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Notícia Animal

Os benefícios da equoterapia e do vínculo entre cavalo e paciente

Redação Jornal de Brasília

12/07/2025 9h27

Amanda Karolyne

Melhora na autoestima, na postura, benefícios físicos e mentais. Tudo isso através da abordagem terapêutica interdisciplinar indicada para diferentes diagnósticos.

A equoterapia tem sido demonstrada ao longo dos anos que a interação entre paciente e cavalo faz muito bem para a saúde física e mental. A equipe do Jornal de Brasília conversou com especialistas no assunto para entender os benefícios dessa abordagem terapêutica que estimula o corpo e a mente de quem pratica.

Segundo Pablo Fraga, coordenador do curso de Fisioterapia da Faculdade Anhanguera da unidade de Taguatinga, a equoterapia é indicada para pessoas com diversas condições físicas, neurológicas, sensoriais, cognitivas e até emocionais. Entre elas, estão pessoas com paralisia cerebral, autismo, síndrome de Down, esclerose múltipla, deficiências motoras, distúrbios de equilíbrio e coordenação, ou mesmo com mobilidade reduzida e alterações sem equilíbrio postural. “Nesses casos, a equoterapia é uma opção, já que possui uma abordagem interdisciplinar, que integra muitos aspectos físicos, emocionais e sociais do indivíduo”, afirmou.

O coordenador descreve a equoterapia como uma abordagem terapêutica que utiliza o movimento tridimensional do cavalo como principal recurso para promover o desenvolvimento físico, psicológico, educacional e social do praticante. “O que a diferença de outras terapias convencionais é o ambiente em que é realizado: ao ar livre, em contato direto com a natureza e com o animal. Além disso, trabalha o corpo por meio de estímulos dinâmicos e rítmicos proporcionados pela marcha do cavalo”, destacou. Outro diferencial, segundo Pablo, é o caráter interdisciplinar da equoterapia, que pode ser integrado a áreas como Psicologia, Pedagogia e Fonoaudiologia, ampliando os benefícios do tratamento.

Os benefícios dessa prática são muitos. Fraga destaca que ela envolve diversos sistemas do corpo humano. No sistema motor, por exemplo, há melhora no tônus muscular, no equilíbrio, na melhoria motora e na postura. Já no campo neurológico, há favorecimento da neuroplasticidade, essencial para o controle motor. Do ponto de vista emocional, a equoterapia contribui para o aumento da autoestima, da autoconfiança, da motivação e da sensibilização. “Também há ganhos na atenção, na concentração e na capacidade de lidar com regras e limites. Tudo isso impacta positivamente o desenvolvimento cognitivo e comportamental da pessoa.”

O vínculo criado entre o paciente e o animal também impacta diretamente a saúde emocional. Pablo explica que o cavalo, por ser um animal não julgador e sensível, promove um ambiente acolhedor e seguro, favorecendo vínculos afetivos. “O aspecto emocional do paciente melhorou significativamente, especialmente em quadros de ansiedade, depressão, dificuldades de socialização e traumas emocionais”, complementado. Para ele, trata-se de um vínculo terapêutico baseado na empatia e confiança mútua entre humano e cavalo.

Diferentes programas e avanços visíveis
A proprietária da Equoterapia Apoiar, Marcela Parsons — que também é responsável pelo Paradesporto da Secretaria de Esporte do DF — explica que, nos centros de equoterapia, existem quatro tipos de programas: a hipoterapia, a educação equestre, o pré-esportivo e o esporte. Este último tem o objetivo de promover a inclusão social, melhorar a autoestima e buscar resultados esportivos.

Para ter acesso inicial à equoterapia, é necessário um encaminhamento médico. “Não precisa ser um médico específico, mas é necessária uma indicação para o atendimento”, explicou. Segundo Marcela, nem todos que passam pela equoterapia chegam ao estágio esportivo, mas em todos os programas é possível notar a evolução dos pacientes. “Percebemos isso de várias formas: desde melhora sensorial e intelectual, equilíbrio sobre o cavalo, consciência corporal, troca de olhares com autistas até a verbalização de pacientes que não verbalizavam”, citou.

Em pacientes com paralisia cerebral, por exemplo, Marcela aponta ganhos como controle de tronco, maior força muscular e melhora da postura. “Depende muito do diagnóstico do praticante para sabermos qual será a melhoria física. Mas a mudança é enorme”, frisou.

Ela reforça ainda que o cavalo, na equoterapia, tem função essencialmente terapêutica. “O movimento do cavalo é o que mais se assemelha à marcha humana, mais até do que qualquer outro trabalho fisioterapêutico que você faça”, salientou. “São milhões de estímulos por minuto. Isso melhora de forma global o desenvolvimento do paciente.”

Do tratamento ao esporte paralímpico
A advogada Cibele Miotto, 57 anos, é mãe de Luiz Felipe Miotto Leite, 25 anos, que faz equoterapia desde os dois anos de idade, quando ainda moravam em São Paulo. Felipe tem paralisia cerebral e, por indicação médica, começou a praticar a modalidade. “Ele fortaleceu o tronco, e o cavalo o ajudou demais. A melhoria dele era visível à medida que o tempo passava”, contou a mãe.

Felipe obteve ganhos significativos — não apenas físicos, mas também em cooperação, ativação da saliva e controle postural. “Ele fez equoterapia dos dois aos 15 anos, e depois passou para o quarto programa: o esporte”, explicou Cibele. Na época, ele treinava em São Paulo, mas sonhava em treinar com Marcela Parsons, em Brasília. “Ele acompanhava o trabalho dela e ia aos campeonatos para ver”, lembrou. Até que, com o tempo, surgiu a oportunidade de realizar esse sonho.

Hoje, Felipe compete em campeonatos nacionais e se prepara para uma nova disputa em São Paulo, no mês de agosto. “Isso deu um sentido à vida dele, tudo graças à equoterapia. O esporte paralímpico, que faz parte da equoterapia, é a vida e a alegria dele”, relatou a mãe, orgulhosa. Felipe é considerado um cavaleiro profissional e vive na função do esporte, assim como toda a família, que se mudou para Brasília para que ele pudesse se dedicar integralmente aos treinos.

Para Cibele, valeu a pena ter recomeçado a vida na capital federal. Pela experiência pessoal, ela destaca não apenas a transformação do filho, mas também os resultados positivos que observamos em outras crianças praticantes. “Na época em que o Felipe fazia a equoterapia e entrava de férias, eu percebia que a postura dele mudava, ele já ficou mais curvado para frente. A força que ele tem no tronco veio do exercício no cavalo. Mas era só voltar para a equoterapia que ele já retomou a postura correta.”

Ela finaliza ressaltando que os benefícios não são apenas físicos. “A mudança é grande, não só na saúde física, mas também na socialização de quem pratica essa terapia.”

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