas aguardando uma cesta básica. Depois, o maior programa de distribuição de renda, o Renda Cidadã. Então, me lembro perfeitamente do meu avô e minha avó deixando de carregar as cestas nas costas e comprando seu alimento na esquila lá de casa. Isso trouxe uma maior dignidade. Foi esse programa que inspirou o maior modelo de transferência que temos hoje que é o Bolsa Família.
Na eleição do ano que vem a segurança pública deve nortear o debate. Qual a sua avaliação da situação nacional?
Política pública não pode ser de governo. Tem que ser de Estado. A partir do momento que enxergamos essa, que é uma das principais áreas do mundo, conseguiremos criar algumas disrupções. Por exemplo, o estado de Goiás tem a melhor segurança pública do país. Isso é mérito de Estado, dos servidores da Segurança Pública e não do governo.
Enquanto goianos, vocês se sentem seguros?
Nos sentimos extremamente seguros no estado, porque temos uma polícia – e aqui quero cumprimentar todos que fazem parte da segurança pública – que tem um mérito do serviço público. São eles que trabalham de forma organizada, técnica e profissional combatendo o crime organizado. A partir do momento que criamos conexões, com cooperação institucional, conseguiremos afastar o crime das ruas. Isso o estado de Goiás faz de forma muito eficiente. Mas lembrando: apesar de não sermos a polícia mais valorizada, temos os melhores servidores públicos do Brasil, em relação à segurança pública. A partir do momento que caminharmos para uma cooperação entre todos os entes: União, estados e municípios, teremos um sistema de inteligência maior, de investigação melhor para combater esse câncer na sociedade que é o crime organizado.
“A partir do momento que criamos conexões, com cooperação institucional, conseguiremos afastar o crime das ruas. Isso o estado de Goiás faz de forma muito eficiente”
Qual sua posição sobre o debate da PEC da Segurança Pública e o posicionamento de governadores de direita?
Eu não entendo qual a dificuldade do Congresso de analisar, pautar e votar isso. O problema do Rio de Janeiro é do estado ou da União? Um fala que é do estado e outro da União. A partir do momento que você aprova a PEC da Segurança dando maior responsabilidade à União, inclusive com mais investimentos, você demonstra que segurança deve ser cooperada. Eu não quero ter herói A, B ou C. Eu preciso de uma operação que seja coordenada, cooperação técnica e com participação de todos os entes: do município, do estado e da União. É assim que vamos conseguir vencer essa batalha. Agora, é terrorismo ou crime organizado? Depende. Tem horas que será tratado como um ou como outro. Com essa concepção, você poderá aplicar dois tipos penais aquele sujeito, àquela organização. Quando você trata apenas como grupo terrorista você retira um tipo penal e privilegia o crime organizado.
Como você percebe as possíveis candidaturas à presidência da República?
O Brasil, em todos os níveis, precisa pensar a renovação política, mas isso não será alcançado agora. Eu fico feliz com a possibilidade do Tarcísio de Freitas (Republicanos) vir candidato, do governador Ronaldo Caiado (União Brasil), acredito que será uma pessoa que elevará o debate. Fico feliz com o presidente Lula (PT) disputar uma nova eleição, sendo a quarta que ele pode sair vitorioso.
E sobre a polarização?
Acho que com o extremismo nós perdemos a possibilidade de colocarmos novos players, novos personagens com uma grande qualificação para discutir o Brasil real e a política brasileira. O cenário está um pouco contado, pois o Ciro será candidato ao governo do Ceará, Tarcísio acredito que não dispute. Acredito que alguns governadores possam vir, como o Ratinho Júnior (PSD), Eduardo Leite (PSD). Porém, as pesquisas estão mostrando uma possível reeleição do nosso atual presidente da República.