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Folhetim "Outro Lugar na Solidão"

Três anos antes…

Folhetim – Outro lugar na Solidão. Capítulo 13

Redação Jornal de Brasília

30/07/2020 10h40

Atualizada 04/08/2020 12h32

Por Marcos Linhares, Adriana Kortland e Marcelo Capucci
Especial para o Jornal de Brasília

Chiara Vicenza levantou-se ao terminar de saborear os camarões salteados em ervas finas e beber sua meia garrafa do premiado vinho da temporada internacional. Foi até o quarto, escovou os dentes, retocou a maquiagem e desceu as escadas do palacete. Como seu marido Giaco Maurício não estava em casa, já que vivia enfiado em plantões hospitalares, e ela não tinha mais assuntos para tratar, disse:

– Obrigada pela companhia, minha sogra, mas tenho de voltar para o escritório. Vou mostrar um projeto para um cliente e visitar uma obra. Nos vemos à noite.

Dona Layla saltou da cadeira, após o último gole de café, pedindo:

– Chiara, me leva até o salão de beleza? Eu não aguento mais ficar presa nessa casa. Giacomo foi à Brasília e meu Giaco não sai do hospital. Preciso de uma massagem, uma tintura no cabelo, fazer as unhas…

Chiara torceu o nariz, mas como já conhecia a socialite, disse “sim” para a sogra que em um minuto já empunhava uma enorme bolsa de grife.

Layla entrou no carro da nora e não sabia se arrumava a maquiagem no espelho do banco do carona ou se navegava no Whatsapp. Ainda assim, sem olhar pra Chiara, perguntou:

– Você tá bem pra dirigir depois de tanto vinho?

– Só bebi um pouquinho pra te acompanhar nesse almoço… Além disso, umas tacinhas não me atrapalham em nada, ao contrário, me relaxam, me deixam mais criativa.

As duas sabiam que a preocupação da sogra pela nora já tivera momentos tensos, principalmente os que envolviam bebidas e dificuldades de Chiara em engravidar. Layla já havia feito comentários maldosos e cobranças ríspidas. Chiara se esquivava ao menor sinal de temas pessoais com a sogra. Em silêncio, manobrou no imenso pátio da mansão e mirou a casa, que habitava há anos, pela tela do painel. Lembrou-se das vezes em que implorou a Giaco que comprassem um apartamento, um canto mais reservado. Mas o médico super atarefado sempre quis estar perto dos pais idosos.

Colocou os óculos escuros e saiu pelo portão principal, engasgada. Nem sequer acenou para o segurança uniformizado, imóvel, sob o sol escaldante.

Como estavam paradas em um pequeno congestionamento pós almoço, Layla resolveu largar o celular no console do veículo para checar o batom. Queria chegar bem ao salão de beleza. Melhorou a make, movimentou os cabelos e, ao chegar ao destino, beijou Chiara, que engatou o Drive e seguiu seu caminho sem perceber que o telefone de Layla havia ficado no carro.

Chiara se assustou com um toque de celular diferente do dela e só então viu que o aparelho da sogra estava em seu console central a receber mensagens de Jamil. Ela nem precisou tocar no gadget para ver os textos curtos que apareciam na tela de abertura com notificações que a deixaram aflita:

“Que delícia de hobby, ontem.”

“Quando te terei de novo?”

“Seu cheiro não sai…”

“Por isso te fiz um filho.”

Chiara quase enlouqueceu. Ziguezagueou, imprudente, para voltar e devolver o maldito smartphone. Circundou o quarteirão e avistou a sogra na calçada:

– Meu amor, como você leu meus pensamentos e voltou tão rápido… Obrigada por trazer meu X Plus Advanced de volta pra mim…

– É… foi tarde demais! Se eu soubesse o que me esperava teria andado na contramão… Mas, tá entregue, né?! Respondeu Chiara, constrangida.

Layla não entendeu nada nas entrelinhas do comentário da nora, se despediu e assim que o carro avançou pela avenida digitou sua senha. Ao abrir as mensagens, ligou para Jamil, esbravejando:

– Eu já falei um milhão de vezes pra você parar de me mandar mensagens como seu eu fosse umas das vagabundas com quem você se envolve por aí. Será que você poderia me respeitar e ser mais discreto?!

Empunhando uma cerveja em um boteco de sinuca, às 2 e quinze da tarde, Jamil retrucou, seduzindo:

– Não entendi o motivo de tanta raiva depois de um encontro tão interessante e intenso entre nós dois, minha princesa.

– Cale a boca! A bêbada da Chiara leu as mensagens que você me enviou, ou pelo menos parte delas.

Como assim? Eu mandei pro seu celular, disse Jamil, perplexo:

– Peguei carona com ela e acabei esquecendo o celular no carro. Ela voltou para devolver. Mas, pela cara, tenho certeza que leu.

– Meu Deus, vociferou Jamil. E agora, o que faremos? Falei até do nosso filh…

– Silêncio! Jamais diga que o meu Giaco é seu filho. Aquilo foi um erro, uma aventura. Giacomo Maurício Brecchia é meu fruto com o homem mais poderoso da cidade, nunca se esqueça disso.

– Você pode berrar, eleger quem você quiser… Mas, se fizer DNA, vai se lembrar que o doutor formado na Inglaterra tem meu sangue nas veias. Sangue de macho.

– Vamos parar com essa conversa, preciso ligar pra Chiara. Tô muito preocupada com a reação dela. Apesar de meio bêbada, como sempre, confesso que fiquei “com a pulga atrás da orelha” pelo jeito com o que ela me olhou e falou. Te mantenho informado. Beijo.

Pedindo outra cerveja e passando giz na ponta do taco, Jamil pensou:

– Ela xinga, xinga mas se despede mandando beijo.

CONTINUA NA PRÓXIMA TERÇA-FEIRA

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