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Literatura

Centenário de Saramago: professora do DF observa atualidade da obra do escritor português

Para a educadora, o fato de a abordagem do autor ir além do óbvio, com críticas complexas, contribui para que ele permaneça atual

Redação Jornal de Brasília

27/04/2022 19h53

Foto|Casa de América|Divulgação

Por Catharina Braga
Agência de Notícias do CEUB/ Jornal de Brasília

No ano do centenário de José Saramago (ele nasceu em 16 de novembro de 1922), a obra do célebre autor português é revisitada com especial interesse. A professora Laryssa Santana, que dá aulas em Brasília de literatura e de redação , afirma que o vencedor do Nobel de Literatura (1998) tem livros visionários e que continuam atuais.

A professora Laryssa Santana tem tamanho fascínio por Saramago que tem tatuagens em homenagem a ele. Para a educadora, o fato de a abordagem do autor ir além do óbvio, com críticas complexas, contribui para que ele permaneça atual. “A hipocrisia e os problemas da época em que ele escrevia não mudaram tanto”, afirma. 

Acidez

José Saramago é considerado um dos principais responsáveis pelo reconhecimento internacional da prosa em língua portuguesa. Segundo Laryssa Santana, isso deve à qualidade da sua obra como um todo, com críticas ácidas e com muitas metáforas para retratar problemas sociais pouco discutidos, e à ampla tradução dos seus livros para mais de 40 idiomas, permitindo que pessoas ao redor do mundo conhecessem melhor o seu trabalho.

Professora Laryssa estuda a obra de Saramago. Foto: Arquivo pessoal

Entretanto, como a sua escrita é considerada difícil, com fluxo de consciência intenso, com o hábito de trocar ponto final ou interrogação por vírgula e longos parágrafos, a professora aconselha aqueles que nunca leram nada dele a começarem não pelo seu livro mais famoso, “O ensaio sobre a cegueira” (1995), mas sim pelo “O Conto da Ilha desconhecida”. Ela acredita que, por ter apenas 56 páginas, seja mais fácil para um primeiro contato com a estética rebuscada do escritor português. 

Laryssa Santana acrescenta que adaptações cinematográficas das obras do autor, como a versão estadunidense de 2013 de “O homem duplicado”, podem funcionar como um auxílio para entender o livro por meio de uma visão mais ampliada que, às vezes, o trabalho literário não consegue transmitir com tanta clareza ao público. Ela vê como uma boa forma de se aprofundar na história por meio de comparações entre o enredo do cinema e o da literatura. 

A admiração da professora pela obra de Saramago está inscrita em tatuagem na pele dela. Foto: Arquivo pessoal

Infância 

José de Sousa Saramago nasceu em 16 de novembro de 1922 em Azinhaga, Portugal. Como vinha de uma família de agricultores conhecidos como “Saramago”, que é uma planta nativa da sua terra natal,  teve erroneamente esse apelido registrado como sobrenome. Pouco antes de completar dois anos, mudou-se para Lisboa, onde passou grande parte da sua vida. Desde de cedo, demonstrou interesse pela cultura e pelos estudos, o que o fez visitar com frequência a Biblioteca Municipal Palácio de Galveias. Porém, devido a dificuldades financeiras, o autor foi impedido de frequentar a universidade, formando-se em uma escola técnica. 

Vida adulta e fama

Após concluir a escola técnica, trabalhou como serralheiro por dois anos e depois foi funcionário público da Saúde e da Previdência Social. Autodidata, adquiriu grande cultura na literatura, filosofia e história.

Estreou na literatura com o romance “Terra do Pecado” (1947). Foi diretor literário de uma editora, jornalista e tradutor, também colaborando com vários jornais. Em 1969, aderiu ao Partido Comunista, nessa época clandestino, e ainda participou da Revolução dos Cravos, que pôs fim à ditadura de Salazar em Portugal no dia 25 de abril de 1974.

Saramago pertenceu à primeira Direção da Associação Portuguesa de Escritores e foi presidente da Assembleia Geral da Sociedade Portuguesa de Autores entre 1985 e 1994. Sua trajetória literária passou por várias fases:

  • A primeira foi marcada pela poesia, com “Os Poemas Possíveis”(1966) e “Provavelmente Alegria” (1970), e pela crônica “Deste Mundo e do Outro” (1971).
  • A partir do final dos anos 70, dedicou-se ao teatro e escreveu: A Noite (1979), peça que tem como cenário uma redação de um jornal na noite de 24 para 25 de abril de 1974. A peça recebeu o Prêmio da Associação de Críticos Portugueses.
  • A ficção de Saramago começou com o romance “Manual de Pintura e Caligrafia” (1976). 

As suas obras literárias apresentam temática social, crítica política e religiosa, elementos do realismo fantástico e defesa do protagonismo humano como solução para os problemas sociais. Além do uso de alegorias e da análise do passado histórico, uma das principais características do escritor é a intertextualidade, muito presente em relação a autores portugueses clássicos, como Camões.

Morte

José Saramago morreu, aos 87 anos,  no dia 18 de junho de 2010  na sua casa em Lanzarote, onde residia com a sua esposa,Pilar del Rio.  Vítima de leucemia crônica, o escritor estava doente há um tempo, e o seu estado de saúde agravou-se na sua última semana de vida. O seu funeral teve honras de Estado, e o seu corpo foi cremado no Cemitério do Alto de São João. As cinzas do escritor foram depositadas aos pés de uma oliveira, em Lisboa, no dia 18 de junho de 2011.

Em 2021, um ano antes do centenário do seu nascimento, foi condecorado com o grau de Grande-Colar da Ordem de Camões por “serviços únicos prestados à cultura e à língua portuguesas”, sendo o primeiro membro titular desta ordem honorífica recém-instituída.

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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