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Kátia Flávia
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Quando a Disney surpreende: por que cozinheiros no Magic Kingdom não usam touca e o que isso revela sobre segurança alimentar no Brasil e nos EUA

O perito judicial Edgar Bull relata um choque de realidade nos restaurantes da Disney e levanta um debate pouco explorado: as diferenças culturais e normativas na proteção à saúde do consumidor e do trabalhador.

Kátia Flávia

27/10/2025 16h30

O perito judicial Edgar Bull relata um choque de realidade nos restaurantes da Disney e levanta um debate pouco explorado: as diferenças culturais e normativas na proteção à saúde do consumidor e do trabalhador.

Durante uma viagem ao Magic Kingdom, parque mais famoso da Disney, o professor, especialista em higiene ocupacional, especialista em Segurança do Trabalho e perito assistente técnico, Edgar Bull, observou algo que lhe chamou a atenção: funcionários da cozinha trabalhando sem touca. A cena, comum nos Estados Unidos, parece improvável no Brasil, onde normas rígidas exigem o uso de touca, luvas e aventais para todos que manipulam alimentos.
 

“Foi estranho ver isso acontecendo em um dos lugares mais visitados do mundo. No Brasil, isso geraria autuação imediata, porque todos que manipulam alimentos precisam usar touca. Lá, simplesmente não é obrigatório”, relata Edgar.

Foto: Reprodução

Brasil x EUA: duas culturas de prevenção

A surpresa de Edgar expõe um contraste importante. No Brasil, a ANVISA estabelece normas claras para manipulação de alimentos: uso de toucas ou redes de cabelo, luvas descartáveis em determinados processos e higienização constante. A fiscalização é feita por vigilâncias sanitárias locais, que têm poder de interdição em caso de descumprimento.
 

Já nos Estados Unidos, as regras variam de estado para estado e podem ser menos rigorosas. Em muitos casos, não há obrigatoriedade de touca para todos os manipuladores, e a higiene está mais ligada ao processo de preparo do que ao vestuário em si.
 

Essa diferença gera uma reflexão: quem está realmente mais protegido, o consumidor americano, que confia em protocolos menos visíveis, ou o brasileiro, que se apoia em exigências formais mais rígidas?
 

Não é só sobre o consumidor: é também sobre o trabalhador

Para Edgar Bull, a questão vai além da segurança alimentar. O uso de touca também é um elemento de proteção ocupacional: evita que cabelos se enrosquem em equipamentos, reduz risco de queimaduras por contato acidental e reforça o padrão de higiene no ambiente de trabalho.
 

“O detalhe da touca mostra como, no Brasil, a segurança do trabalho e a segurança alimentar caminham juntas. Lá, a ênfase parece estar em outros pontos do processo, mas essa ausência pode aumentar riscos para o próprio trabalhador”, explica o perito.
 

O papel da perícia técnica na tradução dessas diferenças

A cena na Disney serve de exemplo para empresas multinacionais que operam em diferentes países. Muitas vezes, aquilo que é aceitável em um lugar pode ser motivo de multa ou processo em outro.
 

É nesse ponto que a perícia técnica se torna estratégica. Um perito especializado avalia os riscos, identifica as exigências normativas locais e orienta empresas a se adequarem, evitando autuações e processos trabalhistas.

“Empresas internacionais que chegam ao Brasil não podem simplesmente reproduzir seus padrões de fora. Aqui, as normas são diferentes e, muitas vezes, mais rigorosas. O trabalho da perícia é justamente traduzir essas diferenças para garantir que a operação esteja segura e legalmente protegida”, destaca Edgar Bull.
 

A ausência de toucas na Disney pode parecer um detalhe, mas revela algo maior: a forma como diferentes sociedades enxergam a prevenção. Enquanto nos Estados Unidos prevalece a confiança em processos internos, no Brasil a aposta é na visibilidade de medidas concretas, como equipamentos e uniformes.
 

A experiência de Edgar mostra que até mesmo símbolos globais de excelência, como a Disney, podem servir de espelho para discutir nossas próprias práticas de segurança e lembrar que, quando o assunto é saúde do consumidor e do trabalhador, a prevenção nunca é demais.

Edgar Bull – Engenheiro e Perito Judicial Especialista em Segurança do Trabalho

Edgar Bull é Engenheiro Civil formado pela USP, pós-graduado em Engenharia de Segurança do Trabalho e Higiene Ocupacional e bacharel em Direito. Com uma trajetória sólida e ampla experiência em perícias judiciais, ele atua como perito nos Tribunais Regionais do Trabalho da 2ª e 15ª regiões, além de ser membro ativo da Comissão de Perícias da OAB e professor de pós-graduação do SENAC. Responsável técnico pela EST da METRA (Medicina e Assessoria em Segurança do Trabalho), Edgar é referência em segurança do trabalho e avaliação de riscos, com um olhar especializado para a proteção dos trabalhadores e a conformidade legal das empresas.

METRA-MEDICINA, ENGENHARIA E ASSESSORIA EM SEGURANCA DO TRABALHO

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