Belém ganhou visibilidade mundial com a COP30, o que acabou apresentando o Pará para muitos brasileiros também. Antes, a cidade passou por obras, teve porto e aeroporto reformados e ganhou quatro grandes hotéis. Garantir que todo o investimento seja aproveitado de forma sustentável e duradoura após o evento e pode estar no incremento do turismo.
“A COP é uma oportunidade, não um fim. Ela movimentou a economia e deu luz à Amazônia, mas acabou. ( E agora) Deve ser um meio para impulsionar o desenvolvimento turístico e regional”, afirma Cássio Garkalns, CEO da GKS, empresa que cria projetos alinhados com a pauta ESG.
Para receber a conferência do clima, Belém teve cartões postais como os mercados de São Brás e Ver-o-Peso reformados. Serviços de alimentação, transporte e agências de turismo foram criados ou ampliados. “O momento eleva o padrão de qualidade necessário e deve deixar um legado para que as melhorias continuem beneficiando Belém, a região, o Pará e o Brasil”, diz o CEO da GKS.
Garkalns, porém, faz uma ressalva: “O turismo precisa deixar de ser visto apenas como lazer e passar a ser entendido como atividade econômica. O Poder Público deve planejar a médio e longo prazos, mas donos de pousadas, restaurantes, atrativos e guias devem se organizar, criar programas de capacitação e divulgação e assumir responsabilidades”.
Para Marina Figueiredo, presidente executiva da Associação Brasileira de Operadoras de Turismo (Braztoa), o Pará tem grande potencial. “A gente confia e torce para que todo esse trabalho que foi feito, de renovação de equipamentos, melhorias, identificação de experiências e atrativos, fique para o turismo “
Pacotes
Em agosto, a Braztoa e a secretaria de Turismo promoveram um encontro com operadoras, para apresentar os atrativos naturais, culturais e gastronômicos do Estado. O 13.º Prêmio Braztoa de Sustentabilidade será realizado em Belém, no dia 8 de dezembro. Além da cerimônia, também serão feitas visitas de vivência local e um ciclo de palestras.
“Usamos o prêmio como catalisador para que as discussões continuem no pós-COP. Foi muito legal porque mais da metade das iniciativas finalistas tem impacto na Amazônia. O Pará liderou junto com São Paulo em inscrições e indicações”, conta Marina.
Em agosto, Belém apareceu no Anuário Braztoa 2025, com dados de vendas das operadoras no ano passado, como o principal destino emergente. Essa denominação é dada aos lugares que não estão entre os mais vendidos, mas que tiveram um crescimento acelerado No entanto, um mês depois, no boletim da Braztoa sobre o primeiro semestre deste ano, 41,9% das operadoras expressaram receio de que possíveis falhas de organização durante a COP pudessem prejudicar a imagem do destino no futuro, após problemas de hospedagem enfrentados pela capital paraense.
Em entrevista ao Estadão para a série Com a Palavra o Mercado, no fim de setembro, Marina contou que as operadoras vêm incentivando as viagens fora da época mais movimentada e os próprios turistas têm procurado mais isso, tendência observada mundialmente. “A experiência não é a mesma num destino superlotado. Tem a questão de custos mais elevados. E, ao mesmo tempo, hoje há uma preocupação ambiental e social, de tentar evitar o over turismo”, completou na ocasião.
Terminais renovados
Um exemplo de grande obra realizada para a COP30 é o Terminal Portuário de Outeiro, ampliado para receber dois navios transatlânticos que serviram de hospedagem de parte das comitivas internacionais. Inaugurado em 1.° de novembro, ele foi um paliativo para a crise de hotéis em Belém.
Para Marina e Garkalns, o porto tem potencial para inserir Belém no roteiro de cruzeiros internacionais. De acordo com Marco Ferraz, presidente da Clia Brasil, regional da associação global de companhias de cruzeiros, isso já está sendo considerado por empresas do setor.
Outra obra foi a reforma do Aeroporto Internacional Júlio Cezar Ribeiro (Val-deCans). Para reforçar a segurança para a COP30, o terminal recebeu seis Portões de Controle de Fronteira Automatizado, que usa tecnologia de biometria facial.
A sustentabilidade terá papel central na manutenção do impulso provocado pela COP30, segundo Ana Clévia Guerreiro, coordenadora de Economias do Futuro do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). “Não se pode afirmar que um território é desenvolvido se as pessoas foram excluídas do acesso aos ganhos econômicos gerados ou se os recursos ambientais foram esgotados. O desenvolvimento sustentável é aquele que realmente assegura a geração de renda, incluindo as pessoas, ao mesmo tempo que assegura a preservação ambiental e patrimonial, seja material ou imaterial.”
Pesquisa divulgada pelo Sebrae e o Ministério do Turismo em 2024 apontou que o ecoturismo representava 60% do faturamento do setor. Na prática, significa que o esgotamento de recursos naturais impactaria negativamente a economia. O turismo de base comunitária, de visita a comunidades, também atrai visitantes.
A GKS e a organização Ocas, iniciativa de impacto socioambiental que presta assessoria a lideranças de bases comunitárias em cinco regiões da Amazônia Paraense, se juntaram para um projeto de eco
nomia criativa. Eles estão ajudando artesãs a refinarem sua produção de sabonetes e a empreenderem em novas linhas.
“Cada mentoria, cada aula, está sendo sensacional, um aprendizado. Começamos a aprimorar, ter ideias de negócio, sair do que a gente achava que seria algo só da nossa comunidade”, conta a artesã Bruna Lilian, dos quilombolas de Vila Cruzeirinho
“A COP conecta o nosso projeto, a sustentabilidade e toda a questão de você mostrar que, a partir da capacitação, a comunidade pode criar produtos ecologicamente corretos que vão gerar renda, proteção dos direitos humanos e justiça climática. Catalisa o que tem de valor dentro do nosso projeto, mostrando um produto com alto valor agregado e baixo custo ambiental”, afirma Renato Rosas, diretor de Propósito Corporativo da Ocas.
Estadão Conteúdo