Menu
Bem Estar

Consumo de cigarro diminui no DF, mas vapes ainda são problema

Pneumologista alerta para os riscos dos cigarros eletrônicos à saúde

Redação Jornal de Brasília

03/09/2025 6h34

cigarro eletrônico

Foto: Pixabay/Reprodução

Vitor Ventura
redacao@grupojbr.com

Segundo informações da Secretaria de Saúde (SES-DF), havia 204.883 usuários de tabaco no Distrito Federal em 2023. O número representa uma taxa de 8,4% e significa uma diminuição em comparação com 2019, quando o índice era de 12%, com 271.818 usuários. Por outro lado, quando o assunto é o cigarro eletrônico, o DF aparece como a unidade da federação com mais prevalência em 2023, com 5,7%. Os dados são do Boletim Epidemiológico de Controle do Tabagismo, publicado pela Gerência de Vigilância de Doenças e Agravos Não Transmissíveis e Promoção da Saúde (GVDANTPS).

O tabagismo ainda é o principal fator de risco para o câncer de pulmão, responsável por cerca de 85% dos casos da doença. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca) indicam que, entre 2023 e o início de 2025, o Brasil registrou cerca de 704 mil novos casos de câncer por ano, sendo cerca de 32 mil de pulmão. Apesar da redução de usuários de cigarro no DF, os eletrônicos já acendem um alerta em autoridades da saúde.

O coordenador do Programa de Controle do Tabagismo no DF, Saulo Viana, analisa o cenário com preocupação. “O DF deu uma melhorada em relação à prevalência de cigarros e ficou em 14º entre as unidades da Federação. Mas, no uso de cigarro eletrônico, o DF está em primeiro lugar. Os jovens estão utilizando vape cada vez mais cedo. E a dependência da substância sintética é bem maior”, relata.

O vape é um dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEF). Eles são aparelhos que funcionam com uma bateria e têm diferentes formas e mecanismos de ação. Podem apresentar, por exemplo, o formato de cigarros, canetas e pen drives. Em sua maioria, contêm aditivos com sabores, substâncias tóxicas e nicotina, que é a droga que causa a dependência.

Muitas pessoas que começam a usar cigarros eletrônicos imaginam que o risco à saúde é menor, muitas vezes influenciadas pelas propagandas que minimizam a ação do produto no corpo em comparação ao cigarro tradicional. Entretanto, o Inca alerta que usuários de vape estão sujeitos a uma série de implicações à saúde, como envenenamento, convulsões, dependência e doenças respiratórias (incluindo a síndrome respiratória aguda grave – Evali).

Saiba Mais

A Evali (sigla em inglês para e-cigarette or vaping use-associated lung injury) é uma lesão pulmonar associada ao uso de dispositivos eletrônicos para fumar. Ela é um fenômeno de saúde pública que ganhou destaque nos últimos anos. Essa condição é caracterizada por uma série de sintomas respiratórios agudos, incluindo tosse, falta de ar, dor no peito, febre e, em alguns casos, vômitos e diarreia.

A Nota Técnica Conjunta n° 233 de 2025 publicada pela Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, Secretaria da Secretaria de Atenção Primária à Saúde, Instituto Nacional de Câncer e Agência Nacional de Vigilância Sanitária trouxe orientações para que médicos e profissionais responsáveis pelo registro de óbitos preencham corretamente a Declaração de Óbito (DO) em casos relacionados ao uso de cigarros eletrônicos.

Em maio deste ano, uma adolescente de 15 anos morreu por supostas complicações causadas pelo uso do vape no DF. Durante os atendimentos, a jovem relatou que usava o dispositivo havia três meses. Os médicos que a atenderam suspeitaram que a morte ocorreu por Evali.

Especialista alerta para riscos

A doutora Maria Enedina Scuarcialupi, pneumologista e coordenadora da Comissão Científica de Tabagismo da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT), explica que os estudos sobre os riscos do uso de cigarros eletrônicos estão apenas no início, mas que já é possível afirmar que os dispositivos são nocivos à saúde. “Os vapes provocam inflamação nos brônquios que a longo prazo podem levar a quadros respiratórios crônicos, provocam aumento da pressão arterial e aumento dos batimentos cardíacos. Fora as doenças mais agudas como a Evali, que já levou jovens à morte, e Bronquiolite, conhecida como Pulmão de Pipoca”, destaca.

Maria reforça que os cigarros eletrônicos, em sua maioria, possuem nicotina, às vezes até mais do que os tradicionais. “Alguns vapes têm quantidade muito superior à de 20mg que tem o cigarro comum. A nicotina é uma droga que se liga ao receptor nicotínico na célula cerebral segundos após a inalação. Então é liberado o hormônio dopamina em uma quantidade enorme na corrente sanguínea, o indivíduo se sente bem e sempre vai sentir vontade de buscar essa sensação de prazer cada vez mais”, explica a pneumologista.

Para Maria, os dois tipos de cigarro são igualmente nocivos à saúde, mas é necessário olhar com mais cuidado para os eletrônicos. “As substâncias contidas no vape nos preocupam pelo potencial químico de maior dano cardiovascular, respiratório e cancerígeno”, avalia a médica. “Já atendi jovens com falta de ar e tosse por causa do cigarro eletrônico. São comuns crises de ansiedade por não conseguir se conter sem usar o vape, de ter que levantar no meio da noite para usar”, relata Maria.

É válido destacar também que Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe a venda, a propaganda, a importação e a fabricação de cigarros eletrônicos desde 2009. Ainda segundo a agência, cigarros eletrônicos não reduzem o consumo de nicotina, mas sim aumentam a adesão ao tabagismo. “O vape tem todo potencial para causar câncer. Isso leva tempo, talvez ainda não tenha aparecido para nós médicos por se tratar de algo ainda novo”, conclui Maria.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado