ANDRE MARCONDES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Zé Ramalho é um dos artistas mais icônicos da música popular brasileira. Em sua obra, ele equilibra o lirismo do sertão com uma visão universalista, abordando questões que transcendem fronteiras geográficas e culturais.
Nascido em Brejo do Cruz, na Paraíba, em 1949, Ramalho trouxe para o cenário musical brasileiro um estilo único que sintetiza o misticismo e o cotidiano, abordando temas que vão do sertão nordestino à condição humana, passando por questões sociais, políticas e existenciais.
O espetáculo “O Admirável Sertão de Zé Ramalho”, que estreou no dia 7 deste mês, no Sesc 24 de Maio, presta justíssima homenagem ao multiartista que tem mais de 40 anos dedicados à música, à composição e à poesia.
Explorando o cancioneiro de Zé Ramalho, sua literatura e os cenários marcantes de sua trajetória de maneira inovadora e não biográfica, o musical que tem direção de Marco André Nunes e dramaturgia assinada por Pedro Kosovski, fazem com que os elementos da obra do paraibano ganhem vida no palco.
Nesse formato, Zé, o personagem, se manifesta apenas nos números musicais, resultando em uma experiência inédita.
O elenco, liderado por Adriana Lessa, além de Ceiça Moreno, Cesar Werneck, Duda Barata, Marcello Melo, Muato, Nizaj, Ricca Barros e Diego Zangado, guiam o público por uma apresentação com múltiplas perspectivas e histórias interligadas. São cinco módulos temáticos: “Brejo da Cruz”, sobre as origens de Zé; “Campina Grande”, onde surgiu seu interesse pela música; “João Pessoa”, fase lisérgica que marca o início das composições; “Rio de Janeiro”, que retrata sua batalha por um lugar ao sol; “Popstar”, destacando sua consagração com sucessos como “Admirável Gado Novo”, “Garoto de Aluguel”, “Pedra do Ingá” e “Chão de Giz”.
TRÊS PERGUNTAS PARA ADRIANA LESSA
- Qual sua relação com Zé Ramalho e suas músicas e como está sendo fazer esse trabalho, que já passou por cidades do Norte e Nordeste e Rio de Janeiro?
Muito especial estrear com você o espaço “Mis-en-scène” e poder reverberar aqui a alegria da celebração que realizamos no palco, através do musical “O Admirável Sertão de Zé Ramalho”, idealizado pelo produtor Eduardo Barata, sobre a arte e trajetória de vida de Zé Ramalho, este grande artista paraibano que levou para o mundo a força do nordeste através de sua música.
Entre os anos 1979/1980, a música de Zé Ramalho começou a fazer parte de minha vida através de seu frevo forró frenético com lirismo místico cantado na linda voz de Amelinha em “Frevo Mulher”. É transformador trabalhar neste universo mágico de Zé Ramalho. - O que significou para você ter substituído a grande atriz Léa Garcia nesse musical?
Foi uma grande honra e também uma responsabilidade dar continuidade ao trabalho de Léa Garcia neste musical. Seu legado e memória permanecem vivos em mim. Léa apresentou valiosas contribuições e transformações sociais ao longo de sua carreira, assim como através de seu trabalho no Teatro Experimental Negro, ao lado de Abdias Nascimento.
Léa Garcia é uma importante referência para a cultura brasileira. Pioneira do teatro, do cinema e TV, foi a primeira artista brasileira indicada à Palma de Ouro, no Festival de Cannes, em 1957, representando o Brasil, como Melhor interpretação feminina por sua atuação no filme “Orfeu Negro”, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, em 1960. - Falando sobre essa representatividade, atualmente três novelas que estão no ar na Rede Globo, têm como protagonistas mulheres pretas (Duda Santos, Jéssica Ellen e Gabz). Qual é o seu sentimento sobre isso?
Parabenizo as talentosas atrizes e alegro-me com elas e com elas. É o momento para celebrarmos a continuação dos sonhos de nossos ancestrais, mas ainda há muito caminho a percorrer. - Sesc 24 de Maio – r. 24 de Maio, 109, República, região central.
Qui. a sáb., 21h. Dom. e feriados, 18h. Até 8/12.
A partir de R$21, em sescsp.org.br. e nas bilheterias das unidades do Sesc.