Uma pulseira aparentemente discreta, com contas nas cores verde e marrom, tem chamado atenção nas últimas aparições públicas da influenciadora e apresentadora Juju Salimeni. Vista em eventos, fotos e redes sociais, a peça passou a gerar comentários, curiosidade e até críticas por parte de seguidores.
O que poderia parecer um detalhe estético logo se revelou algo mais profundo: a pulseira está diretamente ligada à espiritualidade de Juju, que há anos se declara adepta do Candomblé, religião de matriz africana.
Ao longo dos últimos anos, Juju Salimeni não apenas assumiu publicamente sua religião, como também tem se posicionado de forma firme contra a intolerância religiosa, usando suas redes sociais para esclarecer dúvidas, rebater ataques e reafirmar sua identidade espiritual.

Em 2023, Juju usou os Stories do Instagram para fazer um desabafo contundente após sofrer ataques e perceber uma queda expressiva em seu número de seguidores: “Na verdade, me livrei. Não faço questão de ter pessoas intolerantes me seguindo. Se um dia essas pessoas quiserem realmente pesquisar, debater para entender…”
Ela também destacou a raiz histórica do preconceito: “A demonização de figuras foi construída na chegada do colonizador português à África. Tantos séculos se passaram, mas há ainda pessoas com esses conceitos.”
Mesmo diante das ofensas, afirmou que seguiria explicando sua fé: “(Vou) procurar explicar também sobre a religião para desmistificar aqueles pensamentos ignorantes. Recebi muito apoio, mas também muitos ataques. Eram tantos que fica difícil mensurar. Mas estou atenta e vou denunciar novos ataques. Intolerância religiosa é crime.”

Em outro momento, relembrou uma situação grave de violência simbólica: “Em um caso específico, fiquei até doente porque fui muito ofendida. Infelizmente, não existia essa lei de proteção e nada aconteceu. Espero que essas pessoas tenham se arrependido.”
Ainda em 2023, a influenciadora respondeu, de forma respeitosa, a uma tentativa de conversão feita por uma internauta que sugeriu que ela “se salvasse” ao se tornar evangélica: “Não, amor. Não penso em me tornar evangélica porque sou candomblecista. Jesus me ama, ama você e ama a todos, independentemente da religião. Ninguém precisa ser evangélico para ser salvo. O que salva é o amor, respeito, caridade e bondade.”
A resposta viralizou e foi amplamente elogiada por sua postura firme e conciliadora.
Durante o Carnaval de 2025, Juju — rainha de bateria da escola Barroca Zona Sul — voltou a falar publicamente sobre o preconceito enfrentado por quem professa religiões de matriz africana. Em uma sequência de stories no Instagram, ela expressou indignação: “Isso sempre existiu, mas agora está insuportável. Vejo uma multidão de ataques e ofensas àquilo que está sendo mostrado, amaldiçoando… quando o Carnaval foi diferente? Só agora perceberam que é focado em religiões de matrizes afro, em ancestralidade, que foca em homenagear essa história, os orixás?”
E concluiu com um recado direto aos críticos:”O povo xinga a gente de macumbeiro e acha que está ofendendo, mas não sabe nem o que está falando. Como diz Milton Cunha, é a festa da macumba, é a festa do preto. Se você não gosta de nada disso, o que está fazendo ali? Se você não entende, o que está fazendo ali opinando? Por favor, respeite a história da festa, as pessoas que estão ali e o que você não compreende.”
Afinal, o que representa a pulseira de Juju?
A pulseira de contas verde e marrom que Juju passou a usar com frequência virou tema de debate público. Para esclarecer o que representa o acessório, consultamos uma das maiores autoridades espirituais do país: Pai Olavo, sacerdote consagrado como Òlùwò Adésòólá Atinúkólá.
Quem é Pai Olavo? Babalawo responsável por falar abertamente do significado da pulseira de Juju
Natural de Minas Gerais, com atuação em São Paulo e Belo Horizonte, Pai Olavo é terapeuta, psicanalista, empresário e sacerdote de Ifá. Em 2023, ele se tornou o primeiro Líṣà Ògbóni oficialmente reconhecido no Brasil por autoridades da tradição iorubá, um marco histórico para a espiritualidade africana no país.
Pai Olavo é também o criador do projeto “Café com Exu”, que promove reflexões sobre espiritualidade, ética e comportamento, e coordena formações e estudos voltados ao fortalecimento das religiões de matriz africana. “Chegou a hora de o brasileiro saber que ele também pode. É tempo de reconquista.”
Mais do que um acessório: um símbolo de fé e ancestralidade
Com base na tradição iorubá, o sacerdote explicou que a pulseira usada por Juju está ligada à espiritualidade iorubá e ao pacto realizado ao se iniciar dentro do culto de Orunmilá e Ifá. Essa pulseira não apenas representa, mas também identifica aqueles que são iniciados nesse culto, e carrega um significado ainda mais profundo, ela indica, inclusive, para a própria morte, quem são aqueles que não devem ser levados antes do tempo, ou seja, aqueles que devem viver o máximo possível de tempo determinado pelo destino.
Segundo o sacerdote, Orunmilá é conhecido dentro da cultura iorubá como Elérìí Ipin, que significa “a testemunha da criação”, é considerado o ser escolhido e eleito pelo próprio Deus para testemunhar toda a criação do universo, do início ao fim, sendo também a autoridade responsável por garantir que o destino se cumpra. Em outras palavras, Orunmilá é ao mesmo tempo o próprio destino e aquele que assegura sua execução.
“Dessa forma, a pulseira não está apenas ligada à espiritualidade, mas também ao pacto sagrado que simboliza a ligação com Orunmilá Ifá e o compromisso com o próprio destino. Mais do que um gesto de afirmação religiosa em um país onde a intolerância ainda é frequente, o uso do acessório também reforça, de forma íntima e pessoal, a fé e a ancestralidade de quem o carrega.” Concluiu Pai Olavo.