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Kátia Flávia
Kátia Flávia

Juventudes periféricas do DF vivem em regiões com até R$ 17 de orçamento por habitante/ano, aponta Inesc

Nova nota técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos mostra que áreas com maior concentração de jovens recebem os menores investimentos públicos per capita no Distrito Federal

Kátia Flávia

10/12/2025 13h30

Atualizada 11/12/2025 12h12

arthur menescal estrutural

Desigualdade gritante: recurso autorizado em 2025 para o Plano Piloto foi 7,5 vezes maior que o autorizado para o Sol Nascente/Pôr do Sol, aponta Inesc. Foto: Arthur Menescal

As Administrações Regionais do Distrito Federal com maior concentração de jovens receberam, em 2025, os menores valores de orçamento por habitante, revela uma nova nota técnica do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O caso mais extremo é a do Sol Nascente/Pôr do Sol, terceira região administrativa com maior proporção de crianças e adolescentes, que teve o menor investimento per capita de todo o DF: apenas R$ 17,75 por morador. A falta de estrutura básica, como creches, ruas asfaltadas e arborizadas, é um dos principais reflexos dessa desigualdade. Em Itapoã e na Estrutural, por exemplo, não há nenhuma creche pública em funcionamento, segundo o levantamento.

A discrepância no investimento per capita que atinge diretamente as juventudes periféricas fica ainda mais evidente quando se compara as regiões do Distrito Federal. Além do Sol Nascente/Pôr do Sol, considerada a segunda maior comunidade urbana do país, aparecem entre os piores valores por morador a Arapoanga (R$ 28,39), Samambaia (R$ 53) e Ceilândia (R$ 54,32), todas áreas populosas, com alta presença de jovens e maior vulnerabilidade social.

Na direção oposta, o Lago Sul, RA com maior renda per capita do DF, está entre as Administrações Regionais que mais receberam recursos por habitante.

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Com menos de 40% das vias arborizadas, Estrutural registra uma das piores taxas de arborização do DF, segundo Inesc. Foto: Wesley Alan

Enquanto isso, nos territórios onde vivem milhares de jovens, faltam escolas e creches. O orçamento de 2025 previu a construção de um Centro de Educação da Primeira Infância (CEPI) no Itapoã, com R$ 445 mil autorizados, e outro na Estrutural, com R$ 99 mil, mas nenhuma das obras foi executada até agora.

Também está prevista a construção de uma escola de ensino médio na Estrutural, com cerca de R$ 2,9 milhões autorizados, igualmente sem execução. Na prática, Itapoã e Estrutural seguem sem nenhuma creche pública em funcionamento.

Para a assessora política do Inesc, Thallita Oliveira, o dinheiro dos tributos arrecadados pelo Governo do Distrito Federal, não retorna de forma prioritária para quem mais precisa. “A decisão de investir menos nas periferias do DF acarreta diversas violações de direitos, com forte impacto na vida e no desenvolvimento de crianças, adolescentes e jovens”, afirma.

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A assessora política do Inesc, Thallita Oliveira. Foto: divulgação

Já nas regiões centrais, os recursos estão voltados para a melhoria da infraestrutura existente. Na Asa Sul, por exemplo, há R$ 398 mil autorizados para a construção de uma quadra coberta no Centro de Ensino Médio (Cem) Setor Leste. No Cruzeiro, R$ 263 mil foram destinados para a construção de uma quadra de badminton no Centro de Ensino Médio Integrado (Cemi).

Ao cruzar as informações orçamentárias com dados extraídos da Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios Ampliada (Pdad 2024), o estudo revela que a falta de recursos reflete diretamente nas condições de vida dos jovens nas cidades, ou seja, as regiões administrativas com menos recursos de manutenção são justamente aquelas com pior infraestrutura urbana. Entre as seis áreas analisadas pelo Inesc, Itapoã, Estrutural, Ceilândia, Cruzeiro, Lago Sul e Plano Piloto, as duas primeiras apresentaram os piores indicadores. Em 2024, apenas 41,6% dos moradores do Itapoã afirmaram viver em ruas arborizadas, percentual que cai para 37,7% na Estrutural. Esta última tem os piores índices em todos os quesitos avaliados, incluindo presença de calçadas (64,3%), ruas asfaltadas (63,2%), e drenagem adequada da água da chuva (49,7%).

Em contraste, o Plano Piloto é a única entre as regiões analisadas que conta com recursos autorizados para reforma de calçadas, além de apresentar os melhores índices de infraestrutura. “Os dados evidenciam como a desigualdade orçamentária impacta diretamente o acesso de crianças e jovens a ambientes urbanos mais seguros e adequados”, atesta Thallita.

Além de trabalho e renda, o estudo analisou o acesso de jovens à cultura, ao lazer, à educação e a outros direitos. O Inesc defende a ampliação urgente de recursos específicos para políticas de juventude, com foco na geração de renda, educação, cultura, saúde mental e proteção social, especialmente nas regiões periféricas do Distrito Federal.

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Thallita atua no Inesc, organização que luta para ter voz nos espaços nacionais e internacionais na discussão de políticas públicas e direitos humanos, sempre de olho no orçamento público. Foto: divulgação

Sobre o Inesc

O Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, não partidária e com sede em Brasília. Há 45 anos, atua politicamente junto a organizações parceiras da sociedade civil e movimentos sociais para ter voz nos espaços nacionais e internacionais na discussão de políticas públicas e direitos humanos, sempre de olho no orçamento público. Saiba mais em: https://inesc.org.br/.

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