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Estilo de Vida

O verdadeiro significado do Natal

No Distrito Federal, famílias e especialistas refletem sobre a importância de celebrar a união e as memórias afetivas no Natal

Amanda Karolyne

24/12/2025 7h00

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Da esquerda para direita Fernando Lopes, o filho Caio Lopes, o Papai Noel, Aline Michelle e a filha Fernanda Lopes no colo da mãe. – Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília

Filmes e músicas de Natal buscam frequentemente responder qual o verdadeiro sentido da data, para além do consumo. Com esse questionamento, a equipe de reportagem do JBr foi às ruas do Distrito Federal para ouvir o que a celebração representa para os brasilienses. Entre histórias de encontros e tradições, o que se destaca é a busca pela união entre amigos e familiares que, mesmo em meio às pressões e à correria de fim de ano, escolhem o afeto e a reflexão como o centro da festividade.

A vendedora Taís Melo da Silva, de 21 anos, junto com o esposo Paulo Henrique da Silva Mota, 25 anos, que também é vendedor, passeavam com a irmã de Taís, Ester Sousa Barreto, de 13 anos. Eles foram ao local para recuperar uma tradição de Natal: conferir a decoração e visitar o senhor mais popular da estação, o Papai Noel.

Para Taís, o significado do Natal vai além do consumismo, focando na importância de estar junto de toda a família. “É mais do que gastar e tudo mais. Eu estava falando para a Ester que eu ia usar a roupa do ano retrasado neste Natal”, ressaltou. Para ela, o que importa é a reunião com os familiares, mesmo que isso exija negociações no novo núcleo familiar. “Agora que a gente casou, estamos brigando para ver em qual casa vamos passar. Aí eu falei: ‘Não, esse ano a gente passa na minha, ano que vem a gente passa na sua’”.

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Taís Melo da Silva e Ester Sousa Barreto com o Papai Noel. – Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília

Taís também celebra o momento especial de seu primeiro Natal como mãe. Ela e Paulo estão à espera de uma menina, que se chamará Jade. “Nossa, eu já estou ansiando pela ceia. Estou muito ansiosa”, frisou. Ester, que não esconde a ansiedade para ser tia, apontou que, para ela, o Natal, além de ser um momento de união, é sobre a magia natalina e o nascimento de Jesus. “A gente ora sempre antes da ceia, faz os agradecimentos. Eu acho que essa magia e muito amor resumem a data”, complementou.

Para contagiar os filhos com o espírito natalino, Aline Michelle, de 37 anos, aproveitou a visita ao Papai Noel com a família. Dona de casa, ela afirma que sempre tenta transmitir aos pequenos Fernando e Fernanda os sentimentos que considera mais importantes nesta data: o amor e o carinho. “O que mais importa é essa união e a compreensão que tomam conta desse período, principalmente o fato de estar em família”, afirmou. Aline busca demonstrar para as crianças que a comemoração não se resume a compras e presentes. “A parte mais importante é a união”, frisou. Na casa deles, ela faz questão de manter os rituais, como montar a árvore de Natal, decorar com piscas-piscas e assistir a filmes natalinos com os filhos.

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Da esquerda para direita Fernando Lopes, o filho Caio Lopes, o Papai Noel, Aline Michelle e a filha Fernanda Lopes no colo da mãe. – Foto: Amanda Karolyne/Jornal de Brasília

Neste ano, a celebração será ainda maior, pois Aline planeja reunir tanto a sua família quanto a do marido para passarem a data todos juntos. Além da ceia tradicional, o encontro contará com amigo oculto e troca de presentes, mas o foco principal permanece sendo o convívio. Para ela, o momento é uma oportunidade de rever parentes que não costumam se encontrar ao longo do ano. “É uma reunião em família, não só pela questão do presente, mas para ter a união de todo mundo junto”, concluiu.

Correria e união

A babá Sarah Cristina Cardoso da Silva faz aniversário no dia 25 de dezembro. Com uma família muito grande, já que a avó teve sete filhos, o Natal é sempre cheio, reunindo netos, bisnetos e tataranetos. “Para mim, o Natal, além de ser meu aniversário, é a união da minha família”, acrescentou. A data causa muitos sentimentos em Sarah, como a euforia e a ansiedade. “A sensação que eu tenho é que todo mundo está correndo.” Mesmo assim, ela ama manter a tradição de ter todas as gerações reunidas em um só lugar. “Eu gosto de celebrar o Natal com a família. Mesmo sendo muita gente, é algo que faz sentido pra mim porque representa união. Não preciso de luxo ou grandes produções; o que importa é estar todo mundo junto, mesmo com a bagunça, o barulho e a correria”, complementou.

Sarah deseja vivenciar a data como fazia na infância, apenas aproveitando o momento, mas hoje percebe a correria e o esforço por trás da ceia. Ela se alegra com os entes queridos, mas nota quanta responsabilidade existe por trás do evento familiar. Para a babá, essa época traz lembranças marcantes e provoca um balanço do ano que passou. “Como o Natal coincide com o meu aniversário, tudo fica mais intenso: eu reflito sobre o ano, sobre o que vivi, o que conquistei e o que ainda desejo, quase como um fechamento duplo do ano e da minha própria vida naquele ciclo”, desabafou.

Oportunidade de conexão verdadeira

Wander Cleber Pereira da Silva é professor da disciplina de Felicidade da Universidade de Brasília (UnB). Para ele, essa época do ano é encarada como uma grande oportunidade para as pessoas exercitarem aspectos significativos para o bem-estar. “Eu sei que o ano é cheio de datas, algumas mais festivas, outras mais reflexivas, e que podemos fazer coisas significativas ao longo de todo o ano, a qualquer momento. Mas esse clima do Natal, o nascimento do menino Jesus e tudo o que diz respeito a data, normalmente é um feriado que se comemora junto com familiares e amigos”, comentou. Essa comemoração é vista por Wander como uma chance de exercitar atos de bondade, de humildade e, também, de conexão verdadeira com as pessoas. Segundo ele, esses atos valorizam a data e permitem a vivência da felicidade de forma plena.

O professor também considera que os adultos deveriam se espelhar na maneira como as crianças vivenciam a data com intensidade. “As crianças ficam muito felizes nesse período porque elas vivem a experiência em si. É muito mais do que ganhar presentes; é ser lembrado, acolhido, receber carinho e estar todo mundo junto”, afirmou.

Para ele, muitas vezes os adultos não conseguem atingir esse estado por estarem excessivamente ligados à organização da festa e às pressões sociais da data. “É uma época que, para muita gente, é um período de ostentação, de vestir a roupa nova. Isso faz com que acabem perdendo a chance de serem felizes pelo simples fato de estarem juntos celebrando o amor”, finalizou.

O laço está no afeto, não na embalagem

A psicóloga especialista em humanismo, Karoline Miranda, afirmou que o Natal vem acompanhado de memórias afetivas construídas desde a infância. Ela aponta que diversos fatores influenciam essa época, desde a decoração nas cidades e as cantatas de Natal até o feriado e a proximidade com o Ano Novo. Ao fazer um alerta sobre o apelo ao consumo que se intensifica neste período, a especialista pontuou que isso pode estimular o medo de não estar na moda ou de não entregar o presente esperado por uma criança, que, muitas vezes, acaba se entretendo mais com a própria embalagem.

“Por outro lado, precisamos lembrar de um caminho saudável para as festividades de final de ano, que começa com a presença e não com o presente embalado em laço. O verdadeiro laço está no afeto”, salientou. Para ela, o presente real é a vivência do “aqui e agora”, colocando-se a serviço do outro.

Karoline completou que o caminho para celebrações mais significativas está na confiança do que não é passageiro e no equilíbrio do ser humano, reforçando que “menos é mais”. Ela alertou, ainda, que o consumismo e a pressão social por uma “alegria forçada” podem causar esgotamento mental e emocional. “A pressão da alegria está ligada ao corpo perfeito, ao saldo bancário, ao carro da moda e ao post da última conquista”, observou. A recomendação da especialista para este Natal é que as pessoas façam, acima de tudo, o resgate da presença.

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