Muito se fala em renovação das práticas políticas e dos métodos de governar. Está muito claro que os velhos sistemas estão falidos. E com eles os velhos e carcomidos políticos, alguns ainda jovens de idade, que não conseguem entender os novos tempos.
Não é só no Brasil que os tradicionais esquemas de poder são contestados, que aumenta o fosso entre os políticos e os governos, de um lado, e a população. E não é só aqui que os partidos não têm legitimidade e representatividade e que a sociedade anseia por novas práticas.
Mas não são só os políticos que ficaram velhos – vão na mesma onda os jornalistas, analistas e burocratas que só sabem pensar pela cartilha ultrapassada.
Ultrapassados no mundo e em Brasília
A contestação da velha política acontece em vários países, até mesmo nos Estados Unidos – o que explica em parte a ascensão de Donald Trump e Bernie Sanders, pois ambos fazem, em posições opostas, a crítica ao establishment.
No Brasil esse sentimento cresce, embora não se saiba qual será sua consistência e a que rumo levará. A política, os políticos, os governos e os partidos se desmoralizam a cada dia.
O velho estilo de governar com base no patrimonialismo, no fisiologismo, na distribuição de benesses, nas atitudes demagógicas e na ausência de participação real da população está ultrapassado.
Em Brasília não é nada diferente.
Velha política vicia
Mesmo diante do que se vê, a maioria dos políticos e seus aderentes parece não entender o que se passa e continua agindo como se os tempos não fossem outros. São como os ladrões que continuam roubando mesmo depois que a polícia chega. Não veem a realidade, talvez por estarem drogados, e continuam agindo segundo seus instintos. Até serem presos.
Os analistas contaminados pelos velhos políticos não conseguem sair de seus raciocínios esquemáticos e ultrapassados, e suas análises repetem os vícios da politicagem.
Governabilidade é mero pretexto
Para os velhos políticos e seus seguidores, são boas relações do Executivo com o Legislativo quando os deputados tomam conta de secretarias e órgãos do governo, nomeiam seus apadrinhados e manejam os contratos com os fornecedores.
E quando o governo libera suas emendas suspeitas sem questioná-las.
Na cabeça deles, não passa a ideia de que as relações entre Executivo e Legislativo podem ser fundadas na independência dos poderes e de discussões programáticas em benefício da população. Gostam de falar em “governabilidade”, como pretexto para suas práticas nocivas.
Não foi para isso, afinal, que os parlamentares acham que foram eleitos.
Relações estranhas, mas é assim mesmo
Para os velhos políticos e seus cupinchas, o fisiologismo é inerente à governabilidade. Por isso nada tem de mais um deputado distrital, um desembargador do Tribunal de Justiça ou um conselheiro do Tribunal de Contas pedir favores ao governo que vão julgar e fiscalizar.
A política, dizem, é a troca de favores. Toma lá, dá cá.
Como promover a autocensura
Para essa turma, bom relacionamento com veículos de comunicação significa liberar muita publicidade, mesmo que a audiência não corresponda ao valor gasto. Assim as críticas diminuirão e os elogios aumentarão. Para que uma política de comunicação inteligente e democrática, se o dinheiro “bem aplicado” pode calar o time dos contras e aumentar o time dos a favor? Alguns responsáveis pela comunicação dos governos e dos parlamentos gostam dessa tática, pois não exige muita inteligência e não dá trabalho.
Aposta errada: o povo não é bobo
Os velhos políticos e seus seguidores também adoram a publicidade das “realizações” do governo, pois não entenderam ainda que a população está mais atenta e mais preparada para não ser enganada. Algumas agências de publicidade incentivam esse raciocínio do século 20, interessadas em faturar mais. Bobagem, pois o mesmo dinheiro poderia ser aplicado em campanhas educativas e de utilidade pública. Bem mais adequadas ao momento.
Era assim, para alguns ainda é
Houve um governador em Brasília a quem propuseram investir em turismo. Ele respondeu que turistas não votavam aqui.
Propuseram também a ele investir mais em publicidade educativa e de utilidade pública e menos nas campanhas para mostrar que seu governo era excepcional. Ele respondeu que campanhas educativas não davam voto.
Estar nas ruas não é isto
Os velhos políticos e seus acólitos nos governos, na imprensa e nas academias também acham que a agenda que dá votos é aquela em inauguram até postes e bicas de água com discursos vazios.
Confundem a presença de um administrador nas ruas, vendo a realidade, conversando com as pessoas, fiscalizando os serviços públicos — o que é bom — com eventos demagógicos ou pirotécnicos e sem nenhuma substância. Acham que armar tendas com sistema de som e convocar servidores públicos para dar quórum vai lhes dar votos. Ou que jogar capoeira e correr pelas ruas garante eleição.
Essa é a cara da velha política: demagógica, vazia.