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Kátia Flávia
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Médica encontra pelo de gato enrolado no fio do DIU após diagnóstico errado

O caso atendido pela Dra. Letícia Eberlin expõe o que acontece quando se receita no escuro e ninguém se dá ao trabalho de examinar.

Kátia Flávia

14/12/2025 9h00

O caso atendido pela Dra. Letícia Eberlin expõe o que acontece quando se receita no escuro e ninguém se dá ao trabalho de examinar.

Neste exato momento, estou trocando todos os lençóis Frette e Pratesi, egípcios de mil fios, porque depois dessa história o cérebro entrou em modo alerta máximo , a paciente chegou como tantas outras chegam, cansada, constrangida e já medicada. Queixa de mau cheiro no canal vaginal, diagnóstico carimbado de vaginose bacteriana e uma receita entregue com a maior naturalidade do mundo. Sem exame. Sem espéculo. Sem olhar. Tomou o remédio, não melhorou e, graças a Deus, desconfiou.

Foi em uma consulta com a Dra. Letícia Eberlin que a medicina resolveu reaparecer. Exame físico, espéculo, colo do útero à vista. O básico, esse detalhe quase esquecido por alguns atendimentos apressados. E ali estava o motivo de todo o incômodo, sem metáfora e sem rodeio. Pelos de gato, muitos, literalmente enrolados no fio do DIU.

Sim, pelos. De gato. E antes que alguém levante o dedo acusador, a já vou antecipando . A paciente não era suja, não era relaxada, não era descuidada. Tinha gato, o parceiro também. Cuidava da higiene, lavava roupas separadas, fazia tudo “como manda o figurino”. O corpo humano, porém, não segue manual moralista.

Durante a relação sexual, pelos que ficam na cama podem ser conduzidos ao canal vaginal junto com o pênis do parceiro. A cena não é chocante, é biológica. O problema começa quando esse material encontra o fio do DIU, se enrola, permanece ali e passa a causar odor, inflamação e um desequilíbrio importante da microbiota vaginal. Não é mistério, é física básica com anatomia.

Fiquei passada, mas anota em letras garrafais. Não é um caso raro. A própria Dra. Letícia relata que já viu situações semelhantes com cabelo da própria paciente, cabelo de moradores da casa, fios que ninguém imagina, mas que aparecem quando alguém resolve olhar. O incomum não é o pelo. O incomum é ainda existir diagnóstico sem exame.

O erro maior não estava no organismo da paciente, estava na pressa. Ultrassom não substitui exame ginecológico. Receita não substitui avaliação clínica. Tratar sintoma sem olhar causa vira loteria médica.

Diante do achado, a paciente decidiu retirar o DIU. Não havia condição de manter o dispositivo naquele cenário. A infecção vaginal agora existente será tratada corretamente e, depois de tudo resolvido, um novo DIU será colocado com segurança.

O alerta é direto, quase gritante. Quem usa DIU precisa ter o fio avaliado pelo menos uma vez por ano em exame ginecológico. E qualquer sintoma exige consulta de verdade, com olhar, toque e presença.

A paciente não falhou. O corpo não falhou. Quem falhou foi o atendimento que pulou etapas.
Medicina não se faz por suposição. Se faz examinando.

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