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(in) Formação

Saída pela direita?

De acordo com pesquisa do DataFolha, diminuiu o apoio dos brasileiros à democracia. Felizmente, a maioria de nós continua considerando que a democracia é o melhor regime de governo

Rudolfo Lago

02/01/2020 5h01

Atualizada 01/01/2020 22h54

A pesquisa divulgada ontem, primeiro dia do ano, pelo Instituto Datafolha reforça impressões perigosas. Mas que também servem para apontar para qual rumo político deve continuar seguindo o país neste ano de 2020 e nos próximos.

De acordo com a pesquisa, diminuiu o apoio dos brasileiros à democracia. Felizmente, a maioria de nós continua considerando que a democracia é o melhor regime de governo. Segundo o Datafolha, 62% dos brasileiros consideram que a democracia é sempre a melhor forma de governar. Em outubro de 2018, porém, quando foi feita a mesma pergunta, o apoio à democracia foi de 69%. Um outro dado que preocupa é que aumentou nove pontos percentuais a parcela daqueles que consideram que tanto faz se o governo seja democrático ou não: de 13% para 22%.

Para além das chances de retorno de uma ditadura, que o maior percentual dos entrevistados considera uma possibilidade remota, os dados do Datafolha reforçam uma constatação: o Brasil endireitou. Não no sentido de que tenha deixado de ser torto. Mas no sentido de que guinou à direita.
Infelizmente, com as seguidas interrupções que tivemos ao longo da nossa vida na nossa democracia, não conseguimos amadurecer na nossa sociedade a aptidão democrática. Adquirimos um sentimento paternalista com relação aos nossos governantes. Esperamos que eles sejam uma espécie de redentores com a capacidade de resolver todos os nossos problemas com a força das suas canetas.

Como nenhum deles, por melhor que seja, jamais terá tal capacidade, nos frustramos. E essa frustração nos leva a desprezar a democracia, imaginando que mais poder dará mais tinta à caneta.
Dificilmente, conservadores de países como os Estados Unidos, Inglaterra ou França diriam que tanto faz uma democracia ou uma ditadura. Os cidadãos de direita desses países, na sua ampla maioria, vão às urnas tentar eleger seus candidatos e perdem ou ganham, sabendo que ganhar ou perder faz parte do jogo. Mas, por aqui, infelizmente, o desapreço à democracia muitas vezes mistura-se com a tendência à direita.

De qualquer modo, o Datafolha mostra que tal percepção ainda é de uma minoria. O que importa é que o jogo segue democrático. Em um momento em que parece haver uma expressiva percepção mais à direita. E é isso o que transparece nos primeiros movimentos do xadrez eleitoral nessas primeiras horas de 2020.

Talvez nunca tenha havido tamanha profusão de candidatos de perfil mais conservador ensaiando a entrada no jogo da sucessão presidencial. A começar pelo próprio Jair Bolsonaro. Mas é pela mesma raia, com maior ou menor inclinação, que se ensaiam os governadores de São Paulo e do Rio, João Dória e Wilson Witzell. É por aí que vai o apresentador de TV Luciano Huck. Ou o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Mesmo o movimento de valorização do centro político, que se esboça, tem inclinação mais à direita. Nada indica inclinações antidemocráticas no presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), mas, do ponto de vista econômico, ele é, sem dúvida, um conservador.

Enquanto isso, o campo da esquerda segue tendo sua alternativa concentrada em um Luiz Inácio Lula da Silva que, como em 2018, continua impedido de disputar a eleição, barrado que está pela Lei da Ficha Limpa. Para onde, então, se reverterão os votos que não serão para ele? Terá Lula agora maior capacidade de transferir seus votos para outro candidato, talvez o mesmo Fernando Haddad, do que teve em 2018?

Além disso, outras opções de esquerda, como Ciro Gomes, do PDT, parecem pelo menos neste primeiro momento enfraquecidas.

O partido de Ciro não tem nomes visíveis fortes para a disputa municipal deste ano, como forma de ir pavimentando seu caminho.

Pelo campo da direita, há ainda um último fator importante. Se Bolsonaro não for capaz de colocar em campo no pleito municipal seu novo partido, o Aliança, assanha ainda mais as pretensões dos demais nomes à direita no sentido de ocuparem esse vácuo. Ao que tudo indica, o jogo de outubro será mais intenso pelo lado direito…

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