Vamos aos fatos antes do surto coletivo: o pai do Neymar não comprou “só” uma marca, ele assinou o cheque pesado para levar o combo premium Pelé. A NR Sports, empresa da família Neymar especializada em gestão de imagem e branding de atleta top de linha, fechou a aquisição dos direitos da marca Pelé num negócio estimado em milhões de dólares, com cara e cheiro de operação global de longo prazo.
E não é qualquer pacotinho, não. O acordo inclui uso do nome e da imagem, licenciamento para produtos, exploração de acervos históricos e outras propriedades comerciais ligadas ao legado do Rei , o famoso “do chaveiro ao estádio temático”: tudo que usar Pelé de forma oficial passa a ter que bater ponto na mesa da NR Sports.
A jogada ainda tem uma cereja simbólica: o anúncio foi costurado para coincidir com a data do milésimo gol de Pelé, aquele momento que mesmo quem não gosta de futebol sabe descrever. É o tipo de detalhe que marqueteiro imprime em quadro e pendura na agência.
Até outro dia, quem segurava essa coroa era uma empresa estrangeira que trabalhava a marca muito colada na presença física de Pelé em eventos. Com a morte do ídolo, no fim de 2022, esse modelo simplesmente murchou: poucos projetos novos, pouca ativação, muito valor emocional parado em prateleira de arquivo morto.

Foi aí que entrou a família Neymar com olhar de planilha na mão: marca icônica, sub explorada, contexto perfeito para reposicionamento global. Na prática, o que a NR Sports está comprando é a chance de transformar nostalgia em fluxo de caixa, com uma estratégia que vai de licenciados premium a conteúdo original, passando por experiências imersivas e projetos B2B com grandes marcas.
A NR Sports é a casa que cuida da imagem de Neymar Jr. desde sempre: planeja comunicação, define posicionamento, negocia contratos gigantes e coordena ativações com marcas globais. É a estrutura que fez do Menino Ney uma marca internacional com linha de produtos, documentários, collabs e campanhas em múltiplos mercados.
Ou seja: não é “pai de jogador” brincando de empresário; é uma operação profissional de branding de atleta, com pesquisa, monitoramento, gestão de crise e planejamento de carreira como produto.
Agora, essa expertise em gestão de imagem entra a serviço de um patrimônio cultural do futebol. O raciocínio é simples e finíssimo: se funcionou com um ídolo em atividade na era digital, a lógica pode ser adaptada para um ícone eterno, usando linguagem moderna, narrativa global e distribuição multiplataforma.
Nos bastidores, essa aproximação vem sendo cozinhada em fogo baixo faz tempo. Desde o retorno de Neymar ao Santos, a NR Sports passou a flertar com a ideia de “Príncipe” em referência direta ao Rei , roteiro pronto para qualquer campanha minimamente esperta.
Além da narrativa, teve gesto concreto: a empresa bancou a reforma completa do camarote que era de Pelé na Vila Belmiro, novo banheiro, cadeiras, vidro, ar-condicionado, tudo padrão suíte executiva, hoje usado por familiares, tanto do Rei quanto do craque. Não é só Photoshop, é tijolo, porcelanato e ar split.
Ou seja, não é só PowerPoint bonito. Há uma costura simbólica forte entre legado, clube e estrela atual, o tipo de coisa que departamento de branding enxerga e já vê diante dos olhos uma trilogia de campanhas e um licenciamento temático por continente.

Do ponto de vista técnico, a operação reposiciona a marca Pelé como um asset central num ecossistema de gestão de ídolos de futebol. Em vez de contratos pontuais e presenciais, a tendência agora é um modelo de negócios baseado em:
• Licenciamento estruturado, linha global de produtos: camisas retrô, sneakers, collabs com moda e streetwear, perfume, colecionáveis, games, experiências VIP em estádios e eventos. Tudo com grade de categorias, territórios e faixas de preço bem definida.
• Conteúdo proprietário, documentários, séries especiais, podcasts, canais digitais oficiais e ativações em plataformas de streaming, organizados num “universo Pelé” com manual de tom, estética e narrativa.
• Gestão de acervo, digitalização e monetização de imagens, gols históricos, arquivos e memorabilia, com curadoria profissional e possíveis parcerias com museus, exposições itinerantes e plataformas de colecionáveis.
• Proteção de marca, reforço em registro internacional, combate à pirataria e criação de um brand book rígido definindo onde o nome do Rei entra e, principalmente, onde não entra (adeus, uso tosco de foto em site suspeito).
Amarrando tudo isso, vem um desenho de governança que deve incluir a família de Pelé, a NR Sports e o Santos como atores centrais, cada um com sua fatia e seu papel – do guardião emocional ao operador comercial.

O Santos não entra nessa história só como coadjuvante simpático na foto. Nos bastidores, o nome Pelé é tratado como peça-chave em qualquer projeto de modernização do clube – inclusive em discussões sobre SAF e expansão internacional.
A equação é poderosa:
• Clube com história e base de fãs espalhada pelo mundo;
• Marca global (Pelé) como selo de autenticidade;
• Ídolo em atividade hiper-midiático (Neymar) como vitrine contemporânea;
• Veículo de expansão – academias, escolinhas, franquias internacionais e times satélites em mercados estratégicos.
Tudo embalado em storytelling de “clube que revelou o maior da história e o craque da geração”, perfeito para pitch a investidor estrangeiro que coleciona camisas de futebol como obra de arte.
No meio desse tabuleiro cheio de Excel, tem o lado deliciosamente novelesco: a família de Pelé sempre quis ver o legado tratado com mais cuidado, as marcas vivem atrás de narrativas fortes e o mercado de entretenimento está faminto por histórias verdadeiras embaladas em formato de série, doc, experiência ao vivo.
E, convenhamos, a cena é forte: o maior nome da história do futebol sendo gerido pela estrutura que cuida da imagem do craque mais midiático do século. Para o mercado, é quase um crossover de gerações; para as marcas, é o tipo de combo que faz diretor de marketing esfregar as mãos.
No final, o negócio não é só “pai do Neymar compra marca do Pelé”. É a transformação do legado do Rei em plataforma de negócios de longo prazo, com: governança, arquitetura de marca, estratégia global de ativação e aquele toque brasileiro de drama, nostalgia e espetáculo.
A coroa continua a mesma, dourada, pesada e incontestável. A diferença é que, a partir de agora, ela passa a ser administrada como ativo de alto desempenho, com planilha em dólar, comitê de branding, contrato internacional… e um futuro inteiro de novos torcedores descobrindo que, antes de qualquer hype, já existia um tal de Pelé mandando no mundo da bola.