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Kátia Flávia
Kátia Flávia

Se até Marcelo de Carvalho implora socorro, é porque a Anatel transformou o Brasil no inferno das ligações-robô

O dono da RedeTV perde a paciência com o bombardeio telefônico que domina o país, enquanto operadoras e bancos seguem disparando chamadas como metralhadora.

Kátia Flávia

05/12/2025 14h08

O dono da RedeTV perde a paciência com o bombardeio telefônico que domina o país, enquanto operadoras e bancos seguem disparando chamadas como metralhadora.

A casa estava quieta, mas meu celular não. Tocava, vibrava, apitava, despertava até espírito ancestral. Era sempre o mesmo drama. Número estranho, número repetido, número ressuscitado do dia anterior. E eu, enlouquecida, já atendia dizendo: alô, quem é o robô da vez?

No meio desse pandemônio telefônico, entre uma ligação zumbi e outra, ela abre o X para respirar um pouco e lá está ele: Marcelo de Carvalho, dono da RedeTV, gritando virtualmente que também não aguenta mais ser perseguido por ligações automáticas.

Eu quase aplaudi. Finalmente alguém do tamanho dele dizendo em voz alta o que o Brasil inteiro murmura entre dentes. Era como se Marcelo dissesse: estamos juntos nessa penitência, meu povo.

Foi aí que decidi. Se até o homem que enfrenta plateia, política e concorrência diária está pedindo socorro, então é hora de transformar essa indignação em notícia. Até porque, se existe um flagelo capaz de unir o país, é o toque ensandecido das ligações-robô que tiram a paz até de quem já perdeu a paciência há muito tempo.

Foto: Reprodução

O Brasil vive um apocalipse telefônico. É ligação que chega antes do café, durante o almoço, no meio da reunião, no banho, no silêncio sagrado da madrugada. E agora o caos ganhou um porta-voz de peso: Marcelo de Carvalho, um dos sócios da RedeTV, que explodiu nas redes pedindo que Anatel, Procon e até o Celsinho Russomanno venham de jet ski resolver a tormenta.

Quando um empresário acostumado a debater política ao vivo, negociar programação e atravessar tempestades de audiência entra no X ( antigo Twitter) para berrar que não aguenta mais as ligações de robô, a situação passou do limite. Ele publicou a lista dos números que ligaram sem parar. Era quase um desfile de horrores com DDD 011, todos insistentes como vendedor de colchão em liquidação eterna.

A verdade é que a Anatel já conseguiu uma façanha involuntária. Acabou com a instituição do telefonema no Brasil. Ligar virou um esporte radical, daqueles que você pratica só se estiver emocionalmente forte. Porque, na dúvida, é sempre um robô querendo te oferecer cartão, empréstimo, renegociação, seguro, upgrade, venda cruzada, benção e talvez até um namorado, se vacilar.

O brasileiro virou refém do toque do celular. Se deixar o aparelho longe, perde uma ligação importante. Se atender, cai num looping de ofertas que ninguém pediu. E quando tenta bloquear um número, surgem oito clones no minuto seguinte, como se as empresas tivessem um viveiro de telefones geneticamente modificados para atormentar a população.

O mais absurdo é que existe lei. Existe regra. Existe cadastro para barrar chamadas abusivas. O que não existe é fiscalização real. A Anatel virou aquela tia simpática que promete colocar ordem na casa, mas deixa as crianças correndo com a tesoura enquanto finge que está tudo bem.

Enquanto isso, operadoras e bancos seguem disparando centenas de chamadas automáticas por dia, impunes, elétricas, frenéticas, transformando o telefone num instrumento de tortura emocional.

.O país virou alvo de ligações-zumbi que não morrem, não cansam e não se tocam de que ninguém quer falar com elas.

O Brasil precisa de uma faxina telefônica urgente. Um basta. Um exorcismo. Uma limpeza espiritual com direito a sal grosso e portaria federal. Porque, do jeito que está, cada toque do celular vem com aviso embutido: prepare-se, minha filha, que vem tormenta.

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