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Novos escritores: Literatura feita a várias mãos, mentes e corações

Arquivo Geral

05/10/2016 7h00

“Muitos autores que jamais teriam vez com grandes editoras chegam até nós. Podemos acompanhar o crescimento de cada um a partir das nossas conversas”. Rafael Bicalho, criador da plataforma Temos Histórias

Larissa Galli
cultura@jornaldebrasilia.com.br

Em janeiro deste ano, o publicitário brasiliense Rafael Bicalho lançou a plataforma de literatura colaborativa Temos Histórias (temoshistorias.com). Segundo ele, a ideia do projeto surgiu a partir do estigma de que os jovens não gostam de ler, e de que a internet tem feito com que as pessoas abandonem os livros. “Nós acreditamos justamente no contrário! Os jovens estão cada vez mais sedentos por informação. Mas buscam por informações muito segmentadas, de acordo com seus interesses”, explica Rafael.

Inspirado pelo sucesso das fanfics (narrativa ficcional, escrita e divulgada por fãs no mundo virtual), Rafael conta que percebeu a necessidade desses autores dessas histórias de trabalhar com o que realmente gostam e ter um retorno financeiro. “As famosas fanfics movimentam milhares de visualizações e acessos nos sites especializados. As jovens autoras com idades entre 15 e 23 anos têm livros lidos mais de 2 milhões de vezes, mas não ganham um centavo criando esse conteúdo!”, ressalta. “A nossa ideia é dar a elas um retorno financeiro”.

Saiba mais

  • “A TCD é sobre empatia, esse grupo é a chance de exercer a sua”. Essa é a mensagem de boas-vindas ao grupo fechado. Lá, os administradores prezam pela interação e criação de um elo entre os membros.
  • A ideia é que os participantes absorvam o conteúdo dos textos enviados, que leiam os escritos uns dos outros e ajudem com um feedback nos comentários.

Existem dois projetos dentro da plataforma: Essa História É Nossa e Essa História É Minha. O primeiro é voltado para a literatura colaborativa: os jovens se unem para escrever um livro juntos. Depois de pronto, caso a publicação alcance mil curtidas no Facebook, “nós nos encarregamos de lançar em todas as plataformas digitais e o lucro é dividido em partes iguais entre todos os envolvidos na obra”.

“Ficamos muito felizes de perceber que recebemos os mais diversos tipos de publicação. Muitos autores que jamais teriam vez com grandes editoras chegam até nós. Podemos acompanhar o crescimento de cada um a partir das nossas conversas”, continua Rafael.

Além da superfície

Criada em abril deste ano, a TCD – Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente é uma página do Facebook (facebook.com/textoscrueisdemais) administrada por um grupo de amigos de forma colaborativa. O estudante de publicidade e propaganda Igor Pires, de 21 anos, teve a ideia inicial e chamou as amigas Giovanna Freire, Júlia Rabêlo, Jéssica Ferreira e Yasmin Vieira para participar do projeto. “Eu estava no ônibus e me veio a cabeça que as pessoas não paravam para ler textos mais densos no Facebook. Eu nunca tinha visto nenhuma página que publicasse textos cruéis demais para serem lidos rapidamente”, explica Igor.

Desde o começo, a ideia era que cada um dos administradores da página escrevesse seus textos e os publicasse. “Funcionava muito na colaboração de cada um dos integrantes”, explica Igor. “Era uma forma de a gente escrever e saber o que o outro tava passando”, completa. Os textos escritos pelos administradores da página não são assinados, “porque a intenção é ser uma propriedade da página”. Os autores optaram pelo uso da hashtag #textoscrueisdemais para sinalizar isso mais fortemente.

Você para pra ler textão no Facebook?

Com mais de 250 mil curtidas, a página Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente é uma forma de incentivar a literatura autoral e colaborativa na internet. Dar voz, espaço e visibilidade para textos autorais é uma das conquistas do projeto. Além da página, existe um grupo fechado, formado por leitores e escritores, no qual os membros podem publicar seus próprios textos autorais. Toda semana, os administradores escolhem textos enviados para serem publicados na página.

Igor acredita que quem lê a TCD consegue mergulhar nos sentimentos dos outros, se identificar, ter empatia e entender que “todos estamos no mesmo barco do sentir”. A brasiliense estudante de jornalismo Ana Luisa Leite, de 21 anos, confirma as expectativas do criador do projeto. “Eu gosto muito da página pela qualidade dos textos. Além de serem muito bem escritos, eles transmitem sensibilidade em cada parágrafo. Têm dias que fico horas lendo as postagens”, afirma a leitora.

De acordo com Igor, a maioria das pessoas tem a errada compreensão de que literatura é só aquilo que vende e que está visível, por isso é tão importante incentivar a literatura autoral e colaborativa. “Falar de literatura autoral é dar voz às pessoas que não estão na mídia, é dizer que elas podem e devem escrever sobre o que estão passando”.

Segundo ele, o mercado editorial brasileiro ainda é muito centralizado, mas a internet é um oportunidade para mudar isso. “Das editoras e gráficas, os caminhos até chegar às livrarias ainda é muito distante. Agora é que a internet começou a alavancar escritores fora do padrão, que não escrevem romance e literatura clássica, como Eu Me Chamo Antônio e Um Cartão, por exemplo, que são formas de literatura mais descentralizadas, não-lineares”, finaliza.

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