Enquanto muita gente resolveu gritar, fazer vídeo, bater porta e transformar divergência política em espetáculo, Leila Cordeiro sentou, escreveu e fez jornalismo. Daquele que não levanta a voz, mas levanta o nível.
Em poucas linhas, a jornalista colocou ordem numa confusão que Zezé di Camargo resolveu espalhar pelas redes. Leila não discute gosto musical, não questiona carreira, não ataca pessoa. Ela faz o que sabe. Contextualiza, explica e lembra como a democracia funciona de verdade.
Zezé disse que vai pedir ao SBT a retirada de seu especial de Natal porque não gostou da presença de Lula, Janja, Alckmin e outras autoridades na inauguração do SBT News. Leila lembra o óbvio que anda em falta. Concessão de TV é institucional, não ideológica. Convidar a alta cúpula do Estado não é escolha partidária. É regra do jogo democrático.
E aqui vem o ponto que separa quem conhece televisão de quem só passa por ela.

Leila trabalhou no SBT entre 1993 e 1997, conviveu com Silvio Santos vivo, presente e no comando, num ambiente plural, sem alinhamento partidário, sem patrulha ideológica, sem chilique de bastidor. E afirma com a tranquilidade de quem viu. Silvio convidaria qualquer governo legitimamente eleito.
Enquanto Zezé invoca um Silvio imaginário para justificar seu desconforto, Leila traz o Silvio real. O empresário que entendia o Brasil, o público e o papel social da televisão aberta.
Ela também faz a distinção que muita gente finge não entender. Zezé tem todo o direito de se posicionar politicamente. O que não faz sentido é pedir a retirada de um programa porque a emissora cumpriu seu papel institucional. Isso não é posicionamento. É confusão de papel.
Leila escreve com elegância, mas não passa pano. Lamenta que um artista com trajetória longa se deixe contaminar por uma visão estreita e lembra do básico. Antes dos interesses pessoais, existe o público. Sempre existiu.

E fecha com Milton Nascimento, porque quem entende de Brasil sabe onde buscar referência. Artista precisa ir onde o povo está. Não onde o ego manda.
A Kátia Flávia aplaude de pé, com direito a batom vermelho e olhar afiado.
Porque em tempos de gritaria vazia, Leila Cordeiro fez o mais revolucionário de tudo. Pensou, escreveu e lembrou que democracia não combina com birra. Combina com maturidade.