Amores, aqui entre nós, a coisa já desandou. Minhas amigas de Cosme Velho, que tinham passagem comprada, look separado e champanhe gelando para passar o Réveillon em Porto de Galinhas, começaram a cancelar uma por uma. E não é drama, não. É instinto de sobrevivência. Depois do que veio à tona, ninguém quer correr o risco de virar estatística, vídeo viral ou manchete policial. Podem até dizer que é exagero, mas quando o destino passa a inspirar medo, o turista faz o que sabe melhor: vai embora.
E foi exatamente isso que aconteceu. Teve quem mudou para São Luís do Maranhão, teve quem correu para Salvador e teve até quem preferiu atravessar a fronteira e brindar no Uruguai. Porque uma coisa é curtir férias, outra bem diferente é se sentir refém de desorganização, cobrança abusiva e tensão na areia. Ninguém viaja para discutir preço, muito menos para sair machucado de um lugar que se vende como paraíso.
Porto de Galinhas sempre foi vendida como o paraíso brasileiro. Água morna, coqueiro no lugar certo, selfie perfeita e promessa de tranquilidade. Mas bastou um vídeo circular nas redes para a fantasia cair por terra. O que apareceu ali não foi só uma agressão. Foi um retrato cru de um destino que perdeu o controle da própria orla.

Dois empresários de Mato Grosso foram espancados em plena praia após questionarem o valor cobrado por cadeiras e guarda-sol. A discussão virou pancadaria. Houve chutes, socos, empurrões. Tudo à vista de turistas, famílias e crianças. E o pior: sem qualquer ação imediata de autoridade no local.
Não foi um mal-entendido. Foi um colapso.
O que o vídeo escancarou
Os relatos indicam que o conflito começou por algo corriqueiro em Porto de Galinhas: preço sem tabela, cobrança no grito e ausência total de padronização. O turista chega achando que vai pagar X, senta, consome, e depois descobre que o valor é outro. Quando questiona, o clima azeda. Neste caso, azedou de vez.
As vítimas afirmam que foram cercadas por vários barraqueiros, agredidas e depois deixadas à própria sorte. Sem ambulância. Sem apoio. Sem orientação. Tiveram que buscar atendimento por conta própria.
Isso, em um dos destinos mais caros e visitados do Nordeste. O problema não é o episódio. É o sistema.
Quem conhece Porto de Galinhas sabe que o problema não nasceu agora. Há anos existe um jogo de empurra entre comerciantes, associações, prefeitura e órgãos de fiscalização.
A faixa de areia virou uma espécie de território sem lei clara:
– preços flutuantes
– ausência de tabela visível
– disputa por espaço
– fiscalização irregular
– turista sem saber a quem recorrer
O resultado é esse. Quando dá problema, ninguém assume. E quem paga a conta é o visitante.
O efeito dominó no turismo
O vídeo rodou o Brasil. Saiu em portais nacionais. Viralizou nas redes. E isso, para o turismo, é devastador.
Especialistas em turismo são unânimes: a pior propaganda é a que nasce da experiência real do turista. Uma agressão gravada vale mais do que mil campanhas publicitárias.
O impacto é direto:
– queda na confiança do destino
– aumento de cancelamentos
– pressão sobre hotéis e receptivos
– desgaste da imagem internacional
E não adianta maquiar. A internet não esquece.
Cadê o poder público?
A pergunta que ecoa é simples: quem controla Porto de Galinhas?
Porque se uma briga dessas acontece em plena alta temporada, à luz do dia, com dezenas de pessoas ao redor, e ninguém intervém, algo está muito errado.
O episódio já virou inquérito. Há pressão sobre a Prefeitura de Ipojuca e sobre o governo estadual. Mas o estrago já está feito.
E aqui vai o ponto mais sensível: não se trata de criminalizar trabalhadores, mas de expor a ausência de gestão. Quando não há regra clara, o conflito vira rotina. E quando vira rotina, alguém acaba machucado.
O alerta está dado
Porto de Galinhas continua linda. Mas beleza não segura reputação sozinha. Destino turístico precisa de organização, fiscalização e respeito ao visitante.
Sem isso, o paraíso vira problema. E o problema, quando vira manchete, afasta turista, afunda imagem e cobra um preço alto.