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Na Garagem

Quando a paixão é pelos velhinhos

Repleto de veículos antigos, Veteran Car Brasília mantém e atrai paixão por carros clássicos há 41 anos

Vítor Mendonça

11/07/2024 6h31

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Foto: Vitor Mendonça / Jornal de Brasília

Por mais de quatro décadas, Brasília possui um dos clubes de carros antigos mais diversificados do país. O Veteran Car Brasília (VCB), com recém completados 41 anos, é um deleite para colecionadores e apreciadores de carros na capital. Localizado no Setor de Clubes Esportivos Sul, atrás do Rotary Clube – com quem tem parceria – o espaço é dedicado a veículos conservados com mais de 30 anos de fabricação. O mais antigo data de 1929.

São 26 carros expostos dentro do espaço atualmente, mas nenhum pertence ao VCB. Os veículos são de propriedade dos 55 sócios que compõem o clube e contribuem com o acervo total – que conta com mais de 300 carros. No local, as vagas foram distribuídas de acordo com a contribuição de cada clubista, portanto, alguns sócios possuem de três a quatro vagas, exibindo um modelo de sua coleção particular. Os veículos não são permanentes e as trocas são recorrentes nas vagas.

De acordo com o presidente do VCB, Nelisson Hoewell, porém, nem todos os sócios possuem carros antigos. “Para participar do clube, basta gostar de carros antigos”, explica. “Temos sócios que não têm nenhum, que só é admirador mesmo, que quer divulgar e faz parte dessa cultura antigomobilista. Então ele vem aqui e se associa conosco para participar dos nossos eventos.”

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Foto: Vitor Mendonça / Jornal de Brasília

Conforme contou, há sócios com mais de 30 carros antigos na garagem de casa. O acervo aceita vários modelos, desde clássicos como Mercedes-Benz, Ford, Dodge, Mustang, Cadillac, Alfa Romeo, entre outros, até modelos de linha hot, com características mais esportivas, modificados com características únicas e de estilo irreverente, menos clássicas, como os que possuem um motor cromado à mostra.

História e afetividade

Fundado em 1983, a história do Veteran Car Brasília remete a um período anterior à década de 80, quando existiam circuitos de corrida de rua dentro da capital. “Estas pessoas que corriam foram se tornando mais veteranas e acabaram se reunindo para criar um clube para preservar a memória do automobilismo brasileiro, olhando veículos das décadas de 20, 30, 40, 50, 60 e por aí vai”, contou Nelisson.

O empenho para conservar os carros antigos e a paixão pelo automobilismo dos fundadores e primeiros sócios culminaram na criação do clube há 41 anos. O primeiro presidente do VCB foi Roberto Nasser, jornalista e um dos principais ícones brasileiros no que se refere ao automobilismo no país, com reportagens assinadas para as maiores revistas do setor no Brasil. “Ele era consultor de muitas revistas, como a Quatro Rodas, e colunista de diversos jornais brasileiros.”

Nelisson, gaúcho, veio para Brasília em 1988 e ingressou no clube em 1998. Ele é presidente há seis anos e está no terceiro mandato. Desde a sociedade com o VCB, ele foi diretor financeiro na gestão anterior e chegou à presidência em 2018. “Continuo no Veteran Car e com os carros antigos na veia”, afirmou.

Nelisson é um apaixonado pela Mercedes-Benz e possui quatro veículos antigos da marca que estão expostos no VCB. De acordo com ele, boa parte dos sócios – e dos muitos visitantes – possuem uma relação de nostalgia e de memória afetiva com os carros antigos. Daí nasce a vontade de colecionar e conservar os veículos, uma vez que têm alguma ligação ao passado do admirador.

Para ele, a lembrança remete aos 14 anos de idade, quando a família teve o primeiro carro, que na época ainda não era antigo, uma Mercedes-Benz 230 SV, fabricada em 1939. “E aquilo ficou na minha memória. Cresci pensando que um dia teria aquele carro novamente. Na época ele rodava com todos pensando que era um carro velho”, disse.

“Sempre tive no sangue a ferrugem, como a gente brinca por aqui”, destacou. “E eu o admirava demais. Aprendi a dirigir naquele carro, então para mim aquilo ficou na veia. Quando vim para Brasília, em 1988, comecei a procurar um carro igual àquele que tive quando era mais jovem – mas nunca encontrei no Brasil um modelo de 1939”, contou.

O modelo encontrado por Nelisson foi o de 1951, em São Paulo, no mesmo padrão da Mercedes de 1939 que pertenceu à família. Da cor vinho, o carro está entre os expostos dentro do galpão do VCB.

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Foto: Vitor Mendonça / Jornal de Brasília

“E eu queria colocar a placa preta nele, mas como a regra era que se fosse membro de um clube, eu fui procurar onde teria um aqui em Brasília para me ajudar a torná-lo um carro de coleção. Encontrei o Veteran, continuei a frequentar e, de lá para cá, só aumentou a minha paixão, a minha coleção”, relatou.

Nostalgia

A procura e admiração pelos modelos expostos varia, segundo o presidente. “Não existe uma procura específica aqui, mas existem sim aquelas pessoas que entram aqui, que vêm visitar o acervo, e na hora são puxados pela memória afetiva”, comentou. “Entre os adultos, existem aqueles adultos mais novos e os adultos mais antigos, digamos assim.”

“Eles dizem: ‘meu pai tinha um carro desse’, ou ‘minha mãe gostava muito desse carro’, ‘eu tive um desses’, ‘esse era um carro que eu usava quando era jovem e namorava nele’, entre outras coisas. Dependendo da pessoa, elas admiram um fusquinha e outros admiram, por exemplo, uma Mercedes mais antiga e clássica, da década de 50”, destacou. As crianças, por outro lado, gostam mais de ver um modelo hot.

Critérios para antiguidade

Para ser considerado um carro antigo, é preciso que o modelo tenha saído de fábrica há pelo menos 30 anos e esteja conservado. “Todo carro antigo é um carro velho, mas nem todo carro velho é um carro antigo”, afirmou Nelisson. A regra não foi estabelecida pelo clube, mas é uma norma estabelecida pela Resolução 957/2022 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), que trata dos requisitos para registro e licenciamento de veículos de coleção.

“Veículo de coleção é aquele fabricado há mais de trinta anos, original ou modificado, que possui valor histórico próprio”, destaca o artigo 2º da norma. “O veículo de coleção original deve preservar suas características de fabricação quanto à mecânica, carroceria, suspensão, aparência visual e estado de conservação, equipamentos de segurança, características de emissão de gases poluentes, ruído e demais itens condizentes com a tecnologia e cultura empregada à época de sua fabricação.”

Ainda segundo a Resolução 957/2022, os veículos de coleção são classificados em duas nomenclaturas principais: original e modificado. O original, conforme a norma, é o veículo que tem 80% ou mais das características originais de fabricação. A avaliação é feita por uma entidade credenciada pela União e tem o máximo de 100 pontos.

Já o modificado é o veículo que sofreu modificações, realizadas de acordo com a regulamentação autorizada pelo Contran. Os veículos com originalidade de 80 pontos ou mais são os que podem receber placas pretas, emitidas pelo mesmo órgão.

No Brasil, a organização que realiza as vistorias de veículos antigos em todo o país é a Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA), associada à Federação Internacional de Veículos Antigos (FIVA). Em Brasília, apenas o Veteran Car Brasília e o Mopar Clube Brasília – que trabalha apenas com Dodges – estão credenciados pelas entidades como clubes de veículos antigos e de coleção.

Nelisson explica que a pessoa que quer receber um Certificado de Veículo de Coleção (CVCOL) se candidata e a vistoria é feita no próprio VCB. A análise é submetida à FBVA, que refaz a vistoria por meio das fotos registradas pelos primeiros vistoriadores credenciados. “E aí a Federação que expede esse certificado de veículo antigo de coleção”, disse. O Detran recebe o certificado e poderá expedir a placa preta no veículo.

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