Respira fundo, Brasil, porque a indústria musical acaba de entrar numa zona cinzenta que não tem manual. “Sina de Ofélia” não é single, não é feat, não é lançamento surpresa e muito menos estratégia de marketing. É um Frankenstein pop criado por fãs com inteligência artificial. E mesmo assim, virou hit.
A faixa, que circula como se fosse novidade quentíssima de Luísa Sonza com Dilsinho, é na verdade uma versão em português feita por IA a partir de uma música recente da Taylor Swift. Vozes clonadas, arranjo adaptado, letra traduzida e pronto. O algoritmo fez o resto. TikTok explodiu, streaming engoliu e o público acreditou.
E aqui está o pulo da perua.
Muita gente achou, de verdade, que era lançamento oficial. Teve cobrança por divulgação, pedido de clipe, gente procurando nas plataformas como se tivesse perdido o drop. O fã médio foi enganado sem perceber. Não por maldade, mas por excesso de tecnologia e falta de freio.
Nos bastidores, a conversa é outra. A gravadora de Taylor Swift não achou graça nenhuma. Para eles, “Sina de Ofélia” é obra derivada não autorizada, construída em cima de uma música protegida, com uso indevido de melodia, estrutura e conceito. Resultado. Derrubadas começaram. Vídeos somem. Áudios caem. Links quebram. O hit fantasma começa a evaporar.
Luísa Sonza e Dilsinho?
Não lançaram nada. Não gravaram nada. Não autorizaram nada. No máximo, reagiram com bom humor ao meme que tomou conta da internet. Às vezes, rir é melhor do que brigar com um fandom inteiro munido de IA.
Mas o estrago está feito.
“Sina de Ofélia” escancara um dilema novo e sério. Onde termina a brincadeira de fã e onde começa a violação de direitos autorais e de imagem? Quando uma música fake entra em paradas, gera engajamento e confusão, ela deixa de ser só experimento.
É o pop vivendo sua fase mais esquizofrênica.
Hits que não existem. Artistas que não cantaram. Sucessos que ninguém assinou. Tudo embalado por inteligência artificial e servido como verdade.