Pedro Marra
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Durante os últimos 10 anos eles se acostumaram a repetir um prazeroso trajeto: de casa para o Ginásio da Asceb, na 904 Sul. Na última sexta-feira, porém, um muro foi construído entre os torcedores do Brasília e a equipe com a qual passaram grandes alegrias – entre elas o tetracampeonato nacional de basquete.
A inviabilidade de verba do Brasília resultou no corte da equipe da 10ª edição do Novo Basquete Brasil (NBB). Quatro dias depois, a ficha da torcida que chegou a quebrar o recorde de público no basquete – em 2007 levou 24.286 pessoas ao ginásio Nilson Nelson, contra o Flamengo – ainda está caindo.
“O que fizeram com todos (torcedores, funcionários, jogadores) foi uma covardia. Não tinham uma comunicação direta com os torcedores e na última nota (desligamento do clube do NBB), nem colocaram assinatura”, lamenta Augusto Costa, 25 anos, um dos diretores da Torcida Uni, a organizada da equipe.
Além de torcer pelo time, Vinícius Rivera, 33 anos, mais conhecido como Magrão, teve uma participação no mínimo inusitada nos jogos do NBB da temporada passada. Ele se destacou como um dos personagens por trás da “Cortina da Distração”, tática usada pela torcida para distrair os jogadores adversários durante a cobrança de lances livres.
“A primeira vez que eu subi, senti que era uma vergonha alheia. Mas foi muito bom saber que a gente alegrava a torcida e, de uma certa forma, atrapalhava o adversário. A gente fez o Alex (atualmente no Bauru-SP) perder três lances livres”, orgulha-se Magrão. Ele, agora, sente o vazio de não poder mais se divertir no ginásio.
Bruno Magalhães, mais um aficionado pelo Brasília, conta com orgulho o dia em que decidiu trocar a família por um jogo da equipe. “Na final de 2012, fui de caravana para Mogi das Cruzes, apoiar o time na final contra o São José. Quando fomos campeões, liguei para a minha irmã no meio da comemoração e ela estava fazendo vestibular”, recorda, aos risos. “Fui ver as ligações após a prova e aí falei com ele desesperado, porque tentou me colocar em contato com o (Guilherme) Giovannoni por telefone”, lembra Belise Paula, 22 anos. Ela faz aniversário em 2 de junho, mesmo data do ídolo dos lobos, Guilherme Giovannoni, que fora o MVP do primeiro título nacional da equipe.
A relação com os jogadores chegou a ser íntima, como conta Bruno. “Lembro-me que quando teve a final da NFL ano passado, o Kyle LaMonte assistiu com a gente da torcida num bar. Rimos demais com ele”.
Técnico procura um novo clube
Uma das caras do time, o diretor técnico José Carlos Vidal – que foi campeão brasileiro como técnico – reconhece os empecilhos de reestruturação. “É uma situação difícil descrever como um time vencedor, representando Brasília há tanto tempo, pode passar por isso. Vai ser difícil reformular e conquistar o que se conquistou. Mas vou ficar, minha história é aqui”, comenta ele.
Bruno Savignani, 35 anos, pensa diferente em relação a Vidal, que foi colega na comissão técnica, como assistente. O técnico da equipe nos últimos dois anos busca novos desafios na carreira.
“É um sentimento de gratidão pelos meus sete anos aqui. Ainda não conversei com a presidência, mas estou aberto a ouvir propostas de outros clubes”, afirma.
O armador Jefferson Campos, 23 anos, agradeceu os últimos dois anos em que jogou pelos lobos. “Amadureci muito com todos do clube. Mas a página virou, infelizmente, não tem mais o time para a nível competitivo. Vê-los de fora da maior competição nacional é uma judiação”, lamenta ele, que agora segue para o Minas.
Saiba mais
- Com a ausência do Brasília e do Macaé, o Novo Basquete Brasil (NBB) da temporada 2017/2018 contará com 15 equipes: Gocil/Bauru Basket (SP), Botafogo (RJ), Campo Mourão (PR), Banrisul/Caxias do Sul (RS), Flamengo (RJ), Sesi Franca (SP), Joinville (SC), Liga Sorocabana/Uniso (SP), Minas Tênis Clube (MG), Mogi das Cruzes/Helbor (SP), Paulistano/Corpore (SP), Pinheiros (SP), Solar Cearense (CE), Universo/Vitória (BA), Vasco (RJ). Dia 4 de novembro começa o torneio.
Marreta, um eterno personagem, não joga a toalha
O massagista e roupeiro do time, Raimundo Campos, mais conhecido como Marreta, é funcionário do clube desde 2000, quando foi fundado. Ele chegou a Brasília a trabalho durante a época da construção da capital federal, em 1960. Jogou futebol pelo time do Ceub e também passou por clubes sociais, até chegar a ser roupeiro do Brasília.
Sempre à beira da quadra, Marreta virou um personagem da equipe. Sempre que um jogador acertava uma cesta, ele não demorava a jogar sua toalha branca para cima, arrancando risos da torcida. Mas nem só de toalhinha sobreviveu Marreta. Ele recorda uma situação de jogo em que teve participação decisiva. “O time perdia e o pai do Arthur (ex-jogador da equipe) me pediu da arquibancada para dar um esporro no time. Aí teve um lance que o Alex recebeu a bola e tocou pro Arthur acertar de 3 pontos quando gritei para ele arremessar. Eu peguei a toalha e joguei para cima”, recorda.
Futura homenagem
Aos 77 anos, Marrenta brincaque três coisas ainda o movem: “Eu até brinco com os meus amigos. Tenho três coisas na vida: minha família, o Brasília e o Botafogo, meu clube do coração. Quando eu morrer, quero uma bandeira do Brasília em cima do caixão”, brinca.
O motivo do apelido não se originou na cidade onde conquistou títulos com o basquete. Vem da vontade em chegar na bola durante as peladas praianas em Fortaleza-CE, sua cidade natal. O roupeiro do Brasília acredita num futuro melhor para o time, mesmo com a situação de instabilidade. “Eu devo muita coisa às pessoas desse time, passei uma vida por aqui”, diz ele. “Estou muito chateado Tenho muito a agradecer os dirigentes, é um time que faz parte da minha vida.”