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TV/Streaming

Flerte entre Netflix e Warner antecipa ano de confusões entre mundo físico e digital

Com emissoras e estúdios que evitam correr riscos, a fusão deve reforçar o apego a continuações e séries baseadas em títulos pré-existentes

Redação Jornal de Brasília

31/12/2025 11h16

netflix logotipo

Foto: Reprodução

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

No rastro da aclamação de títulos brasileiros como “Ainda Estou Aqui” e “O Agente Secreto” que enfrenta uma jornada difícil rumo ao Oscar em 2026, além de tramas originais como “Pecadores” e “A Hora do Mal”, profissionais do audiovisual terminam 2025 em alerta. Isso porque a compra da Warner Bros. pela Netflix, que aguarda aprovação do governo americano, pode modificar bastante a sétima arte.

A fusão pode, primeiro, dar à Netflix acesso a um vasto repertório de franquias, útil a um serviço que se despede, nesta virada, do fenômeno “Stranger Things”. A Netflix não tem um substituto evidente para sua maior franquia original, mas a solução pode estar do outro lado neste ano, a Warner fez sucesso com um seriado do universo de “It: A Coisa”, em que crianças também enfrentam o sobrenatural.

Isso não quer dizer que Vecna e o palhaço Pennywise, os vilões dessas duas histórias, trabalharão juntos, mas que, com emissoras e estúdios que evitam correr riscos, a fusão deve reforçar o apego a continuações e séries baseadas em títulos pré-existentes.

Não por acaso, a HBO Max, que pertence a Warner, terá um ano baseado em derivados de “Game of Thrones”, com a inédita “O Cavaleiro dos Sete Reinos” e a volta de “A Casa do Dragão”. Na seara do cinema, há ainda o terceiro “Duna”, que deve concorrer com “Vingadores”, que vai testar as forças de uma Marvel tomada por decepções sucessivas nas bilheterias.

Mesmo histórias novas, como as dos novos filmes de Christopher Nolan e Steven Spielberg previstos para o ano, podem ser vítimas da proximidade entre o audiovisual e o governo de Donald Trump. O cancelamento recente de “Boots”, série da Netflix sobre um militar gay que ganhou o público e a crítica, pode indicar que a plataforma se curvará ao conservadorismo para aprovar a fusão e outras medidas.

Depois de um ano que enterrou os super-heróis, que hoje dificilmente arrecadam bilhões, como atestaram “Quarteto Fantástico” e “Superman”, a Netflix pode ainda reduzir o tempo de exibição dos títulos da Warner em salas de cinema. Embora o CEO da plataforma, Ted Sarandos, tenha dito não haver planos para isso, a fusão deve fortalecer o chamado consumo domiciliar de filmes.

Já no Brasil, se depender da Globo, os celulares, dentro ou fora de casa, vão se equiparar aos televisores. As novelas verticais, derivadas de experimentos em redes como a chinesa Kwai, fizeram sucesso em 2025. A proximidade entre canais abertos e a internet, aliás, deve ser maior, e o Globoplay se prepara para exibir uma espécie de dorama, como são chamados os dramas sul-coreanos, escrito por Walcyr Carrasco.

Enquanto isso, o SBT seguirá colhendo frutos da boa audiência de influenciadores como Virgínia Fonseca. O canal criado por Silvio Santos tenta se recuperar de uma dança das cadeiras que gerou poucos resultados e, mais recentemente, de uma polêmica que surgiu no lançamento do SBT News, devido à presença de Lula no evento, às vésperas deste ano eleitoral.

O universo político, aliás, também será importante. No Senado, haverá novas discussões sobre a inteligência artificial, que trouxe à tona uma série de atritos na indústria criativa, e sobre o PL de regularização do streaming, que não alcançou um ponto final em 2025.

Outro imbróglio terá como palco o Theatro Municipal, em São Paulo, que teve seu recente edital para a seleção de uma nova empresa gestora anulado. O duelo entre a esquerda e a direita ao redor da instituição deve seguir em 2026 e rondar uma agenda com óperas como “Intolerranza”, de Luigi Nono, e “Tristão e Isolda”, de Richard Wagner.

As artes cênicas também têm impasses a resolver com a 11ª Mostra Internacional de Teatro de São Paulo, prevista para acontecer no início de março. Em 2025, ao completar uma década, o evento teve o seu orçamento reduzido, o que levou a uma edição menor do que o previsto.

O ano também terá estreias de vulto, entre elas “Medea”, reimaginação da tragédia de Eurípides por Gabriel Villela, um monólogo com Chay Suede, galã que caiu nas graças da internet, além de musicais sobre Gal Costa e Gilberto Gil e uma nova e grandiosa versão da “Ópera do Malandro”, de Chico Buarque.

Já nos shows, dos quais Gil se despede, o sucesso de artistas fora do eixo anglófono deve continuar. Bad Bunny, grande símbolo dessa onda, disputará o Grammy após vencer o Grammy Latino, se apresentará no Super Bowl e já esgotou os ingressos de seus dois shows em São Paulo, feito raro no Brasil para quem canta em espanhol.

Rosalía, por sua vez, leva a “Lux Tour”, sua turnê mais recente, ao Rio de Janeiro, com um show em agosto. A capital fluminense ainda receberá Elton John, que trará ao Brasil seu show de despedida, no Rock in Rio —que recebe ainda o k-pop pela primeira vez no festival, com a banda Stray Kids. O AC/DC volta ainda para aquele que pode ser o seu último show ao vivo no país.

O BTS, sucesso do k-pop que domina as redes, realizará uma grande turnê mundial após o hiato de anos causado pelo serviço militar imposto aos seus membros. Ainda não há parada confirmada no Brasil, mas a expectativa dos fãs é grande. Incerto também é o próximo megashow gratuito em Copacabana, já confirmado, mas ainda sem anfitrião revelado, depois do sucesso de Lady Gaga e Madonna nos dois últimos anos.

No mundo pop, por fim, o Lollapalooza, em São Paulo, reúne em março divas novinhas, como Sabrina Carpenter e Chappell Roan.

A seara musical seguirá atenta aos avanços da inteligência artificial, assim como o mercado de livros, agora que empresas de tecnologia fogem de disputas judiciais com autores e editoras pelo mundo afora, no rastro de uma pilhagem histórica de obras brasileiras bastante relevantes.

No campo educacional, a mudança na lista de leituras da Fuvest para o vestibular de 2026, formada apenas por mulheres, reacende discussões sobre formação de leitores. Enquanto isso, o calendário brasileiro se prepara para as próximas edições da Flip, em Paraty, a Feira do Livro e a Bienal do Livro, as duas em São Paulo, que podem reforçar a influência das redes sociais sobre critérios de curadoria e planejamento.

Novos livros de autores como Patti Smith, Thomas Pynchon e Mariana Enriquez, além dos centenários de Autran Dourado e Carlos Heitor Cony e da queda de Thomas Mann em domínio público, devem movimentar ainda o mercado editorial.

Nas artes plásticas, que este ano também debateram os limites da autoria frente ao avanço da IA, o grande destaque será a 61ª Bienal de Veneza. O pavilhão do Brasil apresenta o projeto “Comigo Ninguém Pode”, de artistas Adriana Varejão e Rosana Paulino. A mostra principal, por sua vez, executa de maneira póstuma o projeto da camaronesa Koyo Kouoh, morta de forma repentina em maio passado.

No Brasil, 2026 terá aniversários e retrospectivas de peso. O Instituto Inhotim celebra 20 anos com exposições de Dalton Paula e Davi de Jesus do Nascimento, o MASP terá como destaque artistas latino-americanos, como a peruana Sandra Gamarra Heshiki e o venezuelano Jesús Rafael Soto, e a Pinacoteca faz uma festa no Carnaval.

O mercado de arte segue em alerta no novo ano. Depois de uma crise aguda no pós-pandemia e ligeiros sinais de recuperação nos últimos leilões em Nova York, resta ver como grandes galerias vão resistir, da mesma forma que as feiras, setor que neste ano verá surgir uma versão da Art Basel em Doha e uma edição da Frieze em Abu Dhabi.

Também no horizonte, veremos os desdobramentos da investigação do roubo das joias do Louvre e de Henri Matisse e Candido Portinari na Biblioteca Mário de Andrade. As disputas envolvendo herdeiros de Alfredo Volpi e Tarsila do Amaral também prometem seguir nas manchetes, o que pode manchar o legado dos artistas.

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