Raphaella Sconetto e Renata Werneck
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O sucesso dos atletas paralímpicos dos Jogos do Rio de Janeiro – encerrados no último dia 18 – é um enorme contraste com a situação a qual pessoas com deficiências de Brasília estão acostumadas. A representatividade delas nos 11 Centros Olímpicos e Paralímpicos da capital é pífia.
Atualmente, dos 37 mil usuários que frequentam esses espaços esportivos, apenas 1.100 têm alguma deficiência, segundo o Coordenador dos Centros Olímpicos e Paralímpicos, Marco Aurélio Guedes.
A Secretaria de Esporte, Turismo e Lazer do Distrito Federal informa que o GDF investiu, neste ano, quase R$ 25 milhões em esporte para as crianças, destinados a 681 unidades escolares. Deste valor, porém, só R$ 657 mil foram para as Bolsas Paralímpicas.
Ariosvaldo Fernandes é atleta e disputou a prova de atletismo sobre rodas na Rio-2016. Mais conhecido como Parré, ele treina em um dos Centros Olímpicos de Ceilândia, próximo ao Parque da Vaquejada, há cerca de dois anos.
Três meses antes do Mundial, ele teve que mudar o local de treinamento devido às características da pista, que não é adaptada ao esporte. “A pista está em boa condição, mas a borracha de que é feita atrapalha o rolamento das rodas, o que não permite que a cadeira atinja maiores velocidades”, diz Parré. “Atende, mas não é 100%”.
Apesar da dificuldade, o atleta elogiou as instalações dos Centros Olímpicos. De acordo com ele, os locais de treinamento oferecem toda a acessibilidade que cadeirantes e deficientes visuais precisam.
Rômulo Soares conheceu o paradesporto em 2006. Incentivado pela mulher, foi assistir a uma competição de tênis em cadeiras de rodas e decidiu começar os treinos. Mas foi em 2008 que conheceu o parabadminton e se apaixonou.
Hoje, Rômulo é o número um do Brasil e o sexto colocado no ranking mundial no desporto. Para ele, o que falta para o esporte paralímpico crescer no DF é o incentivo dos empresários. “Até hoje estávamos aos trancos e barrancos e agora vamos ter uma visibilidade”, crê o atleta, citando o êxito dos Jogos Paralímpicos do Rio.
Segundo Raimundo Tadeu Martins, especialista em Paralimpíada e professor da Universidade de Brasília (UnB), o Brasil já é referência nos esportes paralímpicos. “Para melhorar a posição no ranking internacional é preciso ampliar, ter a presença massiva em todas as provas”, afirma o professor.
Para Martins, o Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB) está no caminho certo, fomentando e desenvolvendo o desporto paralímpico. Para ele, o que precisa ser feito para ampliar o interesse é incentivar quem está em casa e as próprias associações de pessoas com deficiência. “A maioria das associações de Brasília não têm dinheiro para se sustentar. Então, elas não vão ter condições de desenvolver atletas de alto rendimento”, acredita.
Saiba mais
O Centro de Iniciação Desportivo Paralímpico (CIDPs) é coordenado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. O projeto fomenta o acesso às equipes e a representatividade do esporte escolar na capital. Porém, com 128 polos para todos os estudantes de escolas públicas, a CIDPs contempla apenas 756 estudantes com deficiência, de um total de 10.467 que praticam os esportes.
Incentivo é primordial
“Indispensável”. É assim que o professor da Iniciação Desportiva Paralímpica, Letisson Samarone, classifica o esporte na vida das crianças com deficiência. Para ele, o exercício estimula a coordenação motora, a autoestima e o emocional das crianças.
“No esporte não tem coitadinho, ele é jogador em uma competição igual. Na escola, é onde a deficiência aparece, já no esporte, o que vai transparecer é a eficiência”, incentiva Samarone.
Com a visibilidade que as Paralimpíadas Rio 2016 trouxeram, o paratleta Parré espera que o governo invista ainda mais nos esportes paralímpicos, oferecendo melhor estrutura e cuidado com o espaço e os materiais, que são caros. “Temos que continuar incentivando atletas e alunos”.
Outro acesso
O Centro de Iniciação Desportivo Paralímpico (CIDPs) é coordenado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal. As aulas do projeto acontecem três vezes por semana, no turno matutino e vespertino, e um dos objetivos é fomentar o acesso às equipes e representatividade do esporte escolar na capital.
Para incentivar os pequenos, a equipe do CIDPs visita regularmente as escolas e participa de eventos na área, a fim de que as crianças possam se inspirar nos paratletas.
Segundo a Secretaria de Educação, serão disponibilizados recursos financeiros oriundos do Governo Federal, por meio da Lei Pelé e do Programa de Descentralização Administrativo Financeiro, para os esportes paralímpicos.