Zezé Motta se destacou ao dar vida a Xica da Silva, a protagonista do filme de 1976 de mesmo nome, dirigido por Cacá Diegues. A atriz relembrou o seu papel na novela e o kikiki que ele gerou na sociedade, garantindo que a personagem foi um divisor de água em sua vida como atriz.
“Me lembro quando fiz o teste para Xica da Silva (…) Foi uma angústia, porque fiz o teste, fui para a Bahia fazer um outro filme, A Força de Xangô (1978), com o Iberê Cavalcanti, e ficava lá na expectativa, sabe? Procurando em alguma banca se tinha jornal do Rio de Janeiro, e ligando para as pessoas para saber se já tinham resultados, quem ganhou, porque o Cacá Diegues testou várias artistas, bailarinas, atrizes, modelos; e ele chegou a dizer que se não encontrasse a artista que achava que se encaixava na Xica da Silva que ele tinha na cabeça, se não encontrasse essa pessoa, iria desistir do projeto”, conta.
“E aí foi incrível ter passado nesse teste. Fiz o teste, fui para a Bahia na expectativa, e chegou uma hora que eu falei: Não, calma, uma hora vai vir o resultado. E no dia que cheguei da Bahia, 30 dias depois, mais ou menos, eu estava almoçando, o telefone tocou, o convencional (risos). Fui atender – Lembro que estava almoçando, devia estar só, para ter parado de almoçar e atender o telefone. Aí, falei: Boa tarde! A pessoa falou: ‘Boa tarde, Xica da Silva!’. Quase tive um treco, perdi a fome (risos)”, continua.
Por conta do erotismo da personagem, Zezé se tornou um símbolo sexual. Ao ser questionada sobre isso, a veterana relembra uma nota, publicada em um jornal na época, que chamou muito a sua atenção. “Voltando ao teste, quando saiu quem ia fazer o personagem, saiu uma notinha: ‘A atriz que ganhou para interpretar Xica da Silva é uma negra feia, porém exuberante’. E tinha uma foto minha, e eu falei: Gente, estou me achando tão bonita nessa foto. Não é toda hora que a gente se acha bonita, né? Depende do dia. Mas eu estava olhando a foto e: Nossa, mas estou bonita aqui, que história é essa, que estão dizendo que sou feia? (risos). Muito louco tudo isso”, aponta.
E continua: “Então, quando realmente ganhei o papel, fiz o filme e ganhei todos os prêmios de cinema da época, foi aquele boom, aquele estouro no mundo, foi um sucesso no mundo. Eu recebia telefonema da China, de tudo quanto era parte do mundo, principalmente de brasileiros, para ter o meu telefone (risos). Principalmente brasileiros, (que falavam): ‘Nossa, está estourando a boca do balão, a fila (do cinema) está indo na esquina. Então, foi realmente um acontecimento na minha vida. Caramba! Estão dizendo que sou bonita agora? Que bom! (risos)”.