Menu
Bastidores
Bastidores

OS soluços de Bolsonaro

Com Bolsonaro atrás das grades, o tumulto doméstico escorreu para o partido e está desvirtuando rotinas, estratégias

Vladimir Porfírio

03/12/2025 5h00

michelle

Foto: Divulgação PL

O pé-de-guerra que tomou conta da família Bolsonaro desde a prisão do ex-presidente ameaça não só agravar os famosos soluços persistentes do detento mais célebre da PF, como também bagunçar de vez o coreto do Partido Liberal — que já vinha marchando no ritmo desafinado de uma crise anunciada.

A barulheira doméstica que atravessa as grades e chega à política reiterou o óbvio: a vida familiar do ex-presidente sempre funcionou na base da faísca. Agora, com Bolsonaro atrás das grades, o tumulto doméstico escorreu para o partido e está desvirtuando rotinas, estratégias e, sobretudo, a paciência da cúpula do PL.

Enquanto isso, seus filhos espalham aos quatro ventos a possibilidade de que a prisão leve o patriarca à morte, reclamando da cadeia, do suposto “aniquilamento psicológico” e da “destruição emocional” do pai — como se a detenção fosse um meteorito caído do nada. Mas há quem veja nos soluços uma outra narrativa.

Especialistas ouvidos sob sigilo afirmam que há consenso sobre o peso dos fatores psicológicos no agravamento de casos de soluço persistente. Em bom português: onde há conflito, há soluço. E conflito, ali, é o que não falta.

Nenhum tratamento resiste quando estresse, ansiedade, depressão e adjacências começam a comandar o corpo. E essas companhias, ao que tudo indica, devem fazer plantão ao lado do ex-presidente ao longo dos 27 anos e 3 meses de cárcere pela tentativa de golpe.

A prisão em si já basta para acionar esse gatilho. Mas as trapalhadas políticas da família — essas sim — funcionam como combustível para uma crise que se retroalimenta.

Não é de hoje que as explosões verbais de Eduardo Bolsonaro contra Valdemar Costa Neto e governadores aliados são apontadas como fontes de irritação suficientes para disparar crises de soluço, muito antes da PF ter o ex-presidente como hóspede.

Por isso, não surpreenderá ninguém na carceragem a multiplicação desses episódios de soluços na madrugada, desde que a crise político-familiar resolveu ganhar vida própria do lado de fora.

Somam-se aí os ciúmes mal disfarçados: o mau desempenho dos filhos nas pesquisas teria alimentado veto aos movimentos de Michelle Bolsonaro, hoje o nome mais competitivo da família para enfrentar Lula. Consta que, humilhada numa reunião do partido, Michelle deixou a sala aos prantos após ser desautorizada a atuar como porta-voz do marido preso.

E para não dizer que os problemas só acontecem na família Bolsonaro de dentro para fora, a justiça decidiu manter no ar um vídeo da ex-deputada Joice Hasselmann atacando Michelle Bolsonaro.

Nesse ambiente tóxico, o PL acabou perdendo o timing para explorar as dificuldades do governo no Congresso. Ao invés disso, afundou-se em reuniões emergenciais para conter incêndios internos — inclusive aqueles provocados pela própria Michelle ao criticar a aliança com o ex-governador Ciro Gomes no Ceará. Ela tomou uma reprimenda, mas deu sinais de que não aceitará o cabresto neste caso.

Enquanto isso, segue o cabo de guerra provocado pela indecisão de Bolsonaro sobre 2026. A direita espera um aceno, um sinal, uma seta, qualquer coisa. O relógio trabalha contra, e uma definição ainda este ano ajudaria a testar potenciais candidatos. Mas qualquer escolha precoce afastaria os preteridos, ampliando o isolamento do próprio ex-presidente — já evidenciado pela meia dúzia de gatos pingados solidários, que ainda estacionam nas redondezas da PF, onde Bolsonaro segue preso.

E, em meio à balbúrdia oposicionista, Lula — que não tá nem aí — convocou cadeia nacional na noite de domingo. Em tom triunfal, anunciou a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil e exibiu números positivos do governo como quem mostra boletim com todas as notas azuis.

No fim das contas, Lula terminou a noite de domingo provocando soluços sincronizados na oposição inteira. Sobretudo quando destacou, em rede nacional, a menor taxa de desemprego da série histórica, o ganho real do salário mínimo, o PIB acima das expectativas e a inflação em queda.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado