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Futebol

O Zeus que levou Rebeca Gusmão a dar a volta por cima

Arquivo Geral

07/04/2017 7h00

Atualizada 06/04/2017 22h22

Foto: Ariadne Marçal

Rosana Jesus
rosana.jesus@jornaldebrasilia.com.br

Zeus. Nenhum outro nome definiria a fase que Rebeca Gusmão vive atualmente. Após ser banida do esporte em agosto de 2009, por suspeita de doping, a ex-nadadora, de 32 anos, mostra o quanto o filho de oito meses, com nome de deus grego, completa sua vida. Depois de superar a luta longe das piscinas, a atleta vivencia um novo momento como personal trainer e afirma estar feliz com as diferentes escolhas.

Rebeca conta que desde que parou de nadar sentia um vazio no peito. O filho chegou para preencher a lacuna. “Hoje estou completamente satisfeita. Tudo que eu queria conquistar na vida, eu alcancei. Zeus foi uma benção que aconteceu para mim e para a minha família”, se emociona. Ela engravidou em novembro de 2015, oito anos após parar de competir.

Longe das piscinas, mas ainda próxima ao esporte, Rebeca passou pelo futebol feminino, migrou para as competições fitness e até se aventurou como modelo. Formada em Educação Física, atualmente ela atua como personal trainer externa (vai até a casa do cliente) e se diz apaixonada pelo trabalho. “É gratificante saber que estou ajudando pessoas diferentes, com objetivos semelhantes. Amo o que eu faço”, enaltece.

O tempo, que antigamente era 100% dedicado aos projetos profissionais, agora ganhou um concorrente. Em vez da preferência à atividade de personal, ela reconhece que Zeus precisa de atenção especial. “Nessa profissão há uma certa exigência quanto aos treinos, então, quando surge um tempinho, eu faço aula de remo, crossfit e, na maioria das vezes, malho com meus alunos. Mas a preferência é sempre do meu filho”, confessa a treinadora.

Virada completa

Após ter passado pela pior fase de sua vida, Rebeca Gusmão contou sua história em detalhes na autobiografia “Virada Olímpica – A Carreira, a Queda e a Superação”, lançada em julho de 2016. No livro, ela relata histórias, como o assédio sexual dos colegas do futebol, os problemas nos ovários, a aversão à piscina, depressão e, claro, a expectativa pelo nascimento do filho.

Agora, ao lado do filho Zeus, ela vive a cada dia uma página nova do livro da vida real, que serve para completar a tal “virada olímpica”.

Apesar de ter sido banida dos esportes profissionais em novembro de 2009, pelo CAS, a Corte de Arbitragem do Esporte, a instância mais alta de apelações de atletas em nível mundial, Rebeca conta que ainda recebe o carinho dos fãs pelas redes sociais.

Emocionada, é para eles que a ex-nadadora deixa um recado. “Peço que nunca desistam dos seus sonhos. O importante é acreditar que é possível. Mas eu gostaria de deixar claro que a melhor palavra para definir o que sinto por eles (pelos fãs) é gratidão, por terem me ajudado a superar os momentos ruins, com palavras de conforto e orações. Serei eternamente grata.”

Sobre o futuro profissional de Zeus, a mamãe coruja assegura que não pretende interferir na carreira dele, mesmo sonhando em ter um filho atleta. “A única coisa que vou pedir é que ele siga o seu coração e não deixe nada e nem ninguém dizer que ele não é capaz”.

Drama de quase 10 anos

“Se tem uma coisa que eu tenho certeza, é da minha inocência, pois não fui uma atleta que surgiu do nada. Me dedico desde os seis anos de idade e comecei representar o País com 12. Mas, de repente, alguém acha que tem o direito de matar os sonhos de uma pessoa, trapaceando um exame. Foi aí que começou o meu processo de depressão”, descreve Rebeca Gusmão. Ela foi flagrada em exame antidoping em 2006, durante competição – antes dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro de 2007 -, a pedido da Fina. Os exames mostraram presença de níveis elevados de testosterona.

Desde então, Rebeca travou longas e desgastantes brigas em tribunais no Brasil e fora do País para tentar provar sua inocência. A ex-atleta conta que o mais difícil foi enfrentar os problemas sem maturidade, quando tinha apenas 22 anos.

“Uma pessoa dessa idade não sabe lidar com algo assim. Quem me conhece, sabe que essa mulher de 1,80m é só uma carcaça. A verdade é que sou muito frágil, sou um ser humano de carne e osso”, reconhece Rebeca. “É triste dizer, mas o mundo é muito cruel. Quando você é impedido de fazer a única coisa que sabe fazer, é o seu mundo que desaba”, completa.

Onze anos depois, Rebeca Gusmão encara tudo como aprendizado. Mais madura e completa após o nascimento do filho Zeus, ela diz que faria tudo de novo. “Infelizmente, o que aconteceu foi uma grande injustiça, mas foi graças a tudo de ruim que passei que recebi o maior de todos os prêmios, o meu filho. Se eu tivesse que voltar no tempo, não queria que nada fosse diferente, pois se eu movesse sequer uma pedra, não teria conhecido meu marido e o Zeus não existiria”, sustenta.

Frustrada com o sonho interrompido, Rebeca tentou suicídio, em agosto de 2013, após tomar veneno de rato, água sanitária, vodca e barbitúricos. “Durante o processo de apuração do caso de doping, as pessoas não tinham respeito a mim, nem como atleta e nem como pessoa. Isso me machucou”, relata. Após acordar do coma de três dias, Rebeca estava inconformada. “Quando voltei, eu estava revoltada, por ter tentado me matar.”

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