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Futebol

Zebras marcam a história das Copas do Mundo

Arquivo Geral

06/06/2006 0h00

A história da Copa do Mundo é repleta de grandes zebras, que tornaram desconhecidos em celebridades e arruinaram os sonhos de grandes favoritos. Os históricos apontam que a primeira grande zebra em um Mundial aconteceu na França, em 1938. A seleção de Cuba, país que até hoje não tem a menor tradição em futebol, não conseguiu a sua classificação em campo. Mas acabou indo ao torneio graças a algo que parecia impossível: Colômbia, Costa Rica, México, El Salvador e Suriname desistiram, abrindo vaga aos cubanos.

Os cubanos iniciaram a disputa como o grande azarão. Numa época em que a Copa do Mundo já começava na fase de mata-mata, Cuba encarou a Romênia, com mais tradição e habilidade. O primeiro jogo foi uma batalha e terminou empatado em 3 x 3, mesmo com uma prorrogação em Toulouse. Na mesma cidade, quatro dias depois, as duas equipes se reencontraram para o confronto de desempate. Com um time com média de idade superior a 34 anos, os romenos não resistiram à correria cubana e caíram por 2 x 1. Passaram três dias e, nas quartas-de-final, Cuba encarou a Suécia e voltou ao seu normal. Placar final: 8 x 0 para os suecos.

Depois da paralisação por causa da II Guerra Mundial, que teve a Europa como principal palco, a Copa do Mundo voltou a ser disputada 12 anos depois e o Brasil foi o país escolhido. O Estádio Independência, em Belo Horizonte, guarda em suas galerias uma das maiores zebras da história dos Mundiais, talvez a maior. No dia 29 de junho, pela segunda rodada do Grupo 2, se enfrentavam Inglaterra e Estados Unidos. Os ingleses eram francos favoritos e tinham vindo de tranqüila vitória de 2 x 0 sobre o Chile. Já os norte-americanos foram derrotados por 3 x 1 pela Espanha. O goleiro Borghi, italiano naturalizado americano, teve grande atuação e só não fez com que o jogo terminasse empatado sem gols porque o inimaginável aconteceu.

Larry Gaetjens, com origens no Haiti, fez o único gol do jogo e garantiu o triunfo dos Estados Unidos. O então zagueiro Alf Ramsey jamais esqueceu a humilhação que passou em campo naquele dia, mesmo que, anos depois, como técnico, tenha comandado, em 1996, a Inglaterra a seu único título mundial.

"Para nós foi humilhante pelo fato histórico, pela relação entre os dois países e, principalmente, porque foi a Inglaterra quem inventou o futebol. Aquela tarde em Belo Horizonte jamais sairá da minha cabeça. Toda vez que ouço falar no Brasil não me lembro de seu grande futebol e sim do que aconteceu em seus gramados em cincoenta", disse Ramsey em certa ocasião.

A Copa do Mundo de 1966, disputada na Inglaterra, teve como grande surpresa a Coréia do Norte. Os asiáticos eram os grandes azarões e sem nenhuma expressão. Até hoje sequer chegam perto de seus vizinhos do Sul, que sediaram a última Copa com o Japão e ficaram com a terceira posição. Mas voltemos a 1966. Na primeira fase os norte-coreanos caíram no Grupo 4, ao lado de Itália, Chile e União Soviética. Dificilmente avançariam à segunda fase, hipótese que parecia mais evidente após a derrota de 3 x 0 diante dos soviéticos. No jogo seguinte a Coréia arrancou empate por 1 x 1 com o Chile, algo que parecia que se tornaria o maior feito do país. Pobre engano.

No dia 19 de julho a Coréia do Norte, em Middlesbrough, entrou desacreditada para enfrentar a favorita Itália, que precisava de uma simples vitória para se classificar. Park Do-Ik fez o gol da vitória, que garantiu a classificação histórica dos asiáticos. Nas quartas-de-final por muito pouco os norte-coreanos não proporcionaram uma surpresa ainda maior. Chegaram a fazer 3 x 0 no Portugal de Eusébio. Mas acabaram derrotados, de virada, por 5 x 3.

"Era impressionante a forma como aquele time jogava. Eram verdadeiros suicidas. Não tinham medo de atacar. Para virarmos aquele jogo precisamos jogar tudo o que a gente sabia. E olha que comemoramos quando soubemos que teríamos o time deles como adversário. Pobre ilusão", disse Eusébio.

Mas não foram apenas romenos, italianos e ingleses que sentiram o gosto amargo de um coice de zebra. A Alemanha, sede da Copa do Mundo de 2006, foi vítima logo em sua estréia na Copa do Mundo de 1982, disputada na Espanha. No dia 16 de junho, em Gijon, os alemães enfrentaram os africanos da Argélia. Depois de um primeiro tempo sem gols, Madjer abriu o placar para os argelinos aos sete minutos. Os alemães empataram aos 22, com Rummenigge. Mas não teve muito tempo para comemorar. Um minuto depois Belloumi fez o gol que assegurou o triunfo africano.

"Depois daquele jogo nos recuperamos e acabamos vice-campeões do mundo. Mas a importância daquele insucesso para a nossa vitoriosa campanha foi fundamental. Aprendemos a jogar com uma seriedade maior em qualquer confronto. No jogo seguinte goleamos o Chile (4 x 1)", lembrou Rummenigge.

HONRA OU AZAR?

Mas em nenhuma situação as zebras se fizeram tão presentes na história das Copas do Mundo do que nos jogos de abertura, quando, desde o Mundial de 1974, na Alemanha, quando pelo regulamento da Fifa o campeão abria a competição. Naquele ano o Brasil, que tinha sido tricampeão quatro anos antes, no México, mediu forças com a Iugoslávia e, num jogo muito fraco, ficou no empate sem gols.

O 0 x 0 também marcou o confronto inaugural na Copa do Mundo de 1978, entre a Polônia e a Alemanha, atual campeã. Quatro anos mais tarde, Van de Bergh fez o único gol da partida que abriu o Mundial de 1982, na Espanha. Ele deu o triunfo à Bélgica sobre a Argentina. Um empate sem graça entre a campeã Itália e a Bulgária marcou a abertura da Copa de 1986, no México.

A Argentina, comandada por Maradona, voltou a ser vítima da maldição do jogo de abertura em 1990, na Itália. Diante de um Estádio Olímpico lotado, em Roma, os argentinos sentiram o peso dos Leões Indomáveis. Mesmo tendo dois jogadores expulsos Camarões bateu a Argentina por 1 x 0, gol de Omam Biyick. Os camaroneses só pararam diante da Inglaterra, nas quartas-de-final.

"Eles jogavam um futebol alegre e bonito e nós mesmo ficamos encantados. Não dava para ganhar aquele jogo de forma alguma",  disse Maradona quatro anos depois, quando se preparava para o Mundial dos Estados Unidos. E foi justamente na Copa do Mundo de 1994, em território norte-americano, que a maldição do jogo de abertura foi quebrada. A Alemanha derrotou a Bolívia por 1 x 0. Porém aquele jogo teve a polêmica arbitragem do mexicano Arturo Brizio questionada.

Além de prejudicar os bolivianos em inversões de faltas, ele expulsou o craque da Bolívia, Etcheverry, El Diablo. No lance do gol de Klinsmann, aos 16 minutos do segundo tempo, o goleiro Trucco escorregou e foi encoberto. Horas depois foi descoberto que os organizadores tinham molhado o gramado no intervalo, o que prejudicou o goleiro, com travas de chuteiras ideais para gramados secos. O suficiente para que na noite do dia do jogo, 17 de junho, as embaixadas da Alemanha e do México, pátria do árbitro, serem apedrejadas na Bolívia.

Quatro anos depois, na França, tendo o Brasil no jogo de abertura, o Brasil bateu a Escócia por 2 x 1. "Nos preparamos muito para aquele jogo e todos, apesar da vitória da Alemanha na Copa anterior, ainda falavam na maldição do jogo de abertura. Nossa vitória foi um alívio", revelou o lateral-direito Cafu, o melhor do Brasil naquele duelo.

Mas os que ainda falavam da maldição do jogo de abertura estavam certos. A campeão França, no jogo inaugural do Mundial de 2002, caiu diante de Sebegal por 1 x 0.

Para 2006 a Fifa decidiu que o anfitrião que vai abrir o Mundial. Que se cuide a Alemanha que, no dia 9 de junho próximo, abre a Copa do Mundo diante da Costa Rica.

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