Bocas tapadas, mãos acorrentadas e… marmitas. Não, não é cena de BBB, nem de novela mexicana com protesto improvisado. Foi a vida real nos plenários da Câmara e do Senado nesta semana. Parlamentares da oposição resolveram ocupar as mesas diretoras em protesto contra a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). No pacote, teve oração, almoço no chão e performance digna de reality show político.
Mas o que leva representantes do povo a encenar uma espécie de “peça de teatro” em pleno coração do Legislativo?
O inconsciente coletivo em ação, ou como diria Jung, “o surto vem”
A psicóloga e especialista em análise comportamental Rosimar Ferraz explica que, quando a pressão aperta, entra em cena o tal inconsciente coletivo. Em bom português: as pessoas repetem padrões ancestrais sem nem perceber. É quase como um “modo automático” que aciona heróis, mártires e, por que não, mártires-heróis de si mesmos.

Carl Gustav Jung já dizia que o homem é fruto do meio. Coloque esse homem sob holofotes, câmeras e redes sociais, e ele ativa arquétipos: o salvador da pátria, o sábio injustiçado, a mãe protetora… e o guerreiro de adesivo na boca.
Henri Tajfel e Curtis Levis completam o enredo: quando a ligação com um grupo ou líder é intensa, a pessoa pode tomar decisões totalmente impulsivas, tipo acorrentar as mãos no Parlamento, sem pensar muito nas consequências.
E Jacob Levy Moreno, criador do psicodrama, ajudaria a entender o clima: todo mundo no palco, interpretando papéis sociais, reforçando a identidade coletiva, como se estivessem protagonizando um ato libertador.

Quando a crença vira combustível para o barraco
Segundo Rosimar, quando a crença de um parlamentar é ameaçada, ele sente como se fosse um ataque pessoal. O resultado? Raiva, indignação e aquele senso de justiça instantâneo, tudo embalado por um cérebro que, por alguns minutos, deixa o bom senso na gaveta.
Essa mistura, explica a psicóloga, cria uma sensação de urgência, de “é agora ou nunca”. Aí vem a polarização, o contágio emocional e… pronto: as regras democráticas viram apenas sugestões.
Rosimar até deixa um recado, que poderia servir como legenda para a cena: pessoas públicas precisam trabalhar sua regulação emocional. Ou seja, menos performance, mais equilíbrio e diálogo, mas aí, claro, não teria tanto material para as redes sociais.