Há casos que revelam o país mais do que mil reportagens. O de Carol Lekker é um deles.
Bastou uma frase, uma edição e o impulso de uma timeline em chamas para transformar uma modelo confinada em vilã nacional. O problema é que, quando o tribunal das redes sociais se instala, o devido processo legal costuma ser o primeiro a ser linchado.
O deputado estadual Rafa Zimbaldi, movido por indignação moral e visibilidade política, pediu a prisão preventiva da peoa após uma fala polêmica sobre o enteado, algo que a própria equipe da modelo descreve como “uma conversa descontraída, retirada de contexto e sem qualquer ameaça real”.
A defesa foi além: classificou o pedido como “desproporcional e midiático”, lembrando que “nenhum dos requisitos do Código de Processo Penal se aplica ao caso” e que o pai da criança já confirmou publicamente que o menino está bem e jamais correu risco.
Mas o país parece ter desaprendido a diferença entre “contexto” e “condenação”.
Entre pedidos de expulsão e discursos inflamados de figuras públicas, o episódio virou um retrato da nova histeria digital, onde a urgência de se posicionar é maior que o dever de compreender.
A equipe jurídica de Carol não ficou parada: anunciou medidas legais “para evitar a propagação de informações distorcidas e responsabilizar judicialmente quem fizer acusações sem provas”.
E o recado veio em tom de manifesto:
“O episódio vem sendo tratado de forma desproporcional, caracterizando uma tentativa de perseguição e exposição indevida, e não uma preocupação genuína com o bem-estar da criança.”
Enquanto isso, a Record TV segue em silêncio e Carol, confinada, enfrenta o paredão da opinião pública sozinha, entre cortes de VT e cortes de reputação.
Queridos, o que está em jogo aqui vai muito além de uma peoa e de uma frase mal colocada.
Estamos falando de um país que ainda não sabe equilibrar a emoção das redes com a razão das leis. De um público que exige “justiça imediata”, mas se esquece de que justiça não é espetáculo.
Carol virou símbolo , não da polêmica em si, mas da fragilidade do direito à defesa em tempos de cancelamento em tempo real.
Porque, convenhamos, a nova forca pública se chama viralização, e o novo pelourinho é o trending topic.