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Coluna Informação #074 – Um discurso cada vez mais derrotado

Mais ou menos na mesma hora que os senadores da CPI da Covid se reuniam em Brasília, reuniam-se também em Genebra, na Suíça, os representantes do Parlamento Europeu

Rudolfo Lago

30/04/2021 5h00

Atualizada 29/04/2021 23h39

Mais ou menos na mesma hora que os senadores da CPI da Covid se reuniam em Brasília, reuniam-se também em Genebra, na Suíça, os representantes do Parlamento Europeu. E, distanciadas quase 9 mil quilômetros Brasília de Genebra, as duas reuniões não traziam notícias nada boas para o presidente Jair Bolsonaro. Na verdade, ambas indicavam claramente que o discurso que Bolsonaro optou por adotar desde o início da pandemia se encontra cada vez mais derrotado. No plano externo, isso hoje parece indiscutível. No plano interno, diante do que mostram pesquisas de opinião e as seguidas filas de pessoas em todos os lugares para se vacinar, também.

Esse parece ser no momento o grande problema de Bolsonaro. Em uma reunião com seus consultores políticos na quarta-feira (28), ele foi aconselhado a não falar mais somente para as suas bolhas na internet. E a usar máscara, porque essa é a recomendação inclusive que vem sendo feita pelo seu próprio Ministério da Saúde.

O problema de Bolsonaro é como, a essa altura, reverter o discurso que faz desde que, no início da pandemia, embarcou em um avião vindo dos Estados Unidos no qual praticamente todos os integrantes da sua comitiva estavam contaminados. Bolsonaro fez uma opção naquele momento de negar a gravidade da covid-19, talvez influenciado por seu ídolo de pele laranja que então governava os Estados Unidos.

Agora, Donald Trump está derrotado por lá. E os Estados Unidos, com Joe Biden, começam a dar um baile no novo coronavírus. Com vacina, a manutenção das medidas de isolamento e os programas de desenvolvimento que Biden vem desenvolvendo, a presença laranja de Trump vai ficando cada vez menos expressiva. E o vilão internacional vai virando Bolsonaro.

O debate no Parlamento Europeu girava em torno de conceder ajuda aos governos da América Latina. Acabou se concentrando na necessidade de a Europa ajudar também a reverter a propagação de discursos errados e informações falsas nos países latino-americanos. E, aí, não foram poucos os representantes que criticaram diretamente Bolsonaro.
É evidente que esses ecos internacionais chegam por aqui. Após a derrota de Trump, mesmo eventuais parceiros conservadores que o Brasil cultivava mudaram de tom e estratégia. O caso mais emblemático é Israel, onde o avanço da vacinação já inclusive começa a fazer com que por lá a Covid-19 comece de fato a deixar de ser um problema grave. Enquanto por aqui chegamos ao trágico número de 400 mil mortos.

Vai ficando, portanto, cada vez mais difícil para o governo querer imprimir outro rumo à CPI da Covid que não venha a ser, no final, a conclusão da profunda responsabilidade do presidente da República pelas mazelas que aqui vivemos.
Bolsonaro, como Trump antes, fez a aposta errada. E vai pagar um preço alto por isso. É curioso que ele e os demais militares do seu governo – incluído aí especialmente o general Eduardo Pazuello – não tenham prestado atenção no que diz o mais antigo manual de estratégia militar que se tem notícia. Em A Arte da Guerra, Sun-Tzu já dizia: “Se você conhece o inimigo e a si mesmo, não tema o resultado de cem batalhas. Se se conhece, mas não ao inimigo, para cada vitória sofrerá uma derrota. Se não conhece nem o inimigo nem a si, perderá todas as lutas”.

Bolsonaro ignorou o inimigo. Desprezou-o. Não soube reconhecê-lo. Segundo Sun-Tzu, perderá, assim, pelo menos metade das batalhas. Isso se, a essa altura, for capaz de conhecer a si mesmo. É impressionante um governo de formação militar desprezar os conselhos sábios do general chinês.

Mas, talvez, Bolsonaro e seus generais desprezem Sun-Tzu pelo fato de ser chinês. Como desprezaram a Coronavac. Devem pensar que ele é comunista. Ignorando que Sun-Tzu nasceu uns dois mil anos antes de Mao Tsé-Tung…

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