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Moda

Semana de Paris anunciou o básico, o prático e o rígido para a moda que virá

Algumas das grifes mais importantes do mundo diminuíram o peso dos looks para criar uma paisagem de clima ameno

FolhaPress

12/03/2022 8h07

Desfile da Miu Miu. Foto: AFP

Pedro Diniz
Paris, França

O clima esquentou nesses dias de semana de moda em Paris. E não foi só no sentido geopolítico. Apesar de terem apresentado coleções para o outono-inverno de 2022 e 2023, algumas das grifes mais importantes do mundo diminuíram o peso dos looks para criar uma paisagem de clima ameno sem as combinações cheias de camadas comuns em temporadas passadas.

Com a saída de cena da pandemia, os pilares estéticos daquilo que as pessoas se acostumaram a usar na clausura ganharam destaque, a exemplo do conforto, a exposição do corpo e um certo tom de casualidade no ato de se vestir.

Por isso que polainas, jeans e, para a surpresa das alas mais conservadoras da moda, até a camiseta básica –ou nem tão básica assim, como a cheia de paetês desfilada pela Chanel – entraram no vocabulário da próxima estação.

Dos acessórios às roupas, Paris, capital da moda cujas temporadas de desfiles semestrais resumem o que pode chegar ao resto do mundo daqui um ano, diluiu em moda prática o estado das coisas.

Os ombros ainda são ponto de atenção no look do futuro, mas os olhos devem apontar mais para baixo.

Além das botas “over the knee”, acima dos joelhos e quase onipresentes em apresentações como as das marcas Christian Louboutin, Isabel Marant e Saint Laurent, as polainas e as meias na altura das coxas apareceram como acessórios da estação. Práticas, são opções fáceis de usar porque combinam tanto para vestir em casa quanto no dia a dia, porque junto a minissaias, calças ou vestidos, cobrem e afagam na mesma medida.

Mas não se trata de continuar dentro dos pijamas e moletons que viraram febre no ano passado. Os estilistas atualizaram a roupa pandêmica dentro de uma aparente volta à normalidade das festas, dos compromissos de trabalho e de luta por sobrevivência em uma realidade hostil.

Por isso, proteção será uma das palavras-chave do próximo inverno. A ideia foi escancarada em estruturas mais rígidas combinadas a peças leves, como a Christian Dior mostrou ao recuperar a silhueta ajustada do “new look” para oferecer uma série de corsets feitos como coletes à prova de bala. Os da marca controlam a umidade do corpo, enquanto os da Balmain, que embarcou no conceito de forma mais direta, são verdadeiros escudos antiataque.

O clima sombrio que tomou o período de apresentações mostrou como a Balenciaga se conecta aos dias de hoje na imagem soturna costurada em preto e nas camadas rasgadas que são a cara dos novos tempos. Ainda assim, se conserva o espírito esportivo, utilitário, que irá se perpetuar nas vitrines cheias de cáquis, tons de verde, nuances de beges e cores elétricas pontuais desta temporada.

Dentro do prisma da beligerância, não foi surpresa que terninhos e alfaiataria em geral, especialmente a militar com abotoamentos duplos e aplicações, retomaram seu posto na cartilha fashionista. Agora, porém, surgem com verniz mais sexy, próximo do cotidiano pós-pandêmico.

A Hermès talvez tenha sido a que mais bem definiu a tendência. O couro serviu de base para parte dos blazeres combinados a minishorts e “hotpants”, outra peça que é destaque desta temporada. A imagem impressa é doce, mas extremamente sexy.

E não foi só na apresentação da marca, porque para outras que apostaram nos costumes clássicos para elas, lapela, calça e até riscas de giz combinadas a um pouco de pele aparente são um modo de retomar a labuta sem parecer datado.

Uma pele que, aliás, agora aparece de forma menos usual. Os peitos ainda estão abertos para o horror das patrulhas moralistas, com várias marcas descobrindo os torsos femininos e masculinos em blusas feitas ou com tela fina de tule ou joias, como na tela vazada de pedrarias costurada por Isabel Marant. A pelve também irá respirar livre nesses novos ares de inverno.

As cinturas baixas que foram tendência nos anos 2000 e sofreram um revival recente, baixaram até o limite dos ossos, mostrando a roupa íntima como na apresentação da Miu Miu. A grife ainda expõe ser possível combinar a ousadia com acessórios, ajustando cintos bem nas curvas púbicas.

Esse pendor despreocupado para o próprio look, usado também como forma de transmitir algum desleixo, pôs a camisetinha branca como peça-chave. Justas ao corpo, elas ganharam os holofotes desde a temporada de Milão, em desfiles como o da Prada, mas mostraram toda a força em Paris.

Na Chloé dirigida pela estilista Gabriela Hearst elas foram combinadas a calças de couro luxuoso e sapatos fechados, num jogo de mesclar o banal e o elaborado para balancear o novo tom de causalidade proposto por Paris.

Até o denim serviu como matéria-prima. A versão “blue jeans”, mais iluminada, foi a carta na manga de grifes como a novata VTMNTS, que conseguiu costurar de forma que o tecido não soasse desconectado do repertório do luxo. Recortes precisos, aviamentos glamorosos e lavagens bem executadas tiram o ranço de look básico demais vinculado a ele.

É claro, há espaço para um olhar menos funcional das coisas. O surrealismo alinhavado em prints e aplicações absurdas, a exemplo do que fizeram as grifes Schiaparelli e Loewe, essa com bocas, braços e nervuras colados nas peças, ainda têm espaço no armário. São, no entanto, ideias para ocasiões nas quais se permite sonhar.
Pé no chão como poucas vezes se viu nos últimos anos, Paris pareceu mais preocupada em dar respostas aos problemas de estilo dos novos tempos e bem menos interessada em quebrar estruturas, como costuma fazer. Preferiu leituras factíveis, reais, mas nem por isso desinteressadas, do guarda-roupa de agora.

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