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Kátia Flávia
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Leo Lins faz piada com câncer de Preta Gil

Kátia Flávia

27/06/2025 7h31

Condenado por discurso discriminatório, comediante volta aos palcos debochando da Justiça e de tudo o que deveria ser limite

Condenado por discurso discriminatório, comediante volta aos palcos debochando da Justiça e de tudo o que deveria ser limite

É sério isso? Porque parece enredo de distopia mal escrita. Leo Lins, condenado a mais de oito anos de prisão por espalhar discurso discriminatório, reapareceu nos palcos em São Paulo com um show batizado (acredite se quiser) de “Enterrado Vivo”, e não poupou absolutamente nada. Nem mesmo o câncer de Preta Gil.

O humorista, que já tem histórico de piadas ofensivas contra minorias, decidiu reviver uma treta antiga com a cantora, ironizando o processo movido por ela em 2019, e foi além do aceitável: “A Preta Gil veio me processar por causa de uma piada de anos atrás. Três meses depois que chegou o processo, ela apareceu com câncer. Bom, parece que Deus tem um favorito. Acho que ele gostou da piada. E pelo menos ela vai emagrecer.”

Sim, ele disse isso no palco. Em voz alta. Com o teatro cheio.

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A apresentação rolou no Teatro Gazeta, na Avenida Paulista, e reuniu cerca de 720 pessoas, todas com os celulares lacrados em sacos pretos, sob ordem dos advogados do comediante, como se esconder o conteúdo das piadas fosse a solução.

Durante 70 minutos de “espetáculo”, Leo Lins atirou para todos os lados: negros, indígenas, pessoas com deficiência, pessoas soropositivas, obesos, vítimas de abuso e até piadas com nazismo. Nada tem limite, e ele ainda zomba da própria condenação como se fosse uma medalha: “Se você cometeu um homicídio sendo réu primário, consegue pegar sabe quantos anos? Seis anos. Eu peguei oito. A mensagem da Justiça é: ‘Se você é preconceituoso, não faça piada, mate!’ Vai sair mais cedo da cadeia.”

Indignação pouca é bobagem. Leo ainda insiste na velha desculpa de que quem fala no palco é um “personagem”, como se isso anulasse a responsabilidade do que está sendo dito. E termina com mais uma provocação: “Quanto mais tentam me calar, mais ouvido eu sou. Até surdo já me escuta.”

O que mais precisa acontecer para que piadas deixem de ser escudo para crueldade? Que sociedade é essa onde alguém condenado por preconceito volta ao palco tripudiando de uma mulher em tratamento oncológico e é aplaudido? A Justiça fez sua parte. Mas, honestamente? A plateia também precisa começar a fazer a dela.

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