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Gastronomia

Sorvete de mandioca resgata tradição quilombola no interior do Ceará

Mais do que um produto inovador, o sorvete de farinhada carrega história, memória afetiva e identidade cultural

Alexya Lemos

15/07/2025 9h30

sorvete farinhada joelhocaetano

Foto: Reprodução/ Instagram

É possível imaginar um sorvete feito sem produtos industrializados, com base em farinha de mandioca e leite vegetal? A receita inusitada — e ancestral — tem raízes na tradição quilombola e vem conquistando paladares e prêmios a partir do pequeno município de Tururu, a 107 km de Fortaleza, no Ceará.

A criação é de Joélho Caetano, jovem cozinheiro da comunidade quilombola Conceição dos Caetanos. Inspirado pela rica cultura alimentar herdada de sua família, Joélho desenvolveu um sorvete vegano cuja base leva mandioca e leite, coberto por uma farofa crocante feita de farinha de mandioca, rapadura, coco e manteiga da terra. A versão 100% vegana leva leite de castanha de caju no lugar do leite tradicional.

Mais do que um produto inovador, o sorvete de farinhada carrega história, memória afetiva e identidade cultural. “A cozinha sempre foi o lugar onde eu mais me diverti e experimentei coisas novas”, afirma Joélho, hoje um profissional premiado e respeitado no cenário da gastronomia social cearense.

Da infância simples ao laboratório de inovação

Filho de agricultores e neto da matriarca da comunidade quilombola, Joélho cresceu em um ambiente de forte ligação com a terra e a cultura alimentar local. Durante a infância, conheceu o picolé, mas só na adolescência, durante uma visita a Fortaleza, provou sorvete pela primeira vez.

A curiosidade despertada pela experiência o levou a pesquisar sobre o processo de fabricação. Com o apoio da mãe, montou uma pequena sorveteria em casa, que abriu oficialmente em 2020.

Hoje, a Sorveteria Caetanos, instalada dentro da comunidade, tem como carro-chefe o sorvete de farinhada — produto que também se tornou símbolo do Laboratório de Criação da Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, mantida pela Secretaria de Cultura do Ceará.

O laboratório é um espaço voltado à pesquisa e desenvolvimento de produtos gastronômicos sustentáveis e inovadores, sempre valorizando saberes tradicionais e práticas da economia circular. Foi lá que o sorvete de farinhada ganhou forma final e reconhecimento.

Resgate e valorização da cultura alimentar

A farinhada — mistura feita com farinha de mandioca, coco, manteiga da terra e rapadura — é consumida diariamente nas casas da comunidade Conceição dos Caetanos. O ingrediente, transformado em sobremesa, é agora também um exemplo de como a gastronomia pode preservar culturas e gerar renda no interior do Brasil.

Com uma trajetória marcada por criatividade, respeito às raízes e ousadia, Joélho Caetano mostra que tradição e inovação podem e devem andar lado a lado.

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