Eric Zambon
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O passado de luta política do Midnight Oil deixou a banda australiana à vontade ao desembarcar no Brasil e se deparar com as manifestações da última sexta-feira. Por telefone, o guitarrista Jim Moginie se animou com o barulho da marcha de protestos, ouvida através das janelas do hotel onde estava, no Rio de Janeiro. “Está ficando cada vez mais alto. Uau!”, excitou- se. Para a apresentação às 21h30 de hoje, no espaço NET Live, ele promete se juntar à luta de alguma forma. “É importante as pessoas pensarem e dançarem ao mesmo tempo”, resume.
Para Moginie, a união dos trabalhadores é “maravilhosa” e todos os protestos se resumem a uma máxima. “É sempre a mesma coisa: os ricos ficando mais ricos e os pobres cada vez mais pobres”, opina. Nesse contexto, fazer canções e shows ganha outra conotação. “Todo mundo tem uma opinião sobre o que acontece, mas ninguém parece querer falar de política o tempo todo. Só que não se pode ter música sem política”, defende.
Ele ainda puxa a sardinha para o lado do Midnight Oil e garante que, mesmo sem lançar material novo há 15 anos e fora dos palcos desde 2009, o grupo pode surpreender. “Depois de 25 anos fazendo isso direto, você fica um pouco cansado, mas depois recomeça e dá um novo toque a tudo. É maravilhoso poder fazer isso e as plateias têm sido fantásticas”, orgulha-se. “Começamos a escrever sobre as mudanças do mundo e as pessoas escutaram. As músicas representam algo, não são ‘baby baby baby’. É muito mais”, diz, alfinetando o cantor Justin Bieber, intérprete da letra citada.
A origem
Formada há cerca de 40 anos em Sydney, a banda se valeu da crescente demanda por políticas ambientais da época para criar uma identidade. Isso tornou a banda algo único no cenário do país, mas também dificultou o sucesso. Foram seis anos até o lançamento do primeiro álbum, homônimo, de 1978. “A indústria não queria saber muito disso, mas as pessoas começaram a ir aos shows e as gravadoras se interessaram”, relembra Moginie.
Desde então, foram 13 álbuns de estúdio até 2002, além de sete gravações ao vivo e coletâneas. Depois, eles entraram em um hiato e só fizeram apresentações eventuais. Muita coisa aconteceu nesse meio tempo. O vocalista do grupo, Peter Garrett, foi ministro da Austrália por duas vezes e o restante se envolveu em projetos solo. Encerrado o turbilhão de emoções e experimentações, eles resolveram voltar às origens.
Devido ao volume de material, o Midnight Oil ensaiou 170 músicas nos últimos cinco meses para poder diversificar o setlist de cada performance. Desde o começo do ano, entre os shows de aquecimento, na Austrália, e o início da turnê mundial The Great Circle, no Brasil, foram sete apresentações e 67 canções tocadas. Portanto, para o show de hoje, pérolas como Run By Night, do álbum de estreia, podem figurar ao lado dos sucessos como Beds Are Burning, de Diesel and Dust, e Blue Sky Mine, do trabalho homônimo.
“Nunca tínhamos tido tanto controle sobre nosso material antes. Estamos resgatando algumas b-sides também”, revela o guitarrista Jim Moginie. “Nós pensamos: ‘Por que paramos de tocar essa? Vamos tocar!’ e coisas assim. A internet mudou o jeito de as pessoas se relacionarem com a música, então é bom escutar coisas que não conheciam”.
Quem mais deve se empolgar com o repertório nostálgico são os mais velhos. “Os pais que nos escutavam há 25 anos estão trazendo as crianças. Isso é maravilhoso”, conclui Moginie, empregando seu adjetivo favorito pela última vez na conversa de 15 minutos.
Serviço
Onde: Net Live Brasília (Shtn, Tr. 2, Cj. 5, Lt. A)
Quando: Hoje, às 21h20.
Quanto: R$ 230 (camarote meia/Promo NET), R$ 180 (Pista Premium meia/Promo NET) e R$ 100 (meia/Promo NET). Vendas pelo site eventim.com.br.