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Bastidores
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Direita se antecipa ao modo “Lula contra o crime”

Vladimir Porfírio

12/11/2025 5h00

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FOTO: PABLO PORCIUNCULA / AFP

Alertada pelos sinais de que Lula faria um ajuste temático em seu governo, a direita decidiu se antecipar. Surpreendida pela deflagração da operação Carbono Oculto, parte desse segmento resolveu se acautelar, já que a Polícia Federal havia passado o rodo no PCC, ligando o crime às fintechs da Faria Lima e às distribuidoras de combustíveis.

Um parlamentar da bancada da bala, com histórico na polícia de seu estado, comentou nos bastidores que a Carbono Oculto “não podia ficar sem resposta”. Para ele, a direita estava “dando brecha para Lula”, que estaria investindo no eleitorado que colocou a segurança pública como prioridade nacional. Mas a reação saiu pela culatra, repetindo o recuo da proposta que blindava parlamentares. No final do dia de ontem, o relator teve de anunciar que não mexeria nas atribuições da Polícia Federal e esqueceria a manobra que transformava o crime organizado em terrorismo.

Diferente do episódio que matou soldados do Comando Vermelho, como resposta eficiente aos efeitos políticos da Carbono Oculto, que aproximou Lula da pauta do combate ao crime, a tentativa de neutralizar o Lula do combate ao crime deu pra trás.

Para preservar seu monopólio temático, a direita tinha partido para manobras mais ousadas. Sobretudo porque a Polícia Federal, até as eleições, ainda pode desencadear mais duas, três ou quatro operações do tamanho da Carbono Oculto.

Agora, mantido o atual ordenamento legal, a PF tem tudo para avançar com operações de grande repercussão, enquanto os governos estaduais – a quem cabe o dever constitucional de prover segurança pública – seguem à procura de respostas convincentes para a escalada da criminalidade, pontuada por execuções em aeroportos, delegados assassinados, cidades desocupadas por ordem de facções, milícias sitiando bairros, fábricas clandestinas de armamentos, além de penitenciárias controladas por criminosos e batalhões contaminados por policiais corruptos que vivem do “arrego” pago por traficantes e contrabandistas, entre outras modalidades de crime que seguem prosperando.

Nesse contexto, a volta do deputado Guilherme Derrite à Câmara dos Deputados foi parte de uma tentativa de vacina que, feita às pressas para preservar o monopólio da direita brasileira no discurso do combate ao crime, virou água com açúcar.

O mutante relatório de Derrite, volta aos trilhos evitando uma declaração de inconstitucionalidade mais adiante, depois de ser acusado de conter movimentos de blindagem política. Segundo especialistas e promotores, ao condicionar a atuação da Polícia Federal nos estados à manifestação prévia das forças de segurança locais, o texto buscava esvaziar o poder de fogo do governo federal e travar sua capacidade de ação direta contra o crime organizado. Era uma engenharia jurídica que tiraria das mãos de Lula o controle operacional e simbólico do combate ao crime.

Ninguém discute a qualificação do deputado Derrite para relatar um projeto antifacções, ainda que, talvez, ele fosse mais útil no desempenho de suas funções de combate ao crime em São Paulo. Mas todo mundo concorda que, sem a Polícia Federal, ninguém teria sido preso pelo assassinato de Marielle Franco no Rio de Janeiro.

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