Principal destino turístico do Brasil, o litoral do Nordeste lidera com folga a preferência nacional para viagens de férias e lazer. Dados da Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) mostram que a costa nordestina representou quase 45% do faturamento das associadas em 2024, muito à frente de Sudeste (cerca de 26%), Sul (11%), Centro-Oeste (9,5%) e Norte (8,5%).
A diferença, no entanto, já foi maior. A região já representou 70% do faturamento em 2015 e 2020 (pandemia de covid), mas há três anos vem registrando um porcentual abaixo de 50%, o que mostra a diversificação das viagens pelo Brasil e a força que outras regiões do País vêm ganhando.
Dos quase R$ 23 bilhões faturados no ano passado pelas associadas da Braztoa, 25% foram oriundos do turismo nacional, ou o equivalente a R$ 5,75 bilhões. Desse montante, o Nordeste respondeu por 45%. Em 2019, 57% das vendas nacionais tiveram como destino o litoral nordestino; em 2014, foram 65%.
Apesar da queda em 2024, a liderança se mantém estável ao longo dos anos, graças a uma combinação de estabilidade climática, diversidade regional, gastronomia, praias paradisíacas e infraestrutura hoteleira. “Mesmo com algumas variações ao longo do tempo, a região sempre esteve na liderança. Se a gente olhar a série histórica, isso acontece desde 2011, o que comprova que o Nordeste aparece como a região de maior representatividade do turismo nacional”, afirma a presidente executiva da Braztoa, Marina Figueiredo.
No Anuário Braztoa 2025, com dados referentes ao ano passado, oito destinos e cinco Estados do Nordeste estão entre os dez mais vendidos nessas categorias turísticas. Nos três primeiros lugares de cada uma, aparecem: Porto de Galinhas (2º) e Maceió (3º); e Bahia (1º), Pernambuco (2º) e Alagoas (3º), respectivamente.
De turismo de luxo a ecoturismo
Com mais de 3.300 quilômetros de extensão, a costa do Nordeste atrai desde praticantes de esportes aquáticos, como bodyboard e kitesurf, até viajantes que buscam mares calmos e tranquilos. Com tantas opções, personalizar roteiros não é uma tarefa difícil, de turismo de luxo a ecoturismo. Entre adrenalina, paisagem e tranquilidade, a região se mantém na preferência do turista e é responsável por uma fatia importante do mercado brasileiro.
“O Nordeste sintetiza muito bem a essência do turismo brasileiro, reunindo o nosso calor humano, a natureza exuberante e a riqueza cultural e gastronômica, que transformam tudo isso em uma experiência realmente inesquecível”, resume a presidente executiva da Braztoa, Marina Figueiredo.
O Nordeste sintetiza muito bem a essência do turismo brasileiro, reunindo o nosso calor humano, a natureza exuberante e a riqueza cultural e gastronômica, que transformam tudo isso em uma experiência realmente inesquecível
O sentimento é compartilhado pela gerente de Operações Joyce Oliveira, 37, que realizou o sonho de conhecer a região na primeira viagem com o marido após a pandemia de covid-19. O roteiro, Maragogi (Alagoas) e Porto de Galinhas (Pernambuco), foi tão inesquecível que o casal retornou um ano depois com a família para compartilhar a experiência.
“Foi a melhor decisão que a gente tomou naquele momento, porque lembro bem da sensação de estar naquela praia, naquele ambiente extremamente acolhedor. O amor, o afeto, o acolhimento das pessoas, parecia que eu estava recebendo o abraço de que precisava depois de ter passado por aquele período de isolamento”, explica.
Viajar para o Nordeste é como arremessar um bumerangue, há sempre o desejo de retornar a um destino afetivo ou conhecer uma nova cidade, como fez a Joyce, que logo depois visitou João Pessoa. “Das praias que fui no Brasil, nunca vi nenhum lugar com esse olhar tão focado em criar uma experiência diferente para o cliente. Eu vejo que o Nordeste enxerga tudo como uma oportunidade”, avalia a paulistana.
Indicadores econômicos do turismo
A região também tem alcançado ótimos indicadores econômicos que reafirmam a consolidação da costa nordestina no interesse do turista. Segundo um boletim da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) divulgado neste mês de setembro, o turismo na região registrou o maior número de empregos formais dos últimos seis anos, superando o patamar pré-pandemia. Foram 433,3 mil trabalhadores empregados no setor, equivalentes a 18,6% das vagas formais do turismo no Brasil.
O levantamento também mostrou que o setor já representa 9,8% do PIB do Nordeste, a maior participação dessa indústria entre todas as regiões do País. “É uma realidade que devemos encarar como oportunidade de desenvolvimento econômico. E destinos turísticos litorâneos nordestinos têm se empenhado nisso, com importantes resultados. Se bem planejado, o aumento de divisas é uma das mais óbvias e importantes consequências”, explica Michel Vieira, professor do Departamento de Turismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
Resultado do forte investimento no turismo, o litoral nordestino também concentra uma rede importante de resorts. Dos 77 associados da Resorts Brasil, 32 estão na região. De acordo com a JLL, empresa global de serviços e gestão de investimentos imobiliários, o maior crescimento ocorreu entre 2000 e 2010, com a chegada de operadores estrangeiros, a construção de 30 empreendimentos e um acréscimo de 8 mil apartamentos.
Atualmente, Bahia e Ceará aparecem com maior destaque, embora toda a costa seja atrativa, por fatores como clima, disponibilidade de terrenos e proximidade com Europa e Estados Unidos. “Uma parte importante dos estrangeiros nos descobre a partir do litoral. O Nordeste é uma região que sintetiza muito bem a essência do turismo brasileiro, unindo nosso calor humano, hospitalidade, natureza exuberante, praias lindíssimas, riqueza cultural e gastronomia. Tudo isso se transforma em uma experiência inesquecível”, diz Marina, da Braztoa.
Segundo o boletim da Sudene, em 2024, os aeroportos da região receberam 337 mil visitantes internacionais, crescimento de 36,7% em relação ao ano anterior, mais do que o dobro da média nacional (14,6%).
Problemas a serem enfrentados
Apesar da importância e do crescimento do turismo na costa nordestina, a região acompanha uma urbanização intensa ao longo da faixa litorânea, o que pode gerar problemas quando não há planejamento adequado. “Vemos, então, impactos ambientais, por vezes irreversíveis, nesse litoral. Criam-se muros visíveis e invisíveis de acesso, de segregação social entre turistas e residentes. Encontramos bolhas turísticas que tornam esse espaço urbanizado, em diferentes níveis, um problema do agora e das gerações futuras”, argumenta Vieira, professor da UFRN.
Vemos impactos ambientais, por vezes irreversíveis, nesse litoral. Criam-se muros visíveis e invisíveis de acesso, de segregação social entre turistas e residentes
Ainda assim, o pesquisador menciona que há diferentes experiências positivas na região e que podem ser replicadas, baseadas em práticas como etnoturismo, produção associada ao turismo, arranjos de economia criativa, gestão de turismo de base comunitária e roteirizações de experiências. “Precisa ser mais amplo e rápido esse processo em nosso litoral? Sim. Mas estamos percorrendo alguns bons caminhos”, diz.
O paulistano Luis Moreira, de 37 anos, já viajou para o Nordeste várias vezes. Ele até brinca que tem “alma de nordestino” e que pretende viver a aposentadoria em João Pessoa, mas reclama de experiências ruins que viveu em viagens na região. “O que eu percebi em todas as cidades que visitei é a questão do atendimento, que nem sempre é tão bom, às vezes demora, como em restaurantes.”
O advogado conta que essa é a região para onde ele sempre vai quando planeja viajar, por causa do clima quente e agradável. Moreira já conheceu Salvador, Natal, Pipa e João Pessoa, entre outros lugares nordestinos. “As paisagens e belezas naturais encantam, mas o que eu destaco é a hospitalidade das pessoas. É o diferencial do Nordeste: o acolhimento que a gente recebe, além da segurança, se compararmos com as praias do Sudeste, por exemplo.”
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