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Moda

Entenda como surgiu moda de destruir chuteiras para criar croppeds sensuais

Nas últimas semanas, croppeds, corsets, espartilhos e tops produzidos a partir de tênis e chuteiras têm se espalhado pelas redes sociais

FolhaPress

17/04/2022 12h04

Marina Lourenço
São Paulo, SP

“Reage, bota um cropped”, diz um meme que viralizou no final do ano passado ao atrelar croppeds –tipo de blusa curta, “cortada” em inglês– a uma melhora na autoestima de quem os veste. Isso porque a peça, que já há um tempo domina sobretudo os guarda-roupas femininos, tem uma proposta sexy, muitas vezes convidando quem a veste a exibir parte da barriga.

Agora, até sapatos estão sendo adaptados para o formato. Nas últimas semanas, croppeds, corsets, espartilhos e tops produzidos a partir de tênis e chuteiras têm se espalhado pelas redes sociais e motivado debates sobre técnicas de customização, como D.I.Y. –o Do It Yourself, ou faça você mesmo–, upcycling e bootleg rework.

Depois que celebridades como a cantora Luísa Sonza e a ex-BBB Jade Picon apareceram ostentando looks do tipo, vários internautas replicaram o visual, que pôde ser visto inclusive entre os frequentadores fashionistas do Lollapalooza 2022.

A transformação de calçados velhos em itens sensuais começou com a estilista americana Cierra Boyd, num concurso de design ocorrido em Ohio, em 2019. Após ser desafiada a criar uma peça sem nenhum tecido, ela customizou os tênis de seu pai que estavam largados num sótão. Neste ano, foi convidada pela rapper Cardi B a transformar sapatos verdes da grife Balenciaga num espartilho.

Boyd é dona da Frisk me Good, marca de moda sustentável que cria produtos a partir de roupas velhas –a estilista não afirmou, no entanto, se os sapatos da roupa de Cardi B eram novos. No site da loja, os preços de seus corsets-tênis variam entre US$ 135 (equivalente a R$ 284) e US$ 525 (cerca de R$ 2.494).

Além de Cardi B, outra famosa que usou uma peça da Frisk me Good foi a influenciadora brasileira Lívia Nunes, que vestiu um corset de All Stars amarelos na última edição da Semana de Moda de Paris.

“É uma roupa super ‘instagramável'”, diz a historiadora de moda Maíra Zimmermann ao comentar o sucesso recente do visual. Segundo ela, o cropped de chuteira é uma alternativa para se destacar nas redes, o que ela chama de “diferenciação da massa”. “Sai do comum e traz o sexy, subvertendo o significado da peça original e criando uma nova, de visual imponente.”

Zimmerman ainda ressalta que a transformação de uma peça velha numa nova faz parte da lógica de D.I.Y., que tem ganhado muitos adeptos nos últimos anos –só em abril de 2020, a venda de máquinas de costura disparou em 127% nos Estados Unidos, segundo dados do relatório Youth Culture, da WGSN. No Brasil, as marcas de upcycling Rachels, Iult e Lzro já estão vendendo croppeds feitos a partir de sapatos.

Mas não são todos que usam técnicas de reciclagem para criar a sua versão da peça. Um exemplo é a grife Balenciaga, que recentemente lançou a bolsa “Sneakerhead”, item que no Brasil chegou a custar mais de R$ 15 mil. Inspirado no conceito de “rework”, de “retrabalho” sobre uma peça para dar nova vida a ela, a bolsa faz referência a peças feitas a partir de material reciclado, mas ironicamente passa bem longe desse tipo de confecção.

“Desde que [essa moda] viralizou, muita gente tem comprado chuteiras só para fazer croppeds, se descolando do conceito inicial de upcycling”, diz Zimmermann. “E é um produto muito caro de fazer [sem técnicas de reciclagem].”

A influenciadora Isis Oliveira não chegou a comprar nenhuma chuteira para fazer seu cropped, mas usou uma novinha de seu namorado, que quase não havia usado a peça. Escondida do “boy” –como ela o chama nas redes–, a jovem customizou o calçado dele e gravou um vídeo viral no TikTok ensinando a montar o look.

“Logo que começou a viralizar fotos da Jade Picon [vestindo um cropped laranja de tênis], vários seguidores me enviaram fotos dizendo que eu deveria esconder minhas chuteiras”, diz o também influenciador Geyson Paliot, namorado de Oliveira. “Ela sempre cria coisas com as minhas roupas. Camisa do Vasco, cueca, máscara, tudo.”

Paliot diz que, apesar de gostar muito da antiga chuteira –que custava cerca de R$ 300–, não ficou bravo com a namorada e, em vez disso, ficou empolgado com a repercussão do vídeo. Ele chegou até mesmo a mudar sua descrição no Instagram, definindo a si próprio como o “dono da chuteira cropped”. O mesmo fez Oliveira, que se agora descreve como “a menina do cropped de chuteira”.

A influenciadora diz que amou o resultado da customização e a descreve como “linda e muito confortável”. O estilo, no entanto, é polêmico e há muita gente que não gosta.

“Tem muita gente que acha lindo, criativo e estiloso, mas também tem muita gente que critica”, diz Oliveira. “Tem gente que acha um absurdo fazer isso com uma chuteira.”

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