A suspensão de dois meses por uso da substância isometepteno, encontrada no medicamento Neosaldina, não preocupa Marcelo Melo para o futuro. Apesar de chateado por ter de ficar fora das quadras até o dia 9 de novembro, o brasileiro tem convicção que o episódio não terá desdobramentos negativos.
“Minha carreira não ficará manchada nem um pouco porque eu não quis me beneficiar de nada e estou tranqüilo com relação à minha inocência. Foi algo que a própria entidade (Federação Internacional de Tênis) considerou leve”, comentou, lembrando que poderia ter recebido uma suspensão de um ano.
O atleta conta que ficou mais preocupado com o patrocínio, mas a empresa que o apóia emitiu nota oficial reconhecendo sua inocência e ratificando a continuidade do acordo. “Já conversei com eles e não vai mudar nada no contrato e na utilização da minha imagem”, comemorou.
A dupla com André Sá, que se tornou a 12ª mais bem sucedida no mundo este ano, também vai continuar. “O André é meu amigo há muito tempo e está me dando força. Ainda não conversei com ele sobre calendário, mas não há dúvida que seguiremos juntos”, garantiu.
Melo e Sá conquistaram neste primeiro ano de parceria o título em Estoril e outro dois importantes resultados em Grand Slam (série que reúne os quatro principais torneios do circuito): semifinais em Wimbledon e quartas-de-final no Aberto dos Estados Unidos. “Desde que começamos a jogar, só subimos no ranking”, lembrou.
“Com a amizade, tudo fica mais fácil. Somos amigos também fora das quadras e esse clima é muito bom”, observou o tenista de 2,02m de altura, que vem se dedicando somente às duplas desde que traçou com Sá o objetivo de chegar ao top 20 do ranking mundial – hoje, Melo é o 25º colocado (mas deve cair para 35º com a punição pelo doping) e Sá e o 29º.
“Sempre gostei muito de jogar dupla e, depois dos ótimos resultados que tive com o André, decidi seguir nesse caminho. Quando eu entro em quadra, me divirto muito mais jogando dupla. E estando feliz os resultados vêm com mais facilidade”, continuou o jogador, que completou 24 anos no último domingo.
Sá, aliás, foi o primeiro a saber do drama de Melo. “Fiquei três dias sem dormir quando fui notificado e só contei para o André mais para frente, depois do Aberto dos Estados Unidos. Eu devia satisfação a ele, mas preferi não prejudicar nosso desempenho na competição. Foi uma atitude correta”, avaliou.
Convocado para defender o Brasil na repescagem da Copa Davis contra a Áustria, Melo ainda tinha esperança de ser inocentando antes do embarque para a Europa. Como o parecer da Federação Internacional de Tênis ainda não havia saído, o jogador decidiu pedir dispensa para evitar uma futura punição ao time.
“O Guga (Gustavo Kuerten) sempre esteve comigo e, por isso, contei a ele no dia do embarque. Os outros não ficaram sabendo. Ou souberam lá, se o Sá e o Guga contaram, ou estão sabendo hoje (segunda-feira). Fiz isso para poupá-los de qualquer preocupação e aleguei ao capitão (Francisco Costa) que estava com problemas pessoais”, lembrou.
A atitude, acredita, não deve prejudicá-lo para uma nova convocação. “Não vejo porque isso pode ser ruim para mim no futuro. Espero que os resultados continuem para que a gente (Melo e Sá) possa voltar a ter uma oportunidade de jogar a Davis”, afirmou.
“Tive dois momentos críticos nessa história, que foi receber a notícia e decidir não ir para a Áustria para não correr o risco de prejudicar a equipe”, acrescentou o mineiro, que, além da Davis, iria disputar pelo menos quatro torneios nas próximas semanas (Metz, Estocolmo, Madrid e Lyon).
Com a suspensão, Melo aproveitará para antecipar as férias e fará “uma longa pré-temporada de quase dois meses em Belo Horizonte” antes de voltar às competições, em novembro, “provavelmente na etapa de Buenos Aires da Copa Petrobras ou no challenger de Kiev”.